quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A pedido dos EUA, Amazon suspende acesso ao site do WikiLeaks

O serviço de hospedagem de sites da gigante da informática Amazon concordou em interromper o acesso às páginas do WikiLeaks nesta quarta-feira, segundo afirmou o senador americano Joe Lieberman e o próprio site. A suspensão do serviço não impede o acesso ao site, já que o WikiLeaks tem outras empresas servidoras.

A Amazon não confirma a informação. A reportagem da Folha não conseguia acesso ao site com os documentos diplomáticos americanos no Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unido, por várias horas desde o início da tarde desta quarta-feira. Recentemente, o acesso foi retomado.
"A decisão da companhia de cortar o WikiLeaks é a decisão correta e deveria estabelecer o padrão para as demais", afirmou Lieberman, chefe da Comissão de Segurança Interna do Senado dos EUA.
O próprio Lieberman pediu à Amazon que vetasse o acesso à página nesta terça-feira, quando a imprensa relatou que o WikiLeaks contratara o gigante da internet para difundir os mais de 250 mil arquivos secretos americanos. A ideia do WikiLeaks era fugir do ataque de hackers.
"Eu queria que a Amazon tivesse tomado esta ação antes, baseado na publicação prévia do WikiLeaks de material secreto", continuou o independente Lieberman, em comunicado. "Eu peço a qualquer outra companhia ou organização que esteja abrigando WikiLeaks a imediatamente encerrar a sua relação com ele".
O Departamento de Segurança Nacional confirmou a informação a jornalistas, segundo o jornal britânico "Guardian".
Em sua conta no Twitter, o próprio WikiLeaks confirma. "Os servidores do WikiLeaks na Amazon derrubados. Liberdade de expressão na terra dos livres. Tudo bem, nosso $ agora é gasto para empregar pessoas na Europa". O site deve voltar ao seu servidor na Suécia, Bahnhof, país onde fica a sede da empresa.
O porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, disse não saber as últimas informações sobre os servidores, mas afirmou que "temos nossos caminhos e modos de superar qualquer suspensão nos nossos serviços".
O acesso ao site já estava intermitente e enfrentava problemas desde domingo, quando o WikiLeaks iniciou o vazamento dos milhares de documentos diplomáticos secretos. Os organizadores do WikiLeaks denunciaram nesta terça-feira, também por meio de sua conta no Twitter, que estariam sob um "poderoso" ataque de hackers, um problema que teriam resolvido em parte com os servidores da Amazon Web Services.
O "ataque distribuído de negação de serviço" é um método praticado por hackers para reduzir a velocidade de um site ou mesmo tirá-lo do ar. Conhecido como DDoS (um acrônimo em inglês para Distributed Denial of Service), o ataque é uma tentativa de tornar os recursos de um sistema indisponíveis através de sobrecarga.
Um computador mestre tem sob seu comando até milhares de outras máquinas, preparadas para acessar um site em uma mesma hora de uma mesma data. Como servidores web possuem um número limitado de usuários que pode atender simultaneamente, o grande e repentino número de requisições de acesso esgota o atendimento.
AMAZON
Segundo o jornal americano "Wall Street Journal", a página do WikiLeaks dedicada aos documentos, cablegate.wikileaks.org, utilizava servidores da Amazon Web Services em Seattle (EUA) e da empresa francesa Octopuce. Já a página principal, Wikileaks.org, usava os servidores da Amazon nos EUA e na Irlanda.
No comunicado, Lieberman disse ainda que, mesmo que a Amazon tenha encerrado sua relação com o WikiLeaks, ele ainda planeja questionar a empresa sobre o contrato comercial e o que faria no futuro se confrontada com situação similar. Especialistas ouvidos pelo "Wall Street" apontam que a empresa não deve enfrentar ações legais por vender serviços ao WikiLeaks.
A notícia vem dois depois de 250 mil documentos confidenciais da diplomacia americana serem revelados pelo WikiLeaks. Os papeis abordam temas que vão do programa nuclear iraniano aos esforços dos EUA para espionar autoridades estrangeiras e até mesmo a suposta ocultação da prisão de terroristas no Brasil.
Os chamados "cables", ou telegramas, revelam detalhes secretos --alguns bastante curiosos-- da política externa americana entre dezembro de 1966 e fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como 'Cablegate'.
São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451 tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos, 55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
O site, que já causou outras saias-justas para os EUA com a revelação de documentos secretos das guerras no Afeganistão e Iraque, tornou público um mundo secreto dos bastidores da diplomacia internacional. A maioria representa retratos críticos dos EUA a líderes estrangeiros, desde aliados como a Alemanha, Itália e Afeganistão, a nações como Líbia e Irã.
Dificilmente, contudo, estes documentos devem prejudicar os laços diplomáticos de Washington. Com a antecipação do conteúdo dos documentos pela imprensa, a Casa Branca lançou uma campanha na semana passada para alertar os países que seriam provavelmente citados sobre o conteúdo das revelações e alertou ainda o Congresso americano sobre o que estariam nos documentos.
De qualquer forma, o secretário de Justiça e procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, informou nesta segunda-feira que abriu uma investigação criminal sobre o vazamento, que "põe em perigo não só indivíduos e diplomatas, mas também a relação que temos com nossos aliados no mundo todo".
Ele explicou que o processo será aberto com apoio do Departamento de Defesa, para determinar quem são as pessoas responsáveis pelo vazamento. "Não posso adiantar os resultados, mas a investigação criminal está em marcha", disse a jornalistas.
O presidente americano, Barack Obama, ordenou ainda nesta segunda-feira que todas as agências do governo revejam seus procedimentos de segurança para proteger informações confidenciais.
Segundo um comunicado obtido pela agência de notícias Associated Press, o Escritório de Gerenciamento e Orçamento afirmou às agências que estabeleçam equipes de segurança para garantir que seus funcionários não tenham acesso amplo a informações classificadas que não sejam essenciais para seu trabalho.
O diretor do escritório, Jacob Lew, disse que o fracasso das agências para evitar o vazamento de informações secretas foi inaceitável e não será tolerado. "Qualquer publicação não autorizada de informação é uma violação de nossas leis e compromissos com a segurança nacional".

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