quarta-feira, 28 de março de 2012

Veto da Austrália a Huawei envolve preocupações mais amplas

A decisão do governo australiano de proibir a Huawei de participar de concorrências para a rede nacional de banda larga do país, um projeto de US$ 38 bilhões, tem menos a ver com a empresa chinesa de telecomunicações em si e mais com a preocupação de que países estrangeiros --especialmente a China-- estejam roubando segredos comerciais e do governo via internet, disseram analistas e pesquisadores de segurança.
A Austrália proibiu a Huawei de participar das concorrências para a rede nacional, um dos projetos de infraestrutura de comunicações mais caros do mundo, por questões de segurança. O objetivo da rede é oferecer acesso de alta velocidade à internet à maioria dos lares australianos. A natureza das questões não foi revelada.
Alastair MacGibbon, que dirigiu o Centro de Crimes de Alta Tecnologia australiano e agora comanda o Centro para Segurança na Internet, disse que, embora nada tivesse contra a Huawei, recebia a decisão positivamente porque ela demonstrava que o governo estava colocando a segurança acima do custo --e das possíveis consequências diplomáticas junto ao maior parceiro comercial australiano.
"Uma decisão como essa deve ter sido tomada nos escalões mais altos, e eles levariam as consequências, que provavelmente não serão insignificantes, em conta", disse MacGibbon. "Portanto, é preciso imaginar que as questões de segurança sejam sérias".
Funcionários do governo australiano se recusaram a detalhar quais eram as preocupações, mas afirmaram que tinham origem no serviço de inteligência do país, a Asio (Australian Security Intelligence Organisation), que vem se queixando com intensidade cada vez maior sobre o problema da espionagem via internet por parte daquilo que define como "agentes de Estado".
Em seu mais recente relatório ao Parlamento, a organização afirmou que "a espionagem por meios cibernéticos --um dos aspectos de uma ameaça em maior escala-- está emergindo como uma preocupação séria e ampla que continuará a ganhar proeminência dada a crescente dependência australiana quanto à tecnologia em assuntos comerciais, governamentais e militares".
Ainda que a China não seja nominalmente citada, MacGibbon e outros dizem que está implícito que as ameaças vêm de lá.
Casey Ellis, um especialista em segurança baseado em Sydney, disse que equipes de resposta a incidentes "estavam muito ocupadas, e muito do que lidam parece ter ligações com a China".
Em 2010, três grandes companhias de mineração, BHP Billiton, Fortescue Metals e Rio Tinto, foram alvos de hackers, e no ano passado contas parlamentares de e-mail foram invadidas, incluindo as de três ministros. Pesquisadores dizem que provavelmente há mais ataques que passam despercebidos ou não divulgados pelas companhias.
A China tem rotineiramente negado qualquer envolvimento em tais ataques.
Pesquisadores e analistas dizem que o governo australiano e a Asio não devem revelar o que os levou a barrar a Huawei.
"Isso diz respeito a uma entre duas coisas", disse um analista de Sydney que não quis se identificar. "Ou as acusações carecem completamente de fundamentos, ou nossas agências de inteligência têm informação sobre a Huawei."

Nenhum comentário: