Os motivos não foram revelados, mas o executivo está desde janeiro de licença médica --a terceira nos últimos sete anos.
"Sempre disse que, se chegasse o dia em que não poderia mais cumprir meus deveres e expectativas, eu seria o primeiro a avisá-los", disse Jobs em comunicado (leia abaixo) à diretoria da Apple. "Infelizmente esse dia chegou."
Jobs passou por um transplante de fígado há dois anos e, em 2004, descobriu que tinha uma forma rara de câncer no pâncreas.
Nas suas raras aparições neste ano, como no lançamento do iPad 2, em março, ele pareceu ainda mais magro que o normal.
Apesar de estar de licença desde o início de janeiro (nem ele nem a Apple explicaram a razão), o momento do anúncio foi considerado surpreendente, aumentando ainda mais os questionamentos sobre o estado da sua saúde.
Segundo o "Wall Street Journal", o executivo continuava envolvido nos últimos meses na empresa e na estratégia de desenvolvimento de produtos --nova versão do iPad deve chegar às lojas nos próximos meses, assim como o mais recente iPhone.
TROCA DE COMANDO
Jobs afirmou que pretende continuar como empregado, diretor e presidente do conselho da Apple e recomendou que Tim Cook, 50, que o substitui desde janeiro, assuma a presidência definitivamente.
A direção da Apple confirmou que tanto Cook será o novo presidente-executivo como que Jobs comandará o conselho.
Cook está na empresa desde 1998 e foi o responsável por transformar a cadeia de fornecedores da Apple, tornando-a mais eficiente. Mas não tem o perfil de "showman" de Jobs.
Ainda que Jobs continue trabalhando, não se sabe qual o impacto que sua saída terá nos rumos da empresa, em que ele era a principal força criativa.
Ele teve papel fundamental no renascimento da linha Mac e no desenvolvimento de produtos como iPad, iPod e iPhone, que inicialmente pareciam supérfluos, mas que se tornaram fenômenos de massa, transformando a indústria em torno deles.
Isso não quer dizer que todas as suas investidas deram certo. O serviço MobileMe e, em menor grau, o Apple TV podem ser considerados apostas fracassadas.
FALÊNCIA
Ao retornar à Apple em 1996, Jobs (que fundou a empresa nos anos 1970 e saiu em 1984) liderou reviravolta em que transformou uma companhia à beira da falência em um ícone e na segunda maior do mundo em termos de valor de mercado, e muito perto da líder, a ExxonMobil.
Desde que assumiu, em setembro de 1997, a presidência-executiva da companhia, as ações da Apple se valorizaram em mais de 6.700%.
Como comparação, a Microsoft, que na volta de Jobs à Apple era a líder em tecnologia, vale hoje US$ 209 bilhões, cerca de US$ 140 bilhões menos que a rival.
As ações da Apple fecharam ontem com alta de 0,69%, mas o anúncio da saída de Jobs foi feito após o fechamento das Bolsas nos EUA. No "after market", os papéis chegaram a cair 7%.
Steve Jobs mostra a versão branca do iPhone 4 à época do lançamento |
CARTA
Leia o comunicado de Jobs:
"Ao quadro de diretores e à comunidade da Apple:
Sempre disse que, se houvesse um dia em que não conseguiria mais cumprir meus compromissos e expectativas como presidente-executivo da Apple, eu seria o primeiro a informá-los. Infelizmente, esse dia chegou.
Eu renuncio à função de presidente-executivo da Apple. Eu gostaria de servir, se a empresa concordar, como presidente do conselho, diretor e funcionário da Apple.
Quanto ao meu sucessor, recomendo fortemente que executemos nosso plano de sucessão com a nomeação de Tim Cook como presidente-executivo da Apple.
Acredito que os dias mais brilhantes e inovadores da Apple estão por vir. E estou ansioso para observar e contribuir para seu sucesso no meu novo posto.
Fiz alguns dos melhores amigos da minha vida na Apple, e agradeço a todos vocês pelos muitos anos nos quais pude trabalhar ao seu lado."
IDAS E VINDAS
Em 17 de janeiro, Jobs pediu a segunda licença médica da companhia. Mas, de acordo com a Apple, ele permaneceria envolvido com as "decisões estratégicas maiores" da companhia.
Jobs já se manteve afastado da companhia dois anos antes, quando recebeu um transplante de fígado --em 2004, Jobs teve um diagnóstico de um câncer raro no pâncreas.
"Tenho grande confiança de que Tim e os demais administradores executivos da equipe farão um magnífico trabalho fazendo os planos empolgantes que nós temos para 2011", disse Jobs, à época, em carta aos funcionários.
"Amo a Apple tanto e espero voltar assim que eu puder. Nesse tempo, minha família e eu apreciaríamos profundamente o respeito pela nossa privacidade.
Em 2004, Steve Jobs descobriu que sofria de um tipo raro de câncer no pâncreas. O tumor foi retirado após uma cirurgia considerada bem-sucedida, mas a informação sobre o assunto só foi divulgada quando ele já estava em tratamento.
Já em janeiro de 2009, o executivo anunciou que tiraria uma licença para descansar até o final de junho, a fim de se recuperar de uma doença que o tinha feito perder muito peso. Na época ele explicou que seus problemas de saúde tinham origem em um desequilíbrio hormonal e que o tratamento era "simples e singelo".
Entretanto, uma semana depois ele anunciou, por meio de comunicado aos colaboradores da Apple, que os médicos haviam verificado que seu problema de saúde era mais complexo do que havia imaginado, por isso se licenciaria.
Seu afastamento e os poucos detalhes divulgados sobre a doença de Jobs geraram especulações e preocupação entre alguns investidores, provocando a desvalorização das ações da empresa.
Em junho daquele mesmo ano, uma reportagem do "WSJ" revelou que ele se submetera a um transplante de fígado.
Um hospital do Tennessee (EUA) confirmou, dias depois, que o executivo-chefe da Apple passara por um transplante, mas que estaria bem e recebera "excelentes prognósticos" dos médicos. De acordo com o Instituto de Transplantes do Hospital da Universidade Metodista em Memphis, ele passou pelo procedimento naquele momento porque era o paciente em situação mais grave na lista.
Dias depois, o executivo já anunciava o retorno ao trabalho.
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