Serviços baseados em geolocalização e internet em tempo real foram as vedetes de um evento que, por si só, é uma vedete no mundo dos nerds, dos especialistas e dos fanáticos por tecnologia.
Trata-se do SXSW, South by Southwest --ou apenas "South by", para os íntimos, festival que acontece em Austin, Texas e que foi palco para a "descoberta" do Twitter --em 2007, o microblog foi premiado no evento.
Neste ano, pesquisa realizada no SXSW apontou a geolocalização (32% dos pesquisados) e a internet em tempo real (10%) como as tecnologias emergentes em 2010.
Em suas aplicações, as duas tendem a se entrelaçar. A internet em tempo real acontece quando se consegue diminuir, até a virtual inexistência, a distância entre a publicação de um conteúdo e o momento em que é experimentado pelo usuário.
Produtos e serviços
As aplicações podem ser tanto na internet aberta quanto em sistemas fechados --em sua palestra, o cientista da computação Jack Moffitt (também empresário e tecladista) citou como exemplo um programa que atualiza estoques assim que um produto passa pela caixa registradora. Ou mashups em que dados coletados no Twitter são utilizados em aplicativos que dispõem as atualizações geograficamente.
O Twitter mesmo lançou, recentemente, um recurso que possibilita localizar no mapa (geolocalizar) os tuítes do usuário. Assim, começa a acontecer a intersecção entre as duas tendências, combinando dados geográficos com dados em tempo real.
Emergentes
A geolocalização é a base de aplicativos e sites que começam a ganhar popularidade. O Foursquare (foursquare.com), lançado no SXSW de 2009, se apoia na integração entre dispositivos --computador e smartphones (iPhone, Blackberry, Android, Palm).
Os usuários utilizam seus smartphones para fazer check-in em restaurantes, parques ou lojas. Ou seja, ao chegar a algum lugar, avisam para os outros participantes da rede social que estão lá. E vão conquistando status à medida que fazem mais check-ins.
Outros serviços exploram o mesmo formato, com pequenas diferenças: Gowalla (gowalla.com), ganhador do Web Awards 2010 na categoria Mobile, Whrrl (whrrl.com) e Tweetsii (bit.ly/Tweetsii).
Além de propiciar discussões sobre maneiras úteis de aplicação, a tecnologia suscita questões sobre segurança. Nem todo mundo se sente confortável ou seguro divulgando onde está, a todo o momento. Os dados que circulam em serviços e aplicativos abertos podem ser lidos por outros aplicativos e sistemas, e às vezes é impossível saber para onde estão indo as informações pessoais.
Privacidade
Refletir sobre a responsabilidade de coletar e distribuir informações privadas --e as consequências disso-- foi exatamente a ênfase de Danah Boyd em sua palestra do evento.
A doutora pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e pesquisadora de mídias sociais da Microsoft Research apresentou uma série de desdobramentos, nem sempre desejáveis, de escolhas aparentemente inocentes e que são tomadas diariamente tanto por usuários de redes sociais quanto pelos profissionais que as projetam.
"Desejar privacidade não significa que as pessoas tenham algo a esconder, mas sim que elas querem ter controle sobre como a informação circula", diz Boyd, enfatizando que há diferenças entre informação que é disponível publicamente e informação que é publicada intencionalmente. Geralmente, as pessoas não fazem essa distinção, mas sentem-se violadas quando não têm controle sobre suas configurações (preferências em uma rede social).
Tropeços
Ela citou o Facebook, que recentemente mudou os termos de serviço e padrões de preferências de privacidade, tornando públicas informações que antes eram privadas. O site comunicou as mudanças e ensinou aos usuários o caminho para modificá-las de volta.
Porém pesquisas indicaram que a maioria das pessoas ou não fez isso ou apenas clicou em qualquer coisa para seguir adiante, sem realmente refletir sobre o que estava escolhendo --um comportamento típico de usuários de internet, que desejam apenas usar os serviços, sem ter que pensar em grandes decisões. Por isso, diz Danah, as escolhas precisam ser tomadas pelos serviços, e sempre assegurando a máxima privacidade.
"O modelo de negócios das redes sociais não encoraja a privacidade", diz Dare Obasanjo, programador da Microsoft que fez parte da mesa sobre web em tempo real.
Para ele, o mundo digital vai lidar ainda por um longo tempo com as questões envolvendo privacidade.
"Não há fórmula mágica para entender privacidade", finalizou Danah, que deu algumas dicas para pais preocupados com o que seus filhos fazem na rede: "Não crie regras, mas faça muitas perguntas. Ser um adulto não significa que você é um expert no assunto".
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