Rebbeca Black tem 13 anos e quer ser cantora. A voz é frouxa mas os pais dão força.
Pagaram ao estúdio Ark Music Factory US$ 2 mil por um destes pacotes: "canção com vídeo" e você faz o que quiser com ele.
A voz desafinada é corrigida pelo aparelho. Até eu, banido de todos corais nas escolas, fico afinado.
Rebbeca colocou o vídeo dela no YouTube teve e 3.000 hits numa semana. Belo número. Ela e a família ficaram felizes.
Foi citada num blog de alta frequência e saltou para incríveis 18
milhões. Bateu todos recordes. Depois de duas semanas, na noite de
quarta, estava com 70 milhões de hits.
Rebecca talvez não fique milionária, mas a faculdade, o carro e as contas dela nos próximos quatro anos já estão pagas.
A letra é sobre uma estudante adolescente que acorda, come seu cereal,
pega uma carona para a escola com os amigos e vai cantando: "hoje é
sexta, amanhã é
sábado, depois vem domingo". E vai pela semana adentro.
Quando leu o que escreveram sobre ela na internet, desmontou em prantos.
Mais de 1,2 milhão de críticas negativas, inclusive ameaças de estrangulamento. Foi a campeã de críticas com ódio.
Na minha imensa ignorância sobre o mundo digital, nem sabia que você
podia ganhar uma fortuna com uma música no YouTube ou com um vídeo do
seu filho grogue e incoerente, no banco de trás do carro, se recuperando
de uma anestesia depois do dentista, com aconteceu com David, um dos
recordistas de 2010.
Sábado passado, estava num aniversário e o aniversariante de um ano deu
um show comendo um bolo. Uma pândega. Três pessoas filmaram com seus
celulares e anunciaram que iria direto para o YouTube. Seria um hit.
Acho que os pais vetaram.
Aprendi também que quando o YouTube acha que tem um hit, procura o
autor, propõe parceria e trabalha na promoção do vídeo. No caso de
música, há também os royalties.
Durante a festa de aniversário fiz uma revisão do que poderia ter me
dado dinheiro no YouTube e a resposta veio imediata: o Ernesto, meu
macaco de adolescência.
Papai ganhou Ernesto de presente e ele veio morar na grande mangueira
que ficava bem em frente à varanda do quintal, onde almoçávamos.
Era um destes macacos de porte médio, bem maior do que um mico. Uma atração permanente.
Papai, dentista, tentou ensiná-lo a usar fio dental. Ernesto tentou, não
aprendeu, mas hoje já daria um YouTube. Aprendeu a gargarejar, a seco.
Outro YouTube.
Um dia, ele pegou a gatinha das minhas irmãs, a Mimi, uma adolescente de
meses, e foi com ela lá para as grimpas da mangueira. As irmãs
aprontaram um berreiro: Acode, Ernesto vai jogar a Mimi lá de cima. A
família se reuniu em volta da mangueira e viu a sedução da gatinha. A
virgindade da Mimi ficou lá em cima.
"O que o Ernesto está fazendo com ela, papai?". As meninas não tinham nem 10 anos anos.
Quando ele terminou o ato, desceu, delicadíssimo, com a gatinha num
braço, se despediu dela no pé da árvore, diante da família perplexa.
Mimi viciou na mangueira do Ernesto. Estava sempre debaixo da árvore,
com miadas suplicantes.
Meus pais ficaram mais incomodados quando viram o macaco fazendo carinho
na mão de uma da minhas irmãs enquanto se masturbava com a outra.
"O Ernesto está muito inconveniente", foi a sentença da mamãe que pôs um fim na nossa amizade e no nosso show de almoço.
Um tio fazendeiro levou o Ernesto para viver numa destas vendas de beira
de estrada do interior, um descampado, desolado e deprimente. Vazia
durante o dia, cheia de matutos bêbados nos fins de semana. Ernesto era a
atração da casa.
Incentivavam os truques dele com cachaça e cerveja.
Uma noite, depois que o dono fechou a venda, Ernesto destruiu todo o
estoque de bebidas das prateleiras e quebrou o que era quebrável.
Na brutal ressaca da manhã seguinte, os tiros de cartucheira devem ter sido um alívio.
Ernesto renderia, e merecia, mais do que um YouTube.
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