Cemil Turun é sem dúvida o mais ambicioso dos empreendedores que
entrevistei até agora. Quer inventar uma moeda que funcione tão bem
online quanto offline. Diante do ceticismo deste jornalista, ele se
apressa a acrescentar que sua empresa, a Yogurt Technologies
(yogurt.com.tr) foi uma das primeiras seis de seu país a receber
investimento dos grupos internacionais de capital para empreendimentos.
Portanto, há pessoas que o levam a sério. Vamos falar de seu plano.
A primeira etapa foi criar o Yogurtistan.com, "um mundo em 3D muito
diferente do Second Life. Baseado no Adobe Air, opera em todos os
navegadores. Nele, é possível acessar a iTunes, ler livros ou assistir
programas de TV em tela cheia".
Assim como passamos de loja em loja ao caminhar pela rua, no Yogurtistan
"o visitante passa do site da Migros ao site da Quick Silver (duas
empresas turcas conhecidas) sem precisar nem clicar". Isso supõe uma
"nova Web", capaz de imitar melhor o comportamento das pessoas offline.
"Quando assistimos a um filme no cinema ou compramos jeans, criamos
dados sobre nossos gostos. Hoje em dia, esses dados não estão conectados
de maneira útil às redes sociais".
A etapa seguinte será criar uma moeda que sirva tanto para realizar
transações online quanto para "pagar a conta deste restaurante em que
estamos jantando", ele me explicou durante um jantar em Istambul. A
ideia dele é acrescentar "uma quarta dimensão: nosso envolvimento com o
mundo online. Os lucros virtuais auferidos nas últimas horas não
permitem comprar um copo de vinho". E é isso que a equipe da Yogurtistan
deseja mudar.
"Trabalhamos na criação de uma moeda especial que valha para ambos os
mundos", explica Turun. O nome é kayme, uma antiga palavra turca usada
quando as cédulas bancárias começaram a ser utilizadas.
Na Turquia, Turun está baseando seu projeto em programas que geram
pontos de fidelidade. "Estabelecemos acordos com a maioria dessas
empresas, para permitir a conversão de seus pontos de fidelidade à nossa
moeda", disse.
E é quanto a isso que o projeto ganha dimensões enormes. "Um dia, quando
você voltar a este restaurante, poderá perguntar se eles aceitam
créditos do Facebook. A amizade é linda... mas gastar dinheiro é uma
parte essencial da vida. Precisamos de uma moeda conversível em ambas as
direções", a virtual e a física.
Turun tem entre seus clientes a Coca-Cola e a Turkcell --a maior
operadora de telefonia móvel da Turquia. Os comerciantes estão
interessados nos dados recolhidos. "Contatarão seus clientes graças aos
apps da Yogurtistan. Os usuários (que participarão apenas se desejarem)
serão pagos pelas empresas em kayme, e a moeda virtual se sustentará com
os orçamentos publicitários já existentes".
Parece insano, mas... apropriado, com o ar da era atual.
Mark Andreessen, criador do Netscape, o primeiro navegador para a Web, e
grande investidor no Vale do Silício, está convencido de que o
"software está devorando o mundo". E Reid Hoffman, co-fundador do PayPal
e do LinkedIn, publicou recentemente um artigo na revista "Forbes" no
qual afirma: "Estamos no início de uma imensa onda de inovação no setor
de pagamentos". Os programadores não demorarão a acrescentar
funcionalidades aos cartões de crédito, para conectar certas operações a
aplicativos online.
Turun não é o único interessado em inovar nessa área, mas será que ele
conseguirá sucesso? Eis sua resposta, enviada por e-mail: "Uma empresa
como o Facebook poderia estar em melhor posição para isso, mas é grande
demais para mudar de rumo. E essa é a essência das start-ups. Tudo que
temos é a vontade de realizar esse projeto. Se conseguirmos será porque
sou suficientemente louco para acreditar que podemos :-)".
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