"A mente entra cuidadosamente nas profundezas da cena. Os galhos ásperos
de uma árvore em primeiro plano avançam sobre nós como se fossem
arranhar nossos olhos. O cotovelo de uma figura salienta-se de maneira a
nos deixar quase desconfortáveis."
O parágrafo acima é uma boa descrição das impressões de assistir a um
filme como "Avatar" ou jogar um videogame de última geração, mas na
verdade é um trecho de um artigo do escritor e médico norte-americano
Oliver Wendell Holmes (1809-1894) publicado na revista "The Atlantic
Monthly" em junho de 1859.
O assunto, em termos atualizados, era a reprodução de imagens com
efeitos tridimensionais, ou simplesmente 3D.
O 3D existe desde o século 19, passou por vários altos e baixos durante o
século 20 e chega ao século 21 prometendo que, desta vez, o negócio é
pra valer. A indústria parece apostar nisso, e os consumidores, por
enquanto, têm correspondido.
O cinema parece ser o maior impulsor da tecnologia, com estúdios e
diretores --Martin Scorsese e Werner Herzog, para citar dois grandes--
divulgando um número crescente de filmes 3D, e empresas investindo
bastante em treinamento e equipamentos e para produzir e reproduzir esse
tipo de conteúdo. Sem contar, é claro, as pesadas ações de marketing.
Os próximos meses e anos devem ver uma enxurrada de filmes 3D --tanto
lançamentos quanto conversões de filmes antigos--não apenas nas salas de
cinema, mas também em casa, por meio de formatos como DVD e Blu-ray.
As televisões também apostam nisso, e conteúdo 3D --filmes e esportes
(com destaque para grandes eventos, como Copa do Mundo e Roland Garros),
principalmente-- já é transmitido em diversas partes do mundo.
O texto de Holmes na "The Atlantic Monthly" falava sobre o
estereoscópio, "um instrumento que faz superfícies parecerem sólidas",
ou seja, usado para ver profundidade em imagens planas.
O equipamento foi inventado no século retrasado pelo cientista e
inventor britânico Charles Wheatstone, e o princípio por trás de seu
funcionamento é o mesmo dos sistemas utilizados hoje.
OLHO HUMANO
Cada olho humano enxerga o mundo a partir de uma perspectiva diferente
--a visão do olho esquerdo é diferente da do direito. Isso é facilmente
perceptível se você olhar de perto um objeto primeiro apenas com o olho
esquerdo, depois apenas com o direito.
Essa disparidade ajuda-nos a determinar as profundidades relativas em
uma cena, e a estereoscopia é uma técnica que se baseia nisso para
provocar a sensação de profundidade em imagens planas. Talvez soe
complicado, mas é bem simples.
Basicamente, basta ter duas imagens retratando a mesma cena ou objeto a
partir de diferentes perspectivas --uma referente à visão de cada olho.
Para conseguir a ilusão de profundidade, as duas imagens devem ser
vistas ao mesmo tempo (ou quase), mas cada olho deve enxergar apenas uma
delas --a correspondente à sua perspectiva. A junção das duas imagens
no cérebro provoca a sensação de profundidade.
A questão é: o que fazer para que cada olho enxergue apenas a imagem
correspondente à sua perspectiva? Isso é um problema porque,
normalmente, os dois olhos veem as duas imagens, que geralmente são
sobrepostas ou colocadas lado a lado.
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