terça-feira, 27 de março de 2012

Sites de denúncia anônima expõem casos de suborno do cotidiano


O preço para solicitar uma restituição de imposto de renda legítima em Hyderabad, na Índia? Dez mil rupias.
Valor atual da vaga em um colégio público de Nairóbi, no Quênia, para um aluno que já passou pelas exigências para a admissão? Vinte mil xelins.
Exame eletrônico de habilitação imune a corrupção, em Bangalore (Índia)
O gasto para tirar carteira de motorista depois de ser aprovado no exame em Karachi, no Paquistão? Cerca de 3.000 rupias.
Essa é a tabela da "corrupção do varejo", como a chama Swati Ramanathan, ou seja, os pequenos subornos que contaminam o cotidiano de tantos lugares do mundo.
Ramanathan e seu marido, Ramesh, junto com Sridar Iyengar, estão dispostos a mudar isso desde agosto de 2010, quando lançaram o site ipaidabribe.com ("Eu Paguei um Suborno"), que recolhe testemunhos anônimos de subornos pagos, de subornos solicitados mas não pagos ou de subornos que eram esperados, mas não foram explicitamente pedidos.
Dos mais de 400 mil relatos, cerca de 80% contam histórias como as dos funcionários citados acima, fazendo cobranças ilícitas por serviços rotineiros ou burocráticos.
"Pediram suborno para eu tirar uma certidão de nascimento da minha filha", escreveu no site em 29 de fevereiro alguém de Bangalore, na Índia, registrando o pagamento de uma propina de 120 rupias. "O encarregado chama de 'taxas' -só que não há cobrança de taxas para as certidões de nascimento", disse Ramanathan.
Agora, sites semelhantes estão se espalhando e constrangendo burocratas do mundo todo. Ramanathan disse que ONGs e órgãos públicos de pelo menos 17 países já contataram a Janaagraha, entidade de Bangalore que mantém o "I Paid a Bribe", solicitando auxílio para criarem versões locais da experiência.
No ano passado, a Comissão Anticorrupção do Reino do Butão criou uma formulário digital para denúncias anônimas de corrupção. No Paquistão, surgiu o site ipaidbribe, que estima que a economia nacional tenha perdido US$ 94 bilhões nos últimos quatro anos por causa de corrupção, evasão fiscal e descaso administrativo.
Swati Ramanathan, cofundora do site "I Paid a Bribe", em seu escritório em Bangalore (Índia)

"Estamos trabalhando para criar uma coalizão de grupos do site, que talvez se reúna anualmente e compartilhe experiências", disse Ramanathan.
Ben Elers, diretor de programa da ONG Transparência Internacional, disse que as mídias sociais estão dando ao cidadão médio ferramentas novas e poderosas para combater a corrupção endêmica.
"No passado, tendíamos a ver a corrupção como um problema enorme e monolítico, contra o qual as pessoas comuns nada podiam fazer", disse Elers.
"Agora, as pessoas têm novas ferramentas para identificá-la e exigir mudanças."
Como o site não cita nomes, em parte para evitar processos por calúnia e difamação, é impossível verificar os relatos, mas Elers e outros especialistas em expor a corrupção acham que eles soam bastante reais.
Eles são tão ameaçadores que, quando alguns sites desse tipo pipocaram na China, em meados de 2011, o governo tirou-os do ar alegando falta de registro.
"Por si só, eles não mudam nada", afirmou Elers. "O importante é que são desenvolvidos mecanismos que transformam essa atividade on-line em mudança off-line no mundo real."
Em Bangalore, Bhaskar Rao, comissário de Transportes do Estado de Karnataka, utilizou dados coletados do "I Paid a Bribe" para impulsionar reformas no departamento de trânsito. As carteiras de motorista agora são solicitadas pela internet e, no ano passado, Bangalore se tornou a primeira cidade do mundo a ter exames de habilitação eletrônicos, monitorados por sensores.
"Isso eliminou totalmente os caprichos e tendências dos fiscais", disse Rao, atualmente inspetor de polícia para a segurança interna. "Fica gravado em vídeo, então todos podem ver os resultados e tudo é muito transparente."


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