sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Projeções transformam prédios em telões para arte 3D

Existe um prédio comercial no cruzamento da Canal Street e da West Broadway, no centro de Manhattan, com uma lateral branca, sem janelas, que a maioria das pessoas consideraria feia. Para J.R. Skola, a lateral do prédio serviu como um telão de seis andares de altura para a exibição de um trabalho itinerante chamado "Space Monkey".
Fundador do coletivo de arte "Dawn of Man" (Aurora do Homem), Skola usou um laptop, um gerador portátil e um projetor amarrado ao capô de seu carro para exibir na lateral do prédio um vídeo em tamanho gigante de um macaco dançante (na realidade, um amigo fantasiado). Enquanto o animal agitava os braços, as pessoas paravam na rua para olhar, espantadas, e tiravam fotos.
"555 Kubik", projeção da empresa alemã Urbanscreen
"Quando projetamos o filme no Lower East Side, os bêbados tentam dançar como o macaco", contou Skola. Ele e seu parceiro artístico, Max Nova, criam projeções "de guerrilha" -trabalhos que são exibidos para o público sem os alvarás necessários. Esses trabalhos fazem parte de um cenário artístico de "mapeamento em vídeo" que vem ganhando força em Nova York, em Londres e em outros centros urbanos.
Embora a arte projetada em vídeo não seja novidade, ela vem se tornando muito mais ambiciosa graças aos avanços recentes no mapeamento de projeção em 3D, uma tecnologia que ajuda a criar a ilusão de movimento multidimensional em volta dos contornos de qualquer superfície, independentemente de sua forma. E já existem no mercado versões mais baratas do software de mapeamento em vídeo.
Essas projeções não exigem o uso de óculos especiais para serem vistas em três dimensões; clipes on-line populares, como o que mostra mãos tocando um prédio como se fosse um piano, da empresa alemã Urbanscreen, demonstram o poder sedutor dessa mídia. "É um novo mundo em que os artistas podem expor seus trabalhos em qualquer lugar", disse David Haroldsen, diretor criativo de um festival global de artes tec chamado Projeto dos Criadores. "É brilhante, surpreendente, novo e realmente atrai os jovens."
Um dos festivais mais conhecidos dedicados a essa forma de arte é a "Fête des Lumières", promovida há anos em Lyon, na França. A tradição da cidade de colocar velas acesas nas janelas das casas em homenagem à Virgem Maria data de mais de 150 anos, e nos últimos anos a versão moderna do festival começou a incorporar técnicas de mapeamento em 3D.
No dia 8 de dezembro, quando o festival foi inaugurado, a instalação "Urban Flipper" converteu a fachada de um velho teatro em uma das maiores máquinas interativas de "pinball" no mundo. Bolas ricocheteavam pela fachada, acompanhadas por uma enxurrada de barulhos de fliperama e efeitos luminosos.
ALÉM DO TRADICIONAL
Matthew Clark, um dos fundadores do coletivo londrino United Visual Artists, disse que o que mais desperta seu interesse pela tecnologia de mapeamento com vídeo é o fato de lhe permitir ir além do tradicional retângulo plano que a maioria das pessoas associa a filmes.
"É uma coisa libertadora", disse Clark. "De repente, qualquer coisa pode ser sua tela." A 2012 Olympic Delivery Authority, uma das duas agências responsáveis pela organização das Olimpíada de Londres, convocou a United Visual Artists para participar da criação de um "estádio" a ser feito unicamente de tecido e luz.
Alguns desses trabalhos de arte possuem um viés ativista. Em novembro, o artista e ativista Mark Read organizou uma projeção do "Ocupe Wall Street", apelidada de "Bat-Sinal", e recrutou Max Nova e J.R. Skola para aproveitar a experiência deles com projeções em grande escala. Read disse que agora está ajudando a criar uma espécie de projetor "Batmóvel", algo que vai difundir visualmente a notícia de que o movimento "Ocupe" continua ativo.
Em uma linha semelhante, há seis anos o artista de novas mídias Evan Roth ajudou a lançar o uso de uma caneta de laser digital e um projetor de vídeo para fazer grafites em lugares públicos, mais ou menos do mesmo modo como um grafiteiro tradicional usaria uma lata de spray. Coletivos de arte em cidades como Berlim e Belo Horizonte utilizam os métodos de Roth para grafitar prédios, pontes e pátios escolares. Mas, apesar da emoção subversiva, esses grafites duram apenas enquanto o projetor está ligado, razão pela qual sites de vídeo como o YouTube são vitais para preservá-los.
"É o tipo de ativismo que não se resume a criar um sinal", falou Roth. "E é uma coisa da qual pessoas da minha idade podem ter interesse em participar, independente de suas posições políticas."
As ferramentas das projeções em 3D também infiltraram a música. Artistas como o rapper Drake e os músicos eletrônicos Skrillex e Amon Tobin recentemente percorreram os EUA com trabalhos de palco espantosos que usaram o mapeamento em vídeo. Muitos clientes corporativos também usam a tecnologia.
Alguns artistas questionam esse comercialismo. De volta à Canal Street, em Manhattan, um carro se aproximou para assistir "Space Monkey". O motorista abriu o vidro. "Ei", gritou, "isto é um comercial ou é arte?"

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