"Isso é um traço pessoal. Não é a internet que faz isso com uma pessoa", explica Cristiano Nabuco, 47, psicólogo e coordenador do projeto Dependência de Internet, no Instituto de Psiquiatria da USP.
Acontece que, "como o indivíduo fica 'protegido' pela tela, ele se sente mais livre para colocar vontades e estilos de comportamento para fora, exercitar papéis diferentes", diz o psicólogo.
Carlos Seabra, 55, coordenador editorial sobre educação na TV Cultura e consultor de projetos em internet, completa: "Um sujeito que só fala abobrinhas numa mesa de boteco vai incomodar três ou quatro pessoas; no Twitter, milhares. Incluindo eventuais freiras e outras senhoras."
Pensando no bem-estar de seus amigos, a Folha Online separou algumas dicas para fazer bonito na internet. Tome nota:
Não obrigarás os amigos a fertilizarem tua 'fazendinha'
Não é porque você adora um aplicativo ou comunidade do Facebook ou Orkut que todos os seus amigos também vão gostar. Pense nas pessoas adequadas quando for pedir ajuda na fertilização de sua plantação virtual, convocar para entrar em uma causa ou mesmo exibir sua condecoração no game Mafia Wars.
Se não houve retorno positivo ao convidar pessoas para algo, não insista. E tenha paciência: no telefone, a resposta é imediata; na internet, nem sempre os outros terão a mesma disponibilidade --ou interesse-- que você tem para participar de certas atividades e conversas.
Não falarás em vão sobre qualquer assunto
Publicar comentários no Twitter sobre qualquer tema, só pelo hábito ou para responder a alguma moda do momento, pode não ser uma boa ideia. Seus seguidores podem preferir algo mais interessante ou útil.
Se o seu seguidor não conhecê-lo pessoalmente, vai simplesmente parar de segui-lo. No entanto, se ele for seu amigo fora da internet, pode se sentir mal em parar de te seguir no Twitter e vai aguentar textos chatos só para não te magoar.
Honra teu nome
Antes de publicar uma mensagem, lembre-se: falar é diferente de escrever. Vai ficar gravado, e depois poderá ser usado contra você.
Pense também no público que vai ler. Às vezes, seria adequado que uma só pessoa lesse seu texto, e não o mundo inteiro.
Lembra-te do grupo para o qual estás falando
Cuidado ao mandar a mesma mensagem para mais de um e-grupo (grupos de discussão) ou comunidade. Se forem de temas parecidos, vários dos participantes podem participar de ambos os grupos e acaba ficando chato receber textos repetidos.
Exagerar na divulgação de um evento, ideia ou fato pode ser considerado "spam", o que irrita as pessoas e causa o efeito contrário ao desejado: desgosto pelo que se está divulgando --e por quem divulga.
Adequarás teu discurso
Ao participar de uma comunidade, veja se seus textos serão adequados.
Assim como você não entraria em um festa de gala de bermuda e camiseta regata, você também não seria bem visto se disparasse mensagens sobre música sertaneja ou funk em um grupo de rock. Ou se publicasse textos anticientíficos em um grupo que preza exatamente isso.
Por outro lado, quando for conversar privativamente com alguém --fora de grupos--, não crie estereótipos: não é porque você conheceu a pessoa em um ambiente esotérico, que ela só vá se interessar por esse assunto.
Não queimarás o próprio filme
Seja educado, assim como se espera fora da internet. Evite discurso preconceituoso, arrogante, insultos e escrever sempre em maiúsculas --correspondente à gritaria na internet.
Ao expor uma opinião, justifique. Outros poderão pensar de forma diferente sobre seu assunto, mas só terão como rebater de maneira civilizada a partir dos motivos de cada um.
A distância e possível anonimato na internet não podem ser usados como pretexto para criar um ambiente ruim.
Não criarás fakes
Você pode ser fã de alguém, como um astro do cinema, e querer imitá-lo; ou ainda cobrir seu perfil de expressões, fotos e estilos que estão na moda. Mas isso arrisca irritar seus amigos por causa das cópias: seja autêntico e não crie fakes (perfis falsos de outros).
Procure agir na rede com o mesmo comportamento que você tem pessoalmente.
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Fontes consultadas: além dos já citados Carlos Seabra e Cristiano Nabuco; Dayane Amaro Costa, 18, estudante de biomedicina; Ewout ter Haar, 42, holandês professor de Física e coordenador do projeto Stoa, rede social da USP; Laura Prado, 31, assistente jurídica na área de internet; Lisa López Smith, 28, canadense graduada em relações internacionais e pesquisadora sobre cultura da paz, no México; Lucia Freitas, 44, blogueira, empreendedora e coordenadora do Luluzinha Camp, rede de capacitação e ativismo feminino; Renata Viana da Silva, 25, farmacêutica; Rudá Hamada Magalhães, 20, barman; Sandra Hirashiki, 33, bibliotecária da Biblioteca Virtual do Estado de SP
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