domingo, 20 de maio de 2012

ShopAfrica53, uma empresa com ambições continentais

Alto e forte, alegre, aparentemente indolente, esse homem a quem todos apresentam como o Bill Gates africano tem mais um trunfo guardado na manga, como seria de esperar.
Depois de ter conquistado fama graças a uma companhia de software para empresas, esse empresário ganense está mudando de registro e vai lançar uma empresa nova com objetivo duplo: ajudar as pequenas e médias companhias do continente a vender seus produtos no mundo e, ao mesmo tempo, contribuir mais do que qualquer programa de assistência poderia para o desenvolvimento africano.
Herman Chinery-Hesse criou a SoftTribe.com em 1990, logo depois de concluir seus estudos nos Estados Unidos e de deixar seu primeiro emprego no Reino Unido. Formado em engenharia, ele já então havia compreendido que era possível fazer muitas coisas úteis com computadores e, depois de uma aposta em noite de carteado, decidiu convencer as companhias de Acra, sua cidade natal, de que contratá-lo para facilitar seu ingresso na era da informática seria bom negócio.
Mas em uma economia 70% controlada pelo governo, o mercado é sempre limitado. Ainda mais quando o objetivo é conseguir um importante contrato tradicional... em lugares onde as multinacionais contam com os mecanismos de pressão necessários para influenciar aqueles que tomam as decisões, e com isso obtêm bons resultados. Chinery-Hesse encontrou situações parecidas em outros mercados africanos nos quais tentou ingressar.
Por isso, decidiu buscar novos clientes com um modelo de negócios diferenciado e tecnologia adaptada às circunstâncias. Os programas da SoftTribe agora estão disponíveis em nuvem e podem ser baixados mesmo por quem disponha de banda muito limitada.
Para conquistar as pequenas e médias empresas, ele desistiu de contratos anuais e optou por receber apenas uma comissão mínima por transação realizada --no caso de uma frota de ônibus, apenas 1% sobre cada bilhete vendido. Os ganhos de sua companhia crescem à medida que cresce a venda de passagens.
A evolução é o início de uma nova estratégia. "Para mudar a África, é precisa mudar a maioria dos africanos, afetar a base da pirâmide", ao menos a porção dela constituída pelas pequenas e médias empresas, diz Chinery-Hesse.
O projeto mais importante que ele tem no momento é o ShopAfrica53.com, um site ao estilo do eBay cujo objetivo é "servir como intermediário às pequenas empresas", ele me explicou, na varanda de sua casa.
Sites em diversos países africanos permitirão que vendedores anunciem e compradores procurem produtos. As transações serão realizadas via mensagens de texto.
A falta de uma rede bancária para realizar compras e vendas online tornou necessário criar um sistema que Chinery-Hesse batizou de African Liberty Card, um cartão de raspadinha que a ShopAfrica53 produz e colocou em circulação. O cartão permite carregar dinheiro instantaneamente em um celular, e com isso realizar compras. Um exemplo perfeito da necessidade de criar infraestrutura, com a qual se deparam todos os empresários africanos, a exemplo de Bright Simmons, que falou do assunto na semana passada (artigo de 18 de novembro).
A logística cabe inteiramente a empresas convencionais de courier, como a DHL, FedEx e outras. "Elas sabem como retirar um pacote em um morro qualquer e entregá-lo em Zaragoza, Toulouse ou Miami", explicou Chinery-Hesse. "Não preciso me preocupar com esse assunto". O custo é financiado "pela diferença entre os salários da África e os da Europa e Estados Unidos".
O empresário reconhece que seu projeto precisará de certo tempo para se impor --talvez cinco anos. "Mas será mais efetivoa que qualquer assistência externa que possamos receber no período. Não conheço país algum que se tenha desenvolvido por força de assistência externa. É uma cortina de fumaça. Nós faremos melhor, e acima de tudo com dignidade".

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