Este era Steve Jobs: filho adotado, criança-problema e talento criativo, que não terminou nenhuma faculdade, amava eletrônicos, fazia molecagens como grampear todos os cômodos da casa da família para ouvir num headphone ou coisas encantadoras como criar shows de laser acoplados às caixas de som nas festas juvenis, mas não sabia escrever programas de computador.
Entretanto, ele criou com um amigo mais velho e engenheiro genial chamado Stephen Wozniac o que veio a ser a empresa mais valiosa do mundo. E mudou profundamente a maneira como as pessoas lidam com computadores e com entretenimento.
A biografia "Steve Jobs", lançada ontem, é um livro de encomenda, escrito por um biógrafo que hesitou em aceitar o pedido do biografado.
Walter Isaacson hesitou pelos altos e baixos da carreira de Jobs, mas aceitou a incumbência com a promessa de que o fundador da Apple não leria nem censuraria o livro antes de sair. Exceto a capa, que Jobs pediu para ver, não gostou e devolveu com contraproposta.
Genioso, tenaz, vaidoso e às vezes rude, controlava de perto a criação dos produtos, o marketing, a publicidade e o departamento financeiro. Dizia que produtos quase bons não eram bons. Que queria apenas produtos insanamente bons.
O livro foi feito com base em cerca de 40 conversas recentes entre os dois, além de mais de cem entrevistas com familiares, amigos, adversários, concorrentes e colegas.
Sabemos então detalhes como os problemas que causava na escola primária, a forma como uma professora soube seduzi-lo a estudar, subornando-o com pirulitos e dólares em troca de exercícios extras de matemática.
Depois recomendaram que pulasse dois anos à frente, mas o pai só aceitou que pulasse um.
Transferido de escola, conviveu com gangues e sofreu bullying, ajudou a pôr explosivo na sala de aula e outras desgraças que, lá pelas tantas, o fez implorar ao pai que o mudasse de novo.
Exemplares de "Steve Jobs", biografia lançada mundialmente nesta semana, na Livraria da Vila, em São Paulo |
Deixou de frequentar a igreja luterana com a família aos 13, quando viu crianças famintas na capa da revista "Life" e confrontou o pastor, perguntando se Deus estava ciente daquilo. O pastor respondeu que sim.
Aos 15, tinha um carro e começou a fumar maconha. Depois fez viagens com LSD e foi à Índia, namorou Joan Baez, que, por sua vez, tinha namorado seu ídolo Bob Dylan. Tudo no contexto da contracultura embebida de silício.
Nunca quis contato com seu pai biológico, de origem síria, um homem estudado e bem-sucedido que chegou a se gabar de gerenciar um restaurante frequentado pelas melhores cabeças do Vale do Silício. "Até por Steve Jobs", disse uma vez sem saber que falava de seu próprio filho biológico, a quem nunca procurou e a quem sobreviveu.
Briguento, Jobs ameaçou recentemente gastar todo o caixa da Apple, se preciso fosse, para destruir o Android, sistema operacional do Google que imita o da Apple. Mas ele mesmo tirou a ideia do mouse numa visita à Xerox.
Alguém que ele admirava era Mark Zuckerberg, pois, se todos falam em rede social, para Jobs só há realmente uma: o Facebook. E Mark até hoje não vendeu a empresa.
Sobre a morte, comentou: "Às vezes acho que é como um botão liga-desliga. Se muda para desligar, você se vai".
Steve Jobs
AUTOR Walter Isaacson
Editora Companhia das Letras
Quanto R$ 49,90 (624 págs.)
Tradução Berilo Vargas, Denise Bottmann e Pedro Maia Soares
Avaliação Bom
Nenhum comentário:
Postar um comentário