Você acha que seu televisor de tela plana é grande? Pois ainda não viu nada.
A maneira pela qual assistimos TV deve mudar significativamente no
futuro. Um "papel de parede" modular, com funções de TV, dominará a sala
de estar com telas que circundam o espectador e utilizam sua visão
periférica para criar uma experiência de verdadeira imersão. Além disso,
será possível usar parte da tela para programas, filmes, páginas da web
ou mensagens no Twitter.
Como o telespectador poderá organizar tudo isso em sua gigantesca tela de imersão?
É o tipo de pergunta que a NDS (New Digital Systems), criadora de
tecnologia de transmissão para TV paga, diz que as redes de mídia
eletrônica precisarão se perguntar na próxima década --quando os
televisores do tamanho da parede se tornarem realidade prática, que vá
além das imagens de baixa resolução oferecidas pelos projetores ou das
grandes telas planas de alto consumo de eletricidade.
"É espantosa a precisão com que a ficção científica previu o avanço da
tecnologia televisiva", diz Simon Parnall, vice-presidente de tecnologia
da NDS, em Staines, Reino Unido.
OLED VS. LCD
A mais recente ideia da companhia, Surfaces, toma por base o fato que a
próxima geração de televisores de telas planas, baseados em OLED (diodos
orgânicos emissores de luz), vai baixar de preço consideravelmente nos
próximos cinco a dez anos.
As telas OLED tem uma grande vantagem: diferentemente das telas LCD, não
precisam de iluminação lateral, e por isso a área de imagem pode se
estender até a borda da tela. Isso significa que podem ser montadas lado
a lado para criar uma superfície de exibição contínua.
"A tecnologia de telas OLED poderá ser modular, e os módulos poderão ser
montados em qualquer formato desejado, não apenas em formações
retangulares", disse Parnall, durante o Future World Symposium,
realizado em abril em Londres.
DE R$ 25 MIL A R$ 3 MIL
Os primeiros televisores OLED, com tela de 1,4 metro, chegarão ao
mercado ainda este ano pelas sulcoreanas LG Electronics e Samsung. É
provável que seu preço inicial seja de oito mil libras (cerca de R$ 25
mil), diz John Kempner, comprador de TV e vídeo da cadeia de varejo
britânica John Lewis Partnership.
Ele também acredita que a tendência seja de "deflação bastante rápida de
preços", e antecipa que o custo deve cair abaixo das três mil libras
(menos de R$ 10 mil) em dois anos. Modelos custando mil libras ou menos
(aproximadamente R$ 3 mil) devem estar disponíveis dentro de cinco a dez
anos.
PAPEL DE PAREDE
Usando seis painéis OLED, a NDS construiu um protótipo de tela de 3,6
metros por 1,4 metro, que quando não está em uso exibe a imagem da
parede por trás dela. "É ambiente", diz Parnall.
Um servidor de vídeo encaminha conteúdo à tela sob o controle de um
navegador comum no celular inteligente ou computador do usuário, e
também permite que este selecione em que porção da tela deseja ver seus
vídeos, a web, páginas de mídia social ou Skype. Alguns televisores
atuais já podem ser controlados por meio de um aplicativo, e não só de
um controle remoto, segundo Kempner.
O protótipo está exibindo o programa de talentos "X Factor" no centro da
tela, com conteúdo de internet sobre os participantes na direita, um
widget para votação abaixo e páginas de Twitter mostrando a reação dos
espectadores à esquerda.
GRAU DE IMERSÃO
Um aspecto central da experiência está em determinar o grau de imersão
que os usuários desejam. Uma família que esteja assistindo a um filme
pode optar por imersão profunda, e fazer com que o filme cubra a maior
parte da tela --talvez apenas com uma faixa para comentários de mídia
social, abaixo.
Para menor imersão, notícias podem ser exibidas no centro, em companhia
de notificações no Skype ou nas redes sociais, com conteúdo da web na
periferia. Canais de som separados podem ser transmitidos ao celular ou
fone de ouvido de cada usuário.
INFINITO LATERAL
Não é só a NDS que está trabalhando para mudar a maneira pela qual
assistimos TV. Daniel Novy e Michael Bove, do MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts), estão desenvolvendo um sistema de imersão
chamado Infinity-by-Nine --uma referência ao formato de tela 16:9 que se
tornou padrão nos televisores modernos.
"Tiramos vantagem de alguns truques de percepção", disse Bove. "A visão
periférica não é sensível a detalhes, mas o é a movimentos, e o cérebro
realmente deseja criar uma explicação coerente sobre aquilo que sua
visão periférica e sua visão central, ou foveal, veem".
Eles empregam software de visão mecânica para analisar um filme, por
exemplo, e depois gerar em tempo real um padrão móvel, de baixa
resolução, que se assemelha à imagem da tela. O padrão é projetado nas
paredes adjacentes e no teto.
"O espectador não contempla diretamente as imagens adicionais, mas sua
presença aprofunda o senso de imersão naquilo que a tela oferece", diz
Bove.
O método funciona porque, embora a percepção de cores e detalhes seja
menor em nossa visão periférica, a sensibilidade a movimentos nessas
fímbrias visuais continua forte.
Assim, o Infinity-by-Nine precisa apenas mover o padrão de baixa
resolução com a mesma velocidade da imagem principal, a fim de reforçar a
sensação de imersão espacial dos espectadores.
"Embora o efeito possa ser mais forte para aqueles que ocupam uma
posição central ao assistir, também é poderoso para os ocupantes de
outras posições. Temos diversos sofás na sala de teste e, quando
deixamos um filme passando muitos vezes, voltamos e encontramos todos
eles ocupados --e pessoas sentadas até no chão", diz Bove.
DISPERSÃO E CONTROLE
Mas o excesso de informação pode distrair --e até incomodar-- alguns
espectadores. É por isso que Valentin Heun, também do MIT, está
experimentando um sistema chamado FocalSpace, que usa as câmeras de
profundidade do Microsoft Kinect.
O sistema usa o aparelho da Microsoft para perceber em que direção o
espectador está olhando e reforçar dinamicamente o contraste e a cor das
imagens nesse ponto, tornando aquela porção da tela mais clara e
facilitando a concentração.
O Kinect e outros sistemas parecidos também poderiam controlar o sistema
NDS, talvez oferecendo grau de controle superior ao de um aplicativo. A
Samsung já permite controle de gestos e voz no seu modelo inteligente
ES8000, recém-lançado.
"Os gestos são uma forma mais natural de fazer esse tipo de coisa", diz
Chris Wild, vice-presidente de tecnologia na produtora de software
interativo Altran Praxis, de Bath, Reino Unido. "Movimentos de mão e
olhos oferecem escopo mais amplo e uma gramática mais completa para o
controle fino de telas grandes, se comparados aos controles de tela de
um celular inteligente."
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