Quem está no "Facebook" do empresário Eike Batista, o homem mais rico do
Brasil? Quais são os "amigos comuns" dos dirigentes de Vale, Petrobras e
Embraer? E quem selou o casamento de Sadia com Perdigão?
Com certeza foram os mesmos padrinhos da união das teles Oi e BrT: BNDES
e Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil,
denominadores comuns de 119 empresas nas quais têm participação.
Para desvendar essa intrigada rede de relacionamentos, o economista
Sérgio Lazzarini, professor do Insper, estudou nos últimos seis anos a
história de 624 empresas nacionais desde 1996.
Descobriu que são todas amigas. O resultado está no livro "Capitalismo
de Laços: Os Donos do Brasil e suas Conexões" (Elsevier), que será
lançado na segunda.
"A abordagem desse livro é de relações. Ele vai ver quem é conectado com quem. Porque é por aí que surgem os negócios", disse.
No estudo, Lazzarini viu que os agentes mais populares desse "Facebook dos poderosos" são do governo.
O economista constatou ainda que não alteraram esse quadro nem as
privatizações nem a abertura de capital na Bolsa, que prometiam a
entrada de novos agentes.
"Há menos competição quando você junta três concorrentes em um mesmo
consórcio, são dois a menos competindo. Os minoritários reclamam que não
conseguem entrar da brincadeira."
ESTRANGEIROS
Lazzarini afirma que muitos estrangeiros "quebraram a cara" no Brasil,
como os canadenses da TIW, que se associaram ao empresário Daniel Dantas
para comprar a Telemig Celular na privatização da Telebrás, em 1998.
Ele cita o caso de Eike, visto inicialmente como renovador por trazer investidores do mercado de capitais.
"Eike é querido tanto no governo quanto no mercado. Ele é a ponte. Traz
gente para os conselhos, que são pessoas que vão fazer conexões com
empresas e com o mercado. Ele faz doação para Lula e traz os chineses."
Segundo Lazzarini, o governo tem interesses em jogo nessa rede de
relacionamento. O primeiro é ter influência na concorrência privada, que
é onde está o dinheiro.
Depois, é se financiar no poder. "Obter esses laços garante
reciprocidades. Exemplo? Doação de campanha. Interessa para o governo
estar nessas empresas para o sistema político se financiar. Para as
empresas, o financiamento das campanhas serve como um "seguro" para ter
canal de comunicação com o governo. E estamos falando de caixa um. O
incentivo para caixa dois é igual."
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