Os clientes conversam animados enquanto os pratos chegam à mesa. Antes de tocar nos talheres, alguém saca um celular e, munido de seu paladar estético, tira uma foto. A cena, comum em restaurantes paulistanos, foi vista com maior frequência na última semana, durante a Restaurant Week, que terminou ontem (18).
Na crista dessa onda está o Instagram, rede mundial de compartilhamento de fotos, que possui cerca de 27 milhões de usuários. Segundo levantamento feito pela sãopaulo com 50 dos 215 restaurantes que participam do evento na capital (há outras cidades paulistas participantes), foram publicadas 197 fotos nos primeiros sete dias da maratona gastronômica --mais que o dobro das 75 da semana anterior. Para a pesquisa, foram consideradas somente as imagens em que o restaurante foi marcado pelo usuário.
Fotos de usuários e chefs invadiram o Instagram. Em sentido horário: AK Vila, PJ Clarke's, GastroArte e Allez, Allez! |
Para os donos de restaurantes, a vantagem é a visibilidade que a casa ganha --e, melhor ainda, de graça. "O hambúrguer Cadillac e o cheesecake são os mais fotografados", diz Maria Rita Pikielny, sócia do PJ Clarke's.
"Se a foto for bem tirada, dá vontade de conhecer o restaurante", conta a designer Renata Giusti, 32, que visitou duas casas nesta edição.
Por mais que o principal atrativo do evento seja oferecer cardápios por um preço mais acessível (R$ 31,90, no almoço, e R$ 43,90, no jantar, com entrada, prato e sobremesa), uma vantagem, dizem os participantes, é espalhar entre amigos os lugares visitados.
A audiência vem por meio dos comentários, conta o diretor de arte Thiago Leal, 26, que, mesmo fora da Restaurant Week, tem como hábito postar fotos de comida no Instagram.
Para os viciados na rede social, mesmo que um hambúrguer seja o motivo para escolher o estabelecimento, a decoração não passa despercebida pelas lentes. "Prefiro tirar fotos do ambiente", diz a arquiteta Fernanda de Carvalho, 27, que visitou o PJ Clarke's durante o evento.
DO LADO DE LÁ
Além dos comensais, alguns chefs também já incorporaram seus celulares à cozinha. Para eles, a redeserve não só para registrar as receitas, mas também para divulgar o trabalho de colegas e mostrar o dia a dia no comando das panelas.
O hábito de fotografar a comida, no entanto, é comum desde antes do Instagram. "Eu sempre tirava fotos porque fazemos fichas técnicas", conta Andrea Kaufmann, 35, do AK Vila.
Benny Novak, 43, de Ici Bistrô, 210 Diner e Tappo, diz que mantém o hábito por outro motivo: "Para guardar referências e fazer roteiros de viagem".
A chef Nathalia Vergili, 25, à frente do GastroArte, começou a usar o aplicativo para "acompanhar a vida das pessoas de maneira diferente".
Boa parte das fotos que ela posta não é da comida que faz e, sim, da cozinha do restaurante. "Meus amigos que não trabalham com gastronomia sempre falam: 'Achei que sua vida fosse tão mais difícil!'", diz. "Mas é porque eu posto as fotos dos momentos bons", finaliza, entre risos.
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ETIQUETADicas para não fazer feio no restaurante
Permissão
Alguns endereços podem não permitir foto, por questões de sigilo industrial. O maître pode tirar essa dúvida
Discrição
Não caia na tentação de se levantar da mesa ou de fazer malabarismos para captar o melhor ângulo do prato
Flash
Nunca utilize. Vai chamar demasiada atenção e o efeito nem será dos melhores
Produção
Se quiser melhorar o entorno, não faça uma nova arrumação da mesa --mexa apenas nos objetos mais próximos, como o seu garfo
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