Quando as portas se abriram, ele estava entre os primeiros a adquirir sua cota de dois iPads, o máximo que a Apple permite por pessoa. Depois, usando um boné vermelho brilhante que permitia identificá-lo facilmente, Weng começou a conduzir um grupo de pessoas, todas carregando tablets novos, na direção de um utilitário esportivo Mercedes parado no estacionamento da loja.
Depois que cerca de duas dúzias de iPads foram colocados no porta-malas, o utilitário disparou para um salão de beleza e massagem próximo. No edifício dilapidado, os tablets de custo total de cerca de 12 mil dólares foram transferidos a sacolas de uma rede de atacado, que Wong levou embora em outro carro.
Tablet iPad, da Apple. Modelo lançado em 2012, com tela Retina e chip A5X |
Os iPads haviam completado a primeira etapa de uma jornada que, ironicamente, os devolveria ao país onde foram montados. Talvez tenham sido transportados na bagagem de passageiros em voos à China, ou por serviços de courier a Hong Kong, um território isento de tarifas alfandegárias, para ser contrabando em mochilas de estudantes para o território da China.
A demanda por produtos da Apple, aliada a severas restrições sobre a oferta local, criou um mercado negro em ascensão. Um iPad de 16 Gbytes comprado em San Francisco por US$ 499 pode ser vendido por mais de US$ 1.000 em Xangai no dia seguinte. A Apple vendeu mais de 3 milhões de unidades do aparelho no primeiro fim de semana de lançamento do produto.
"Para determinar quando o primeiro iPad chega à China, basta saber a que horas saiu o primeiro voo dos Estados Unidos no dia do lançamento", disse um funcionário da Apple, que não tinha autorização a falar oficialmente pela empresa.
Enquanto isso, os fabricantes de acessórios para o iPad, como capas e alto-falantes, também contratam pessoas para esperar na fila no dia de lançamento, disse uma fonte envolvida na operação.
Os fabricantes de acessórios não veem os produtos da Apple antes do lançamento, e por isso precisam correr quando os iPhones e iPads novos chegam às ruas, para alterar suas linhas de fabricação e produzir acessórios que se encaixem nas novas versões, disse a fonte.
Pessoas como Wong têm operado um negócio lucrativo. Eles pagam a pessoas como Amy de US$ 20 a US% 30 para ficarem na fila e comprarem o iPad para o mercado negro. Além disso, há um custo de US$ 12 para se enviar cada iPhone ou iPad por transportador chinês.
Mas está ficando mais difícil e custoso contrabandear dispositivos para a China, à medida que autoridades alfandegárias no país têm alertado para que transportadoras não aceitem encomendas de iPads e alertado viajantes a declarar seus aparelhos na chegada ao país, pagando um imposto de 10% sobre produtos eletrônicos.
Além disso, a Apple agora lança dispositivos simultaneamente em diversos países, aumentando a disponibilidade e depreciando os preços dos aparelhos no mercado negro.
"Eu parei de transportar iPad alguns meses atrás porque agora o pessoal de alfândega em Shenzhen está muito restritivo", disse um estudante chinês em Hong Kong sem revelar quanto recebia para carregar o aparelho.
Enquanto isso, um negociante de produtos eletrônicos em Oakland, Califórnia, afirmou que penou para conseguir equilibrar a operação este ano, numa situação muito diferente de lançamentos anteriores do iPad, quando ele despachou carregamentos de 1.000 tablets com lucro de US$ 50 a US$ 100 por aparelho junto a seu comprador em Hong Kong.
"Esse jogo todo está encerrado", reclamou o negociante. "Há excesso de oferta. O mercado está inundado."
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