terça-feira, 22 de maio de 2012

Quando a apropriação conta mais que a inovação

Pai do serviço "My Location", do Google, no qual trabalhou durante cinco anos, recebedor de múltiplas honrarias no Vale do Silício, doutor pela Universidade de Maryland, Adel Youssef, 39, decidiu voltar ao seu país natal, o Egito. E o fez em 2010, antes da revolução que veio a interpretar como "sinal de que havia escolhido o caminho correto".
Faz parte do seletíssimo grupo (formado por 14 pessoas) de ganhadores do Google Founders' Award, destinado aos funcionários da companhia que se distinguem com projetos "fenomenais", nas palavras de Sergey Brin, co-fundador do serviço de busca.
Youssef é uma eminência nos serviços baseados em localização. "O projeto de location é meu bebê", ele me disse em entrevista via Skype. "Foi algo que criei do zero. Gerou imensas mudanças, porque nem todos os aparelhos dispõem de GPS. No começo, permitia localização através das antenas de telefonia móvel, às quais adicionamos dispositivos Wi-Fi. Hoje, é o sistema de localização mais utilizado no mundo: pelo Android, iPhone, celulares Nokia, todos".
Mas o verdadeiramente "hot", hoje em dia, de acordo com Youssef, é a informação hiperlocal e os serviços de check-in social, que informam a amigos e contatos que um usuário chegou a dado local.
É o que ele pretende desenvolver no Egito, mas enfrenta grandes três desafios.
Apenas 1% dos celulares em uso no país são smartphones. "Algumas pessoas podem se conectar à Internet, mas quase não utilizam o serviço", diz Youssef.
A computação em nuvem tampouco é muito comum, e por isso é difícil criar aplicativos para aparelhos móveis que extraiam da nuvem a informação requerida. O problema mais difícil, porém, é o fato de que os dados geográficos são escassos, praticamente inexistentes. É necessário criar bancos de dados e encontrar formas de mantê-los atualizados.
Sua empresa, a Wireless Star, está enfrentando os três desafios ao mesmo tempo. Para criá-la, convenceu cinco colegas seus que se haviam transferido para a Califórnia a voltar ao Egito. A oportunidade é tão grande quanto os desafios mas, insiste Youssef, "retornamos antes de tudo para transferir tecnologia". Os jovens representam um enorme potencial: "Têm entusiasmo, mas precisam que alguém lhes mostre o caminho, lhes diga onde concentrar seus esforços, como criar uma empresa"...
O primeiro projeto implementado pela Wireless Star foi a Intafeen.com, uma rede social com base em localização. Ela consiste de "uma plataforma em nuvem, disponível para centenas de programadores árabes. Temos uma API (interface de programação de aplicativos) que pode funcionar com apps para celulares e aparelhos sem GPS. Era a primeira coisa de que precisávamos".
Como na União Europeia seis anos atrás, os árabes não sabem o que significam os serviços baseados em localização, ou para que servem. E em lugar de esperar que as coisas amadureçam sem ajuda, Youssef e sua equipe decidiram se adiantar e criar o Intafeen. Mas é algo muito diferente de uma simples cópia do FourSquare.
"O essencial de um serviço de localização está em sua maneira de ser local", diz Youssef. "Aqui não podemos falar em bares ou casas de sushi. Os norte-americanos podem usar o termo 'rato de academia' sem causar ofensa, mas no Egito ele seria insultuoso. Os termos precisam ser adaptados. Aqui não temos prefeitos, mas umdas, e no Golfo Pérsico eles têm xeques". A implementação é complicada demais para que uma empresa internacional se interesse por realizá-la, e a competência e experiência de Youssef representam um capital fabuloso.
Mas onde fica a inovação, nesse processo?
"Nesta etapa, a questão da inovação é só um sonho. Quero construir a tecnologia e adequá-la ao nosso mercado. Nossa equipe conta com toda a capacitação necessária. A inovação virá depois".

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