A polícia chinesa prendeu seis pessoas e fechou 16 sites de internet em
meio à disseminação de rumores pela rede de que veículos militares
estariam nas ruas de Pequim, segundo anunciaram fontes oficiais neste
sábado.
As mensagens que sugeriam um possível golpe militar em curso, sem
nenhuma evidência, repercutiram na última semana em alguns meios de
comunicação internacionais, num momento de tensão por conta da recente
demissão do prefeito da cidade de Chongqing, Bo Xilai, um dos políticos
mais populares do país.
Bo foi retirado de seu cargo após o chefe da polícia da cidade, que tem
cerca de 30 milhões de habitantes, ter buscado refúgio no consulado
americano, supostamente após ter iniciado uma investigação sobre
familiares do prefeito.
Desde então, uma série de acusações vêm sendo divulgadas contra Bo. No
início da semana divulgou-se a informação de que o governo do Reino
Unido teria pedido às autoridades chinesas que reabrissem as
investigações sobre a morte do empresário britânico Neil Heywood,
supostamente amigo próximo do ex-prefeito.
NOVELA
A novela política em torno de Bo Xilai representa a maior crise política enfrentada pelos líderes chineses em vários anos.
O país se prepara para iniciar o processo de mudança na liderança do
país, num ritual que ocorre apenas uma vez a cada dez anos. A demissão
de Bo Xilai, considerado até então um dos favoritos para promoção no
politburo do Partido Comunista, sugere uma feroz batalha de bastidores
pelo controle do partido.
Antes das prisões e dos fechamentos de sites anunciados neste sábado, os
censores chineses já vinham bloqueando as buscas por termos ligados a
Bo.
O departamento do governo que controla a internet no país afirmou que os
rumores sobre golpe eram "uma influência muito negativa sobre o
público".
Dois populares serviços de microblogs no país - Sina Weibo e Tencent
Weibo, semelhantes ao Twitter - interromperam temporariamente os
comentários sobre posts de outros usuários.
Segundo eles, os comentários ficarão desativados entre este sábado e a
terça-feira para que eles possam "agir para interromper a disseminação
de boatos".
Um porta-voz do departamento de internet afirmou à agência Xinhua que os dois serviços foram "criticados e punidos de acordo".
Ele afirmou ainda que várias outras pessoas foram "advertidas ou educadas".
ESTABILIDADE SOCIAL
A ação das autoridades chinesas contra as supostas fontes dos rumores de
golpe mostram uma forte preocupação das autoridades chinesas em manter a
estabilidade em um momento de transição política e de desaceleração
econômica no país.
O correspondente da BBC em Pequim Michael Bristow observa que os fóruns
na internet e os microblogs são talvez o único foro no qual os cidadãos
chineses podem expressar livremente suas visões, e muitos deles fazem
isso anonimamente.
Ele observa que em um país onde as informações oficiais são escassas, os
boatos ganham uma força que provavelmente não teriam em outros lugares.
Em um editorial, o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista,
afirmou que "os boatos na internet e as mentiras embaladas como 'fatos'
transformam as conjecturas em 'realidades', alimentam a confusão online e
perturbam as mentes das pessoas".
"Se forem deixados fora de controle, eles perturbarão seriamente a ordem
social, afetarão a estabilidade social e farão mal à integridade
social", complementa o jornal.
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