Essas duas ideias, uma delas indisputável e a segunda uma combinação de previsão e esperança, dominaram as discussões sobre a Apple um dia após Jobs deixar o posto de presidente-executivo.
Cook deve ter um ou dois anos fáceis pela frente, concorda a maioria dos analistas. A empresa continuará a lançar celulares, tablets e computadores mais rápidos, mais finos e mais leves do que os modelos precedentes.
Promovido da Vice-Presidência de Operações, Cook tem ampla experiência em garantir o suprimento dos componentes de primeira linha necessários para isso.
Mas chegará o momento em que os executivos da empresa terão de desenvolver um novo produto --como o iPod, o iPhone ou o iPad-- que crie uma categoria totalmente nova. Terão de vislumbrar o futuro e torná-lo real.
O Vale do Silício foi criado com base nesse conceito, o de que garotos em uma garagem podem criar algo capaz de derrubar a ordem estabelecida. É essa exatamente a história da Apple. No entanto, é muito mais difícil assumir grandes riscos quando você não está na garagem, e sim no comando de uma empresa de 50 mil funcionários.
Steve Jobs mostra a versão branca do iPhone 4 à época do lançamento |
Cook sabe disso. Agora ele provavelmente terá muitas chances de assumir riscos.
"Eu me inclinaria por uma visão otimista", disse Michael Maccoby, consultor de gestão. "É difícil preencher o vazio deixado por Jobs, mas não impossível. Há muitos fatores positivos. A Apple criou a plataforma, a tecnologia, patentes, processos. Criou as lojas Apple. Criou atitudes entre os consumidores."
Ainda assim, gênios como Jobs não existem aos montes.
"Jobs era capaz de criar algo de belo e de remover todo fator de medo quando ao produto. O que os primeiros Macs fizeram foi dizer que um computador era somente uma ferramenta e qualquer pessoa poderia usá-la", afirmou Jay Elliott, um dos primeiros executivos da Apple.
Cook, um homem de fala mansa, tem personalidade oposta à do temperamental Jobs, o que pode representar vantagem, disse Jeffrey Pfeffer, professor de comportamento organizacional em Stanford. Sob outros critérios, os dois são bastante parecidos, e Cook poderia ser descrito como "Jobs light".
A Apple, em sua tradição de sigilo, não está agendando entrevistas com Cook, 50.
EQUIPE
Felizmente, para Cook, a Apple conta com diversos executivos que podem ajudá-lo a levar adiante o legado de Jobs --desde que permaneçam na companhia.
"Jobs foi inteligente ao se cercar de pessoas talentosas para fazer o que não era capaz ou para concretizar suas visões", disse Shaw Wu, analista da Sterne Agee.
Jonathan Ive, o vice-presidente sênior de design da Apple, tem papel crítico na companhia como responsável pela aparência e pela forma de operação de seus produtos.
Philip Schiller, o vice-presidente sênior de marketing, é outro executivo importante que ajudou a tirar a Apple da quase falência, no final dos anos 90. Ao longo dos seus 14 anos no posto, a empresa reverteu sua imagem e sua posição de vendas.
Mas um dos principais executivos da Apple já anunciou sua saída. Ron Johnson, que comandava a próspera divisão de varejo do grupo, vai assumir a presidência da cadeia de varejo norte-americana J. C. Penney.
Agora, para o bem e para o mal, as atenções estarão voltadas a Cook.
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