quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Brasileiro que criou Kinect quer fazer algo 'dez vezes melhor'

O brasileiro Alex Kipman revolucionou não só o mundo dos videogames, mas o conceito da interação com a tecnologia por meio do Kinect, um sistema de reconhecimento de movimento com o qual tenta "inventar o futuro".
Depois da sensação causada pelo Kinect no mercado com apenas um ano de vida, a tarefa de Kipman, diretor de incubação do Xbox, o console da Microsoft, não é nada fácil. Primeiro, superar a si mesmo; depois, criar algo que continue o caminho iniciado.
"Meu trabalho é inventar o futuro", disse em entrevista à Efe no quartel-general da Microsoft em Seattle, na qual fez um balanço sobre o primeiro aniversário de um dispositivo cujo uso se estendeu a novas aplicações que afetam a "vida real", inclusive a medicina.
Alex Kipman, funcionário brasileiro da Microsoft que criou o dispositivo Kinect, para Xbox 360
Apaixonado por seu trabalho, esse engenheiro de 32 anos, que foi recrutado pela Microsoft logo após terminar seus estudos de engenharia de software, afirma: "Agora eu sou minha própria concorrência. O que precisamos fazer tem que ser dez vezes melhor que o Kinect".
Graças a seu sofisticado software, que consta de um sensor de profundidade, microfones e uma câmara que acompanha o movimento do corpo em espaço tridimensional, o Kinect é capaz de escanear o jogador para que atue de forma interativa com seu avatar na tela do televisor.
A visão por trás do Kinect, que ele define como "uma viagem que acaba de começar", é adaptar as tecnologias para "poder interagir com as máquinas de uma forma muito mais natural, como funciona no mundo real".
"As tecnologias estão cada vez mais presentes, temos mais dispositivos e aparelhos nas mãos, tornando nossa vida mais complicada. Nossa visão é ir contra isso", afirma, antes de explicar que em seu laboratório foi capaz de criar "pela primeira vez, experiências que nos entendem, e não [experiências] que nós temos que entender".
O acessório Kinect, para Xbox 360, que começou a ser vendido em novembro do ano passado
O engenheiro lembra que, até pouco tempo atrás, esses conceitos para o público eram "ficção científica", mas seu objetivo é transformá-la em feitos.
"Isto é algo histórico e não é só algo que mudou o mundo dos videogames e do entretenimento, mas que causa mudanças fundamentais na vida cotidiana", algo conhecido como o "efeito Kinect".
Seis meses após o seu lançamento, a Microsoft liberou o kit de desenvolvimento (SDK) do aparelho para Windows, que já é empregado em outras atividades associadas à vida real, como tratamentos para as crianças com danos cerebrais e pacientes com esclerose múltipla.
Kipman se mostrou "entusiasmado" com as novas aplicações de sua invenção, "mas não surpreendido" por seu "enorme potencial". "Temos que entender que a linguagem da tecnologia tem uma nova cara. É algo com o que se pode interagir de uma forma muito mais interessante e natural. E isto é só o começo", acrescenta.
O próximo passo para o Kinect será uma nova versão, ainda não anunciada, aprimorada do dispositivo, enquanto o futuro no mundo dos videogames está por ser desvendado: "É algo que não vimos ainda".
"Não é preciso usar uma bola de cristal para afirmar que daqui a dez anos nada será o mesmo", diz Kipman. "Há dez anos quase não tínhamos internet e agora quase não podemos viver sem ela. A maioria das pessoas não tinha telefones celulares e agora não podem se imaginar sem esses aparelhos", lembra.
Kipman está agora trabalhando em novos projetos --"nada que eu possa contar"-- e continua em contato com a equipe do Kinect, mas avança em sua constante busca para reinventar o mundo dos videogames.
Ele se declara viciado em trabalho e se diverte em seus laboratórios fazendo testes e criando hardware e software e trocando ideias com seus colaboradores, cerca de 20 pessoas.
"Não levo trabalho pra casa, nunca. Se não estou no escritório não estou trabalhando, não olho e-mails, não checo o telefone, não existe nada relacionado com a Microsoft em meu tempo livre", diz Kipman. "Afinal passo 20 horas por dia, sete dias por semana, no trabalho", brinca.
Entre seus passatempos, além de jogar "muitos videogames", estão a música e o esoterismo.
Agora ele quer passar o tempo com sua filha Ana, que nasceu em novembro do ano passado, na mesma semana em que lançou o Kinect. "Quero passar a maior parte do tempo com ela, vendo como ela descobre o mundo através de seus olhos, algo fascinante."

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