quinta-feira, 31 de maio de 2012

Quando os argentinos saem à conquista dos Estados Unidos

EM BUENOS AIRES - Os mercados estão no norte, o talento no sul, e a tecnologia em toda parte: é essa, em poucas palavras, a fórmula sobre a qual a Globant.com, produtora argentina de software para empresas, edificou sua estratégia. E ela funciona: criada em 2002 com apenas US$ 5 mil em investimento, a companhia agora tem 2,5 mil funcionários, quatro escritórios nos Estados Unidos, um no Reino Unido e 20 na América Latina. Sua longa lista de clientes inclui algumas das empresas mais inovadoras do mercado, do Google à Electronic Arts, passando por LinkedIn e Zynga.
A receita: 90% do faturamento vem do norte, enquanto 80% do desenvolvimento tecnológico e artístico é realizado no sul. "Faltam talentos nos grandes mercados, e eles sobram em cidades relativamente pequenas, em lugares inesperados onde ninguém dá oportunidade a essas pessoas", me diz Guibert Englebienne, vice-presidente de tecnologia da Globant, em sua sede em Buenos Aires.
Os "talentos" que interessam a Englebienne são designers e programadores. Ele utiliza esses recursos, indispensáveis para quem deseja inovar hoje em dia, em um contexto de inovação aberta, para evitar a maior armadilha do mercado B2B (business to business), a oferta de software pouco robusto aos clientes com os quais uma companhia, por exemplo um banco, tem contratos.
"As novas gerações são mais autônomas, tão inclinadas a produzir quanto a consumir. Pertencem a comunidades mundiais abertas e dispõem de tecnologia melhor em casa", diz Englebienne. "A maioria das empresas as veem como desafios. Nós ajudamos nossos clientes a seduzi-las".
"Todos os meus funcionários anseiam por participar do processo de criação", diz Englebienne. Quando um cliente propõe um novo problema, a empresa cria uma lista para o contato entre as pessoas interessadas em discutir o assunto. "Realizamos diversas sessões de brainstorming" (sempre em inglês), para "escutar melhor a inteligência distribuída por toda a organização".
"Estamos no negócio de 'fitness', de colocar as pessoas em forma", prossegue. "Permitimos a nossos clientes, a nossos funcionários e aos países em que operamos que estejam sempre prontos para participar da concorrência da qual emergirá o mundo do amanhã". Ele considera que o mundo seja mais plano (no sentido de mais aberto), e que "as necessidades são tão grandes que inovações procedentes do mundo inteiro serão utilizadas sem que a terceirização externa seja sinal de baixa qualidade".
O desafio consiste em identificar talentos em número suficiente para que a companhia possa operar em nível mundial. Na Argentina, como em muitos lugares, a educação está com pelo menos 50 anos de atraso. Por isso o constante esforço da empresa em formar profissionais e o investimento nos Globant Labs, que realizam pesquisas sobre projetos futuristas tais como robótica, biotecnologia, realidade ampliada, jogos etc.
A Globant não se interessa pelos mercados do sul. "A demanda mundial de serviços digitais provém em 90% dos Estados Unidos, Reino Unido e Japão. Perderíamos tempo em outros lugares", diz. "Os mercados que nos importam são aqueles em que a corrupção desapareceu, que se baseiam em rigorosa meritocracia e nos quais a tomada de decisões é rápida". Mas quando pergunto se ele planeja se radicar em Nova York, diz que "não necessariamente". O componente cultural conta muito para as companhias cuja base é o pessoal especializado. "É preciso cuidar disso constantemente. Esforçamo-nos para ter sempre um pé no escritório e o outro no avião". O mundo é plano, como ele disse, mas sua prática indica que não seja homogêneo.

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