O serviço de hospedagem de sites da gigante da informática Amazon
concordou em interromper o acesso às páginas do WikiLeaks nesta
quarta-feira, segundo afirmou o senador americano Joe Lieberman e o
próprio site. A suspensão do serviço não impede o acesso ao site, já que
o WikiLeaks tem outras empresas servidoras.
A Amazon não confirma a informação. A reportagem da Folha não
conseguia acesso ao site com os documentos diplomáticos americanos no
Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unido, por várias horas desde o
início da tarde desta quarta-feira. Recentemente, o acesso foi retomado.
"A decisão da companhia de cortar o WikiLeaks é a decisão correta e
deveria estabelecer o padrão para as demais", afirmou Lieberman, chefe
da Comissão de Segurança Interna do Senado dos EUA.
O próprio Lieberman pediu à Amazon que vetasse o acesso à página nesta
terça-feira, quando a imprensa relatou que o WikiLeaks contratara o
gigante da internet para difundir os mais de 250 mil arquivos secretos
americanos. A ideia do WikiLeaks era fugir do ataque de hackers.
"Eu queria que a Amazon tivesse tomado esta ação antes, baseado na
publicação prévia do WikiLeaks de material secreto", continuou o
independente Lieberman, em comunicado. "Eu peço a qualquer outra
companhia ou organização que esteja abrigando WikiLeaks a imediatamente
encerrar a sua relação com ele".
O Departamento de Segurança Nacional confirmou a informação a jornalistas, segundo o jornal britânico "Guardian".
Em sua conta no Twitter, o próprio WikiLeaks confirma. "Os servidores do
WikiLeaks na Amazon derrubados. Liberdade de expressão na terra dos
livres. Tudo bem, nosso $ agora é gasto para empregar pessoas na
Europa". O site deve voltar ao seu servidor na Suécia, Bahnhof, país
onde fica a sede da empresa.
O porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, disse não saber as últimas
informações sobre os servidores, mas afirmou que "temos nossos caminhos
e modos de superar qualquer suspensão nos nossos serviços".
O acesso ao site já estava intermitente e enfrentava problemas desde
domingo, quando o WikiLeaks iniciou o vazamento dos milhares de
documentos diplomáticos secretos. Os organizadores do WikiLeaks
denunciaram nesta terça-feira, também por meio de sua conta no Twitter,
que estariam sob um "poderoso" ataque de hackers, um problema que teriam
resolvido em parte com os servidores da Amazon Web Services.
O "ataque distribuído de negação de serviço" é um método praticado por
hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar.
Conhecido como DDoS (um acrônimo em inglês para Distributed Denial of
Service), o ataque é uma tentativa de tornar os recursos de um sistema
indisponíveis através de sobrecarga.
Um computador mestre tem sob seu comando até milhares de outras
máquinas, preparadas para acessar um site em uma mesma hora de uma mesma
data. Como servidores web possuem um número limitado de usuários que
pode atender simultaneamente, o grande e repentino número de requisições
de acesso esgota o atendimento.
AMAZON
Segundo o jornal americano "Wall Street Journal", a página do WikiLeaks
dedicada aos documentos, cablegate.wikileaks.org, utilizava servidores
da Amazon Web Services em Seattle (EUA) e da empresa francesa Octopuce.
Já a página principal, Wikileaks.org, usava os servidores da Amazon nos
EUA e na Irlanda.
No comunicado, Lieberman disse ainda que, mesmo que a Amazon tenha
encerrado sua relação com o WikiLeaks, ele ainda planeja questionar a
empresa sobre o contrato comercial e o que faria no futuro se
confrontada com situação similar. Especialistas ouvidos pelo "Wall
Street" apontam que a empresa não deve enfrentar ações legais por vender
serviços ao WikiLeaks.
A notícia vem dois depois de 250 mil documentos confidenciais da
diplomacia americana serem revelados pelo WikiLeaks. Os papeis abordam
temas que vão do programa nuclear iraniano aos esforços dos EUA para
espionar autoridades estrangeiras e até mesmo a suposta ocultação da
prisão de terroristas no Brasil.
Os chamados "cables", ou telegramas, revelam detalhes secretos --alguns
bastante curiosos-- da política externa americana entre dezembro de 1966
e fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como
'Cablegate'.
São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451
tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos,
55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de
terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU (Organização das
Nações Unidas).
O site, que já causou outras saias-justas para os EUA com a revelação de
documentos secretos das guerras no Afeganistão e Iraque, tornou público
um mundo secreto dos bastidores da diplomacia internacional. A maioria
representa retratos críticos dos EUA a líderes estrangeiros, desde
aliados como a Alemanha, Itália e Afeganistão, a nações como Líbia e
Irã.
Dificilmente, contudo, estes documentos devem prejudicar os laços
diplomáticos de Washington. Com a antecipação do conteúdo dos documentos
pela imprensa, a Casa Branca lançou uma campanha na semana passada para
alertar os países que seriam provavelmente citados sobre o conteúdo das
revelações e alertou ainda o Congresso americano sobre o que estariam
nos documentos.
De qualquer forma, o secretário de Justiça e procurador-geral dos
Estados Unidos, Eric Holder, informou nesta segunda-feira que abriu uma
investigação criminal sobre o vazamento, que "põe em perigo não só
indivíduos e diplomatas, mas também a relação que temos com nossos
aliados no mundo todo".
Ele explicou que o processo será aberto com apoio do Departamento de
Defesa, para determinar quem são as pessoas responsáveis pelo vazamento.
"Não posso adiantar os resultados, mas a investigação criminal está em
marcha", disse a jornalistas.
O presidente americano, Barack Obama, ordenou ainda nesta segunda-feira
que todas as agências do governo revejam seus procedimentos de segurança
para proteger informações confidenciais.
Segundo um comunicado obtido pela agência de notícias Associated Press, o
Escritório de Gerenciamento e Orçamento afirmou às agências que
estabeleçam equipes de segurança para garantir que seus funcionários não
tenham acesso amplo a informações classificadas que não sejam
essenciais para seu trabalho.
O diretor do escritório, Jacob Lew, disse que o fracasso das agências
para evitar o vazamento de informações secretas foi inaceitável e não
será tolerado. "Qualquer publicação não autorizada de informação é uma
violação de nossas leis e compromissos com a segurança nacional".
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