A decisão do governo australiano de proibir a Huawei de participar de concorrências para a rede nacional de banda larga
do país, um projeto de US$ 38 bilhões, tem menos a ver com a empresa
chinesa de telecomunicações em si e mais com a preocupação de que países
estrangeiros --especialmente a China-- estejam roubando segredos
comerciais e do governo via internet, disseram analistas e pesquisadores
de segurança.
A Austrália proibiu a Huawei de participar das concorrências para a rede
nacional, um dos projetos de infraestrutura de comunicações mais caros
do mundo, por questões de segurança. O objetivo da rede é oferecer
acesso de alta velocidade à internet à maioria dos lares australianos. A
natureza das questões não foi revelada.
Alastair MacGibbon, que dirigiu o Centro de Crimes de Alta Tecnologia
australiano e agora comanda o Centro para Segurança na Internet, disse
que, embora nada tivesse contra a Huawei, recebia a decisão
positivamente porque ela demonstrava que o governo estava colocando a
segurança acima do custo --e das possíveis consequências diplomáticas
junto ao maior parceiro comercial australiano.
"Uma decisão como essa deve ter sido tomada nos escalões mais altos, e
eles levariam as consequências, que provavelmente não serão
insignificantes, em conta", disse MacGibbon. "Portanto, é preciso
imaginar que as questões de segurança sejam sérias".
Funcionários do governo australiano se recusaram a detalhar quais eram
as preocupações, mas afirmaram que tinham origem no serviço de
inteligência do país, a Asio (Australian Security Intelligence
Organisation), que vem se queixando com intensidade cada vez maior sobre
o problema da espionagem via internet por parte daquilo que define como
"agentes de Estado".
Em seu mais recente relatório ao Parlamento, a organização afirmou que
"a espionagem por meios cibernéticos --um dos aspectos de uma ameaça em
maior escala-- está emergindo como uma preocupação séria e ampla que
continuará a ganhar proeminência dada a crescente dependência
australiana quanto à tecnologia em assuntos comerciais, governamentais e
militares".
Ainda que a China não seja nominalmente citada, MacGibbon e outros dizem que está implícito que as ameaças vêm de lá.
Casey Ellis, um especialista em segurança baseado em Sydney, disse que
equipes de resposta a incidentes "estavam muito ocupadas, e muito do que
lidam parece ter ligações com a China".
Em 2010, três grandes companhias de mineração, BHP Billiton, Fortescue
Metals e Rio Tinto, foram alvos de hackers, e no ano passado contas
parlamentares de e-mail foram invadidas, incluindo as de três ministros.
Pesquisadores dizem que provavelmente há mais ataques que passam
despercebidos ou não divulgados pelas companhias.
A China tem rotineiramente negado qualquer envolvimento em tais ataques.
Pesquisadores e analistas dizem que o governo australiano e a Asio não devem revelar o que os levou a barrar a Huawei.
"Isso diz respeito a uma entre duas coisas", disse um analista de Sydney
que não quis se identificar. "Ou as acusações carecem completamente de
fundamentos, ou nossas agências de inteligência têm informação sobre a
Huawei."
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