sexta-feira, 26 de março de 2010

Google encontra poucos aliados em batalha contra a China

O Google usou a liberdade da internet como lema em seu confronto com a China. Mas o silêncio ensurdecedor na arena empresarial dos Estados Unidos destaca até que ponto o Google parece estar isolado em um esforço para mudar as regras do maior mercado mundial de internet.
Apenas a GoDaddy.com seguiu o exemplo do Google no protesto contra as políticas chinesas de censura. A companhia de hospedagem e registro de domínios anunciou na quarta-feira que não mais registraria nomes de domínio na China, devido às novas regras que requerem que recolha fotos de seus clientes.

A decisão da GoDaddy, mais famosa por seus comerciais de duplo sentido do que pela defesa da liberdade da internet, contrasta acentuadamente com a resposta anêmica de outras empresas.
Microsoft, Yahoo! e outros costumam alardear os princípios de liberdade da internet, mas nenhuma delas seguiu diretamente o apelo do Google pelo fim da censura à Web na China. E, excetuada a GoDaddy, nenhuma outra companhia de tecnologia deu a entender que mudará suas práticas de negócio na China a fim de protestar contra a regulamentação e as restrições que existem naquele mercado.
"A China é um mercado muito importante", disse Jim Frieland, analista da Cowen and Co. "Qual é o incentivo para que um governo ou outra empresa se alie ao Google? Não existe incentivo, e é por isso que não vimos uma atitude como essa."
A dificuldade do Google em conquistar aliados pode ser a revelação dos desafios que o maior serviço mundial de buscas tem pela frente na China, já que o passado prova que se torna mais fácil negociar com o governo chinês caso uma empresa conte com amplo apoio.
No ano passado, uma campanha coordenada de organizações setoriais e do governo dos EUA levou a China a abandonar o controvertido plano de impor aos fabricantes de computadores a instalação de um software especial de filtragem de dados chamado Green Dam nas máquinas vendidas no país.
Mas o governo dos EUA parece ter decidido se manter afastado, desta vez, e definiu a decisão do Google como "assunto de negócios" no qual Washington não tem influência. No entanto, o Departamento de Estado anunciou que continuaria discutindo com Pequim a liberdade da internet.
Diferente do episódio Green Dam, a posição do Google sobre censura não é uma causa que muitas empresas de tecnologia queiram aderir publicamente.
Muitas delas tem muito mais negócios e ativos substanciais na China, como fábricas e armazéns, que o Google e por isso têm muito mais a perder.
Analistas estimam que os negócios do Google na China contribuem com modestos 1% a 2% do lucro líquido anual da empresa, que é US$ 6,5 bilhões. Enquanto isso, a GoDaddy afirma que a China contribui com menos de 1% da receita de U1 bilhão de dólares que espera gerar este ano.
"O governo chinês e o Partido Comunista têm uma habilidade única em influenciar empresas de uma maneira que podem tornar muito difícil para elas fazerem negócios em um mercado", afirmou uma fonte de um grupo de negócios que pediu para não ser identificada.
"Então as companhias estrangeiras têm que ser muito cautelosas sobre como se pronunciam."
O Google anunciou em janeiro que não vai mais censurar seus resultados de buscas na China, após ter afirmado ter sofrido um sofisticado ciberataque originado no país e que teve por intenção acessar contas de e-mail de ativistas chineses de direitos humanos.
Esta semana, depois de negociações infrutíferas com o governo chinês para operar um mecanismo de busca sem censuras na China, o Google encerrou a operação do Google.cn e redirecionou o tráfego de internautas para um site não mediado baseado em Hong Kong.
O Google pretende manter algumas operações em território chinês, incluindo pesquisa e desenvolvimento e equipe de vendas, mas o governo pode tornar as condições difíceis para a empresa.
Por exemplo, a China pode não permitir que o Google renove sua licença de internet, que segundo informações da mídia expira em um mês.

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