Uma curva exponencial, em seu início, é parecida com uma horizontal. As
grandezas que registra crescem tão lentamente que é fácil considerá-la
estática por um bom tempo. Até que um dia, quando ninguém mais presta
atenção, ela resolve se mover. Como uma tsunami no horizonte, seu
crescimento é certeiro e evidente, engolindo o que estiver no caminho e
se recusar a compreendê-la.
Boa parte do desconforto sentido pelas pessoas e empresas com relação às
mais recentes tecnologias e interações vem da busca por ignorá-las,
acreditando que são modinhas passageiras que eventualmente
desaparecerão. Isso não faz o menor sentido. Se um dia as pessoas
pararem de mandar vídeos para um YouTube (que hoje cresce à espantosa
razão de 35 horas por minuto) é porque o trocaram por outro serviço.
Como ele, Twitter, Blogs, Quora e outras redes são manifestações livres
de identidade. Os números do Facebook mostram claramente que, uma vez
aberta a porta da expressão, ela nunca mais se fecha. Pelo menos não
voluntariamente.
O excesso de demandas sociais cria uma forma diferente de desconforto
entre seus usuários. Não é mais o medo da ferramenta ou a nostalgia por
um mundo analógico que incomoda, mas a incapacidade de repartir a
atenção entre todos que a pedem. Como uma babá substituta de uma creche
em dia de calor, o indivíduo se vê jogado em um ambiente sobre o qual
não tem controle, e é obrigado a atender a todas as demandas o mais
rápido possível.
A atenção parcial é constante. Já que todos os interlocutores se sentem
únicos e demandam um interesse que simplesmente não há como suprir, as
conversas são conduzidas até chegarem à velocidade de cruzeiro, depois
deixadas em piloto automático até a aterrissagem ou o contorno de
turbulências. Nesse período, outras conexões são administradas em um
constante e extenso malabarismo social.
Todo esse processo é, naturalmente, extenuante. E recente. Os e-mails
eram mais rápidos do que as cartas, mas ainda respeitavam o tempo da
comunicação escrita. Os bilhetinhos via Twitter ainda podem ser
esquecidos em um bolso ou respondidos mais tarde. Já as redes de
mensagens instantâneas como o SMS, o MSN, o chat de mídias sociais e o
Skype são... bem, instantâneas. Quem não responde a seus chamados age
como se deixasse seu interlocutor a falar sozinho. Ou como se lhe desse
as costas para falar com outro. São atitudes inaceitáveis no mundo real,
e vistas com péssimos olhos no digital.
Tudo isso gera uma natural ansiedade. Ela pode se manifestar de diversas
formas: no desconforto de quem é mal interpretado por cometer uma
indelicadeza em uma janela de comunicação instantânea. Na sensação de
inutilidade e procrastinação de quem adia as prioridades, a alimentação,
o sono e a atividade física enquanto acompanha o movimento nas redes
sociais. No esgotamento de quem teve um dia com muitas demandas e, para
descansar, resolve levar o cérebro à exaustão em um videogame. Nas
mudanças repentinas de humor ou formas de tratamento de quem acredita
ser múltiplo. Na obrigação de descobrir coisas novas só para
compartilhá-las com quem não terá tempo de lê-las. Na necessidade de
comentar cada ação de seus amigos, mesmo que nada seja dito nesse
comentário. No desespero quando o celular ou computador pessoal é usado
por algum amigo ou membro da família. No voyeurismo de visitar perfis de
amigos do passado com o único objetivo de se comparar com eles... a
lista não tem fim.
Precisamos de novos parâmetros de etiqueta digital para administrar os
tempos, as redes e os contatos antes que suas demandas se tornem
incontroláveis. Muitas delas ainda parecem inofensivas, como o são todas
as manifestações no começo de uma curva exponencial.
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