quinta-feira, 24 de maio de 2012

Gangsourcing para o bem do planeta

Lançada em 2010 por dois jovens franceses de 23 anos, a Makesense.org quer ajudar os empreendedores sociais de todo o mundo a realizar seus projetos, com apoio de voluntários não importa onde estes estejam localizados. E nessa aventura a companhia conseguiu criar um método inovador de trabalho.
Christian Vanizette e Romain Raguin se conheceram na Euromed, uma escola de comércio de Marselha. Selecionam os candidatos com base em seus projetos, e oferecem treinamento adaptado às necessidades específicas de cada um. Com isso, a formação dos empreendedores é "forçosamente pró-ativa e necessariamente personalizada", explica Vanizette, um sistema diferente do adotado na Universidade Harvard, com seus estudos de caso. (Os dois parecem ter compreendido que uma mudança era necessária.)
De origem taitiana (por parte de pai) e vietnamita (por parte de mãe), Vanizette, com quem conversei em Paris, tem o encanto da mestiçagem lentamente amadurecido sob o sol, e o dinamismo de um empreender que sabe muito bem o que quer: mudar o mundo mas sem imaginar que por isso ele equivalha à Madre Teresa de Calcutá.
Interessados naquilo que Muhammad Yunis entende como "negócio social", uma empresa que não perde dinheiro nem distribui dividendos, e que tem por objetivo resolver um problema social, os dois decidiram viajar à Ásia no começo de 2010 para averiguar como os asiáticos operam.
Sem contatos ou preparativos prévios, desembarcaram em Nova Déli... com a cara e a coragem. A primeira iniciativa foi um vídeo divertido acompanhado por um tweet, "para nos apresentarmos". Um blogueiro conhecido os descobriu e se ofereceu para divulgar o trajeto dos dois em seu blog. Foi assim que empreenderam sua longa jornada pela Índia, ao ritmo de sua inspiração, "de encontro bacana a encontro bacana".
Cada um desses encontros resultou em um vídeo no qual os interlocutores dos dois relatavam os desafios que enfrentavam. Os vídeos eram subsequentemente distribuídos via blog no site we.makesense.org, um excelente nome de domínio que os dois tiveram a inteligência de adquirir com um prêmio de mil euros ganho em um concurso escolar.
Ao voltar, encontraram em funcionamento um site que "não funcionou como devia até que percebemos que era preciso criar uma dinâmica offline, porque foi graças à combinação entre online e offline que nos demos bem em nossa viagem", diz Vanizette. Não demoraram a começar a organizar oficinas -80 em 2011 e 25 em janeiro de 2012, tudo isso a através de uma página de contato para empreendedores sociais no Facebook. Os participantes são convidados a expor os desafios que enfrentam, por exemplo como melhor vender bolsas de papel feitas por mulheres indianas.
Mas o ponto forte da empresa é o estilo. O vocabulário é diferenciado. O Makesense.org é um grupo de "gangs" (toda a terminologia está em inglês), formadas por "gangsters", e as oficinas são "holdups" (assaltos". Vanizette explica, com ar angelical que "isso é influência do rap dos anos 90", e representa sua vontade de manter distância do linguajar utilizado pelas grandes empresas.
A engrenagem está bem azeitada e o Makesense está a ponto de lançar um aplicativo para organização de "assaltos". As solicitações de assistência se enquadram em três categorias: negócios, tecnologia e design. Os voluntários que ofereçam ajuda podem escolher entre quatro modalidades: "posso ajudar", "conheço uma pessoa", "distribuo mensagens" e "organizo um assalto". O método é escolhido de acordo com a necessidade: uma sessão de brainstorming, se a questão é de organização, ou um hackathon, se o problema é de tecnologia. O uso de técnicas de jogo faz com que "a gente se divirta enquanto trabalha para resolver carências sociais". Os participantes incluem do "DJ dude" (amigo) ao DJ Bouddha.
Inspirado pelos processos de trabalho da comunidade de software de fonte aberta (Apache e W|ordpress), a plataforma do Makesense serviu de modelo a outras iniciativas (SenseSchool.org, para as escolas, por exemplo). Tudo depende de um conceito que reluta em encontrar nome, o de gangsourcing (talvez tribesourcing): o recurso à ajuda externa de pequenos grupos conectados e motivados.

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