Há menos de 24 horas, certos blogueiros precipitados e jornalistas
pessimistas ("jornalista pessimista" é um pleonasmo, certo?) saíram por
aí falando cobras e lagartos sobre o fato de a Apple ter lançado nesta
terça-feira o iPhone 4S, em vez de um smartphone chamado iPhone 5.
Foi o primeiro lançamento depois da recente renúncia de Steve Jobs como
CEO (principal executivo) da Apple, para se tratar de um câncer
gravíssimo. Auditório pequeno, só para jornalistas americanos. Teste de
fogo para o sucessor que Steve Jobs deixou na empresa: Tim Cook.
Ninguém viu o tal esperado iPhone 5, ninguém sabe o que será um iPhone
5, mas esses blogueiros e jornalistas já se decepcionaram com o iPhone
4S, que mal ou nem viram.
O mundo de alta tecnologia, feito de inovação constante, seja boa ou
seja ruim, é assim mesmo. Igualzinho ao mundo das bolsas de valores, em
que os suspiros e as expectativas podem valer muito mais do que fatos
reais, concretos e palpáveis. Para muitas dessas pessoas, o instante
vale mais do que o longo prazo. Mesmo que seja uma ilusão. Dinheiro
fácil e rápido é mais importante do que obra duradoura, bem para a
humanidade, essas coisas.
Enquanto nesta terça textos na internet davam conta de uma queda
momentânea de 5% nas ações da Apple, que fecharam o dia com queda da
ordem de menos 0,5% (nenhuma grande coisa), quase nenhum desses textos
informava qual foi o aumento da ação da Apple nos últimos seis meses, um
ano ou dois anos. Impressionante! Fez muita gente rica!
Steve Jobs tinha seus defeitos. Era autoritário. Sabia humilhar
subordinados que não atendiam seus altos níveis de exigência de
qualidade, como fez recentemente com o cabeça do Mobile Me, serviço de
"cloud computing" (armazenamento e sincronização de informações na
"nuvem", ou seja, em computadores remotos que nem sempre sabemos onde
estão). Dizem que o cara foi demitido na frente da equipe, com Jobs
furioso, reclamando de quanto ele manchou o nome da Apple.
Eu mesma sou/fui uma vítima do Mobile Me, embora seja uma usuária e
admiradora da Apple. Entendo perfeitamente as razões de Jobs ter chegado
a esse extremo, embora não aprecie a forma como tudo se deu. Não havia
uma maneira de ter evitado os erros ("bugs", em computês) do Mobile Me
ANTES do lançamento do produto? Vou ganhar um ano grátis do iCloud (que
vai substituir o Mobile Me em breve), como brinde (que não solicitei)
pelos problemas que passei.
Mas Steve Jobs era um gênio. Na minha opinião, Jobs era "o" gênio do
chamado Vale do Silício, também conhecido como Bay Area, Califórnia. Sem
paralelo. Sem sucessor, por mais que eu aprecie o trabalho que Mark
Zuckerberg esteja fazendo com o Facebook.
Como ninguém, Steve Jobs soube entender a pessoa comum e criar aparelhos
e sistemas que amplificaram o entretenimento, além do mundo do
trabalho.
O centro da Apple era e é o usuário final. Usabilidade, esse palavrão
que hoje é termo corrente em qualquer empresa de internet ou de
sistemas, sempre foi a praia da Apple. Usabilidade quer dizer algo fácil
de usar. Como uma geladeira: abre e pronto. Ou adivinha como usar, sem
precisar ler manuais.
A última da Apple, nesta terça, foi justamente ter incorporado um
serviço chamado Siri (dando crédito a uma empresa que a Apple comprou
ano passado). Siri é uma assistente eletrônica que entende comandos de
voz e responde perguntas ou executa tarefas como: "Leia para mim o
e-mail que chegou agora", "Preciso sair de guarda-chuva hoje?" ou "Me
acorde às 6 da manhã amanhã", por exemplo.
Por mais que a Microsoft tenha copiado a Apple ao lançar o seu sistema
operacional Windows, nunca o Windows chegou ao patamar do rival. E Bill
Gates, o antigo CEO da Microsoft, sabe bem disso. Tanto que comentou
nesta quarta que o mundo raramente vê uma pessoa do calibre de Steve
Jobs, capaz de provocar impactos tão profundos, com efeitos que serão
sentidos nas próximas gerações. "Para aqueles que tiveram sorte o
suficiente para trabalhar com ele, foi uma insana grande honra. Eu
sentirei uma falta imensa de Steve Jobs", disse Bill Gates para o jornal
"The New York Times".
Quando até os arqui-rivais são obrigados a tirar o chapéu, aí está o homem.
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