Pai do serviço "My Location", do Google, no qual trabalhou durante cinco
anos, recebedor de múltiplas honrarias no Vale do Silício, doutor pela
Universidade de Maryland, Adel Youssef, 39, decidiu voltar ao seu país
natal, o Egito. E o fez em 2010, antes da revolução que veio a
interpretar como "sinal de que havia escolhido o caminho correto".
Faz parte do seletíssimo grupo (formado por 14 pessoas) de ganhadores do
Google Founders' Award, destinado aos funcionários da companhia que se
distinguem com projetos "fenomenais", nas palavras de Sergey Brin,
co-fundador do serviço de busca.
Youssef é uma eminência nos serviços baseados em localização. "O projeto
de location é meu bebê", ele me disse em entrevista via Skype. "Foi
algo que criei do zero. Gerou imensas mudanças, porque nem todos os
aparelhos dispõem de GPS. No começo, permitia localização através das
antenas de telefonia móvel, às quais adicionamos dispositivos Wi-Fi.
Hoje, é o sistema de localização mais utilizado no mundo: pelo Android,
iPhone, celulares Nokia, todos".
Mas o verdadeiramente "hot", hoje em dia, de acordo com Youssef, é a
informação hiperlocal e os serviços de check-in social, que informam a
amigos e contatos que um usuário chegou a dado local.
É o que ele pretende desenvolver no Egito, mas enfrenta grandes três desafios.
Apenas 1% dos celulares em uso no país são smartphones. "Algumas pessoas
podem se conectar à Internet, mas quase não utilizam o serviço", diz
Youssef.
A computação em nuvem tampouco é muito comum, e por isso é difícil criar
aplicativos para aparelhos móveis que extraiam da nuvem a informação
requerida. O problema mais difícil, porém, é o fato de que os dados
geográficos são escassos, praticamente inexistentes. É necessário criar
bancos de dados e encontrar formas de mantê-los atualizados.
Sua empresa, a Wireless Star, está enfrentando os três desafios ao mesmo
tempo. Para criá-la, convenceu cinco colegas seus que se haviam
transferido para a Califórnia a voltar ao Egito. A oportunidade é tão
grande quanto os desafios mas, insiste Youssef, "retornamos antes de
tudo para transferir tecnologia". Os jovens representam um enorme
potencial: "Têm entusiasmo, mas precisam que alguém lhes mostre o
caminho, lhes diga onde concentrar seus esforços, como criar uma
empresa"...
O primeiro projeto implementado pela Wireless Star foi a Intafeen.com,
uma rede social com base em localização. Ela consiste de "uma plataforma
em nuvem, disponível para centenas de programadores árabes. Temos uma
API (interface de programação de aplicativos) que pode funcionar com
apps para celulares e aparelhos sem GPS. Era a primeira coisa de que
precisávamos".
Como na União Europeia seis anos atrás, os árabes não sabem o que
significam os serviços baseados em localização, ou para que servem. E em
lugar de esperar que as coisas amadureçam sem ajuda, Youssef e sua
equipe decidiram se adiantar e criar o Intafeen. Mas é algo muito
diferente de uma simples cópia do FourSquare.
"O essencial de um serviço de localização está em sua maneira de ser
local", diz Youssef. "Aqui não podemos falar em bares ou casas de sushi.
Os norte-americanos podem usar o termo 'rato de academia' sem causar
ofensa, mas no Egito ele seria insultuoso. Os termos precisam ser
adaptados. Aqui não temos prefeitos, mas umdas, e no Golfo Pérsico eles
têm xeques". A implementação é complicada demais para que uma empresa
internacional se interesse por realizá-la, e a competência e experiência
de Youssef representam um capital fabuloso.
Mas onde fica a inovação, nesse processo?
"Nesta etapa, a questão da inovação é só um sonho. Quero construir a
tecnologia e adequá-la ao nosso mercado. Nossa equipe conta com toda a
capacitação necessária. A inovação virá depois".
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