sexta-feira, 30 de março de 2012

Para fugir de tarifas, empresas trocam Google Maps por serviços rivais

Quando é hora de oferecer mapas on-line aos seus usuários, algumas empresas vêm abandonando o Google Maps e optando por territórios menos conhecidos.
Nos sete anos desde seu lançamento, o serviço de mapas viários, fotos via satélite e fotos de rua oferecido pelo Google conquistou o domínio no segmento de mapas on-line, ultrapassando predecessores como o MapQuest, da AOL. De acordo com a comScore, 71% dos 91,7 milhões de pessoas que procuraram mapas on-line em fevereiro, nos Estados Unidos, recorreram ao Google Maps.
No entanto, existem sinais de que o domínio do Google esteja sofrendo ataque --e as atitudes da empresa podem ser parte da causa.
San Francisco em mapas do Google Maps (esq.) e do OpenStreetMap
Muitos sites incorporam o Google Maps às suas páginas, para identificar a localização de imóveis à venda ou mostrar vias esburacadas. O Google já vinha cobrando de seus maiores usuários uma taxa de serviço que pode chegar às centenas de milhares de dólares anuais. Mas, em outubro, anunciou que começaria a cobrar de sites menores cujos usuários gerassem a média de 25 mil visitas diárias a mapas durante um período de um trimestre. Muitos sites independentes de internet, dos quais o Google depende para a popularidade de seus produtos, se rebelaram diante da mudança.
"Se você é um site cujo objetivo é colocar uma pizzaria no mapa, isso não é problema, mas se você está tentando criar uma marca relacionada a mapeamento, a questão se torna séria", disse James Fee, vice-presidente de divulgação da WeoGeo, que oferece dados de localização. "O Google afirma que a mudança afetará um número muito pequeno de usuários, mas ouvi dizer que afetará 30% ou 40% das pessoas que realmente dependem de mapas para seus negócios. O custo mensal pode ser de dezenas de milhares de dólares."
No final de fevereiro, o Foursquare, uma rede social com serviços de localização, anunciou que seu site deixaria de usar o Google Maps e o substituiria pelo OpenStreetMap, um serviço de mapas criados por usuários, montado e administrado da mesma maneira que a Wikipédia. Em post no blog da empresa, o Foursquare informou que o aumento de preços do Google havia causado a mudança.
A nova versão da Apple para seu aplicativo iPhoto, usado no iPhone e iPad, também emprega dados do OpenStreetMap, ainda que a companhia utilize diversas fontes de mapas, especialmente o Google, em seus demais produtos. O Nestoria, um serviço de busca de imóveis, também anunciou que trocaria o Google pelo OpenStreetMap por conta do preço.
De acordo com a comScore, o OpenStreetMap tem tráfego minúsculo. O Google Maps recebeu 65 milhões de visitantes em fevereiro, 16% acima do total do período um ano antes. O MapQuest teve 35 milhões, queda de 13%. O Bing Maps, da Microsoft, ficou em terceiro, com 9 milhões de usuários, um avanço de 18%.
Ainda assim, o envolvimento de empresas como o Foursquare parece estar melhorando a qualidade do OpenStreetMap, porque os colaboradores do serviço ganharam ímpeto. "Estamos conquistando muita atenção por isso", disse Steve Coast, fundador do OpenStreetMap, que disse que sua organização tinha 500 mil usuários registrados.
Coast continua no comando do OpenStreetMap, mas, 16 meses atrás, começou a trabalhar para a Microsoft, que parece estar apoiando o serviço como forma de ajudá-la a combater o domínio do Google. Embora tenha recusado responder sobre seu trabalho no Bing Maps, pessoas dizem que Coast está desenvolvendo software de fonte aberta que tornaria mais fácil o uso do OpenStreetMap pelos criadores de aplicativos. (O Foursquare obtém seus mapas de um intermediário chamado MapBox.) Embora o Google tenha doado dinheiro ao OpenStreetMap para conferências, no passado, a Microsoft doou dados cartográficos muito mais valiosos para o projeto.
O Google parece estar contra-atacando. Ele anunciou dois novos sites que encorajam criadores de aplicativos de todos os níveis de competência a utilizar seus mapas para serviços de localização e software para celulares. Um dos sites oferece instruções de direção fáceis para chegar a um endereço, e o outro é uma galeria de coisas que as pessoas criaram usando o Google Maps.
O Google recusou um pedido de entrevista sobre o assunto. O porta-voz da empresa, Sean Carlson, afirmou em e-mail que a cobrança "tem por objetivo encorajar o uso responsável" dos dados cartográficos e "garantir seu futuro em longo prazo, ao mesmo tempo em que a vasta maioria dos criadores de aplicativos não seja afetada". Ele acrescentou que o tráfego e o número de sites que usam o Google Maps continuam a crescer desde que os novos preços foram anunciados.
Paris é exibida no Google Maps em escritório da empresa em Los Angeles; preço do serviço assusta empresas
O Google tem preocupações que vão além de rebeliões quanto a preço e alternativas de fonte aberta. Com o crescimento no número de usuários da internet via aparelhos móveis, serviços de localização se tornaram essenciais para muitas das maiores empresas do setor, e todas elas estão dedicando recursos consideráveis a mapas.
Em janeiro, 52 milhões de pessoas acessaram mapas com seus smartphones, 67% acima do total do período em 2011, de acordo com a comScore. O Google lidera, com fatia de 67%, mas o mercado ainda é jovem. Até o Foursquare continua a usar o Google em seus aplicativos móveis, ainda que um executivo da empresa tenha dito que isso pode mudar.
O Google foi além das instruções de acesso para motoristas e começou a mapear o interior de aeroportos e shopping centers. A Microsoft está criando mapas que informam a altura de edifícios e se as lojas do térreo têm filas longas, com base nos comentários de consumidores em redes sociais.
"Estamos chegando ao ponto de onipresença das informações de localização", disse Stefan Weitz, diretor-sênior do serviço de buscas Bing, da Microsoft, que inclui mapas. "Nosso objetivo agora é desenvolver melhores maneiras de descrever o mundo físico", com dados de usuários e fontes independentes, disse. "Os mapas ficam relativamente estáticos, e você tem capacidade de oferecer serviços aumentados em todo lugar", com dados mutáveis sobre horários e condições, e mais preferências individuais, disse Weitz.
A Nokia, que em 2008 pagou US$ 8,1 bilhões por uma companhia de mapas eletrônicos chamada Navteq, está trabalhando em aplicativos para celulares que usam mapas e informam a um passageiro a que horas precisa sair de casa para apanhar seu trem. O aplicativo computaria os horários dos trens, o atraso do dia, a rota preferida do passageiro e avisaria alguns minutos antes do horário em que você precisa sair. A Microsoft formou uma parceria com a Nokia para aplicativos móveis e recentemente lançou ferramentas que permitem que programadores criem aplicativos de mapeamento para o sistema operacional Windows 8.
Como os negócios da Apple giram cada vez mais em torno do iPhone e iPad, a empresa fez diversas aquisições relacionadas a mapas, entre as quais a da Poly9, que produz um pequeno mas poderoso mapa tridimensional da Terra, e a da C3, que permite buscas tridimensionais nas ruas de uma cidade. Outra aquisição da Apple, a Placebase, tem produtos que inserem dados de terceiros, como classificações de restaurantes, em um mapa. A Apple ainda não combinou esses serviços em um produto único capaz de enfrentar os muitos recursos do Google.
Até mesmo uma organização veterana do mapeamento comercial, o Instituto de Pesquisa de Sistemas Ambientais, criado 42 anos atrás, está entrando no jogo. No mês que vem, o instituto, que vende cerca de US$ 1,2 bilhão anual em software de produção de mapas para agências do governo, redes de varejo e companhias de infraestrutura, passará a oferecer acesso por assinatura a mapas submetidos por usuários. A ideia é que criadores de aplicativos insiram todo tipo de novos dados para computadores e celulares, nesses mapas.
"Há centenas de milhares de mapas que as pessoas subirão para que sejam compartilhados aqui", disse Jack Dangermond, fundador e presidente do instituto, que admite que é estranho estar subitamente na ponta mais aguçada do mercado. "Trabalho nisso há anos", diz. "A web está dando vida nova ao meu trabalho. A cartografia e o pensamento geográfico agora são bacanas".

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