Depois de quase duas décadas ouvindo "não pergunte, não diga", militares
gays americanos agora escutam "pergunte, sim, diga, sim" e até "ache um
amigo" em uma nova rede social na internet, a Out Military.
A rede social foi lançada há cerca de uma semana, logo após o presidente Barack Obama ter assinado uma nova lei
derrubando a proibição de gays assumidos nas Forças Armadas dos EUA. A
política conhecida como "Don't Ask, Don't Tell" ["Não pergunte, não
conte", em tradução livre] estava em vigor desde 1993.
Até agora, a rede social Out Military tem poucos integrantes, mas a
expectativa é de que as adesões aumentem nos próximos meses, à medida
que a nova lei ganhe efeito.
No momento, as forças militares dos Estados Unidos estão elaborando
regras para fazer a nova política valer, e uma data específica para a
implementação ainda não foi divulgada. Mesmo assim, alguns militares
afirmam que não vão esperar e que não temem a possibilidade de perder o
emprego.
"A nova rede social está dando às pessoas uma plataforma social para se
comunicar", disse Kristin Orta, que serve na Guarda Nacional da Flórida.
Ela se juntou à rede Out Military na semana passada, depois de ver um
anúncio no Facebook.
"Acho que uma rede social específica para esse nicho é algo natural",
declarou o criador da Out Military, o webdesigner John McKinnon.
Ele disse que vinha pensando em criar o site desde que o debate sobre a
política do "não pergunte, não diga" voltou à cena há meses.
McKinnon incentiva a adesão à rede social, obviamente, mas não estimula
que as pessoas revelem informações pessoais antes da nova regra entrar
em vigor.
PESQUISA
Recentemente, um estudo desenvolvido pelo Pentágono revelou que derrubar
a lei que proíbe homossexuais assumidos nas Forças Armadas causaria um
pouco de perturbação no início, mas não traria problemas disseminados ou
de longo prazo para os EUA.
O estudo revelou que 70% dos militares acham que derrubar a lei teria
efeitos mistos, positivos, ou nenhum efeito, enquanto 30% preveem
consequências negativas ou demonstram preocupação. A oposição foi maior
entre os militares de combate, com 40% dizendo ser uma má ideia. O
número subiu para 46% entre os fuzileiros navais.
A pesquisa foi enviada para 400 mil militares, dos quais 69% disseram
ter trabalhado com alguém que eles acreditam ser gay ou lésbica. Desses,
92% disseram que o trabalho em conjunto foi muito bom, bom, ou nem bom
nem ruim, segundo as fontes citadas pelo jornal 'The Washington Post'.
As unidades de combate deram respostas semelhantes: 89% das unidades de
combate do Exército e 84% das unidades de combate dos Fuzileiros Navais
disseram ter tido experiências boas ou neutras ao trabalhar com gays ou
lésbicas, revela o 'Post'.
Um recente relatório de um grupo de trabalho do Pentágono recomendou que
não haja banheiros ou chuveiros separados para militares homossexuais, e
que alguns benefícios, como assistência jurídica gratuita, poderão ser
oferecidos para casais do mesmo sexo.
LEI
A lei foi criada em 1993 por Bill Clinton. Ele prometera, logo após a
eleição, derrubar o veto aos gays no Exército, criado durante a Segunda
Guerra (1939-1945).
Sem apoio do legislativo, o projeto tornou-se um veto indireto: os
militares gays e bissexuais podem servir, desde que escondam sua
sexualidade. Desde então, cerca de 13 mil foram dispensados das Forças
Armadas sob a lei.
Apesar de a maioria das dispensas serem resultado de militares gays se
assumindo, grupos de defesa dos direitos gays dizem que isso foi usado
por colegas de trabalho vingativos para fazer alarde sobre soldados que
nunca fizeram de sua sexualidade um problema.
Mudar a lei foi uma das promessas de Barack Obama em sua campanha presidencial em 2008.
No mundo todo, 29 países --incluindo Israel, Canadá, Alemanha e Suécia--
aceitam soldados assumidamente gays, segundo a Log Cabin Republicans,
um grupo defensor dos direitos gays.
Nenhum comentário:
Postar um comentário