sábado, 2 de abril de 2011

"Vamos almoçar, lutamos e voltamos para reuniões", diz criador do clube da luta geek

Gints Klimanis, 42, é engenheiro de software em uma das maiores empresas de tecnologia do mundo e tem um diploma da Universidade Cornell, prestigiada instituição americana.
Mas ele está longe do perfil nerd que o seu currículo sugere. O negócio dele é dar socos e pontapés. Klimanis é faixa preta em "kempo goshin jutsu", uma arte marcial de origem japonesa e é o fundador do clube da luta geek.
Ele conversou com a Folha por telefone, do seu cubículo de trabalho na gigante do Vale do Silício cujo nome ele pede para que não seja divulgado.
Mas revelou: ele e alguns colegas da empresa tiram a hora de almoço às terças e às sextas para sessões rápidas do clube. Leia os principais trechos da entrevista.
Origem
Meus professores de "kempo goshin jutsu" nunca me deixaram lutar sem muitas regras. No meio dos anos 1990, algumas pessoas dessa aula decidiram lutar mais. Nós fazíamos lutas a cada semana, depois a cada duas.
Decidimos, então, incluir bastões, e a coisa começou a decolar em 1998 ou 1999. Depois do filme "Clube da Luta", pessoas sem treinamento começaram a aparecer para lutar.
Trabalho
O clube funciona como um remédio. Quando você trabalha em um escritório, dentro de uma caixa, é confinante. Existe uma raiva que se acumula. O clube dá uma sensação de aventura. Qual é a coisa mais perigosa que acontece em um escritório? Talvez você possa queimar a mão, fazendo café, ou a língua.
O homem não foi feito para viver a vida de uma orquídea e precisa de aventura.
Chefe
Meu diretor fez aula de caratê comigo por dez anos e sabe de tudo, mas eu não sei se o RH (departamento de recursos humanos) sabe (risos).
No meu emprego anterior, havia uma lista de e-mails que falava "vamos fazer um time de softbol [esporte parecido com o beisebol]" ou "vamos fazer mountain bike".
Um dia eu mandei "vamos fazer um clube da luta". Em dez minutos, meu superior apareceu dizendo que eu não podia mandar aquilo. O RH mandou um e-mail geral dizendo: "Nossa empresa não aprova clubes de lutas".
No dia seguinte, perdi metade dos meus amigos e a outra metade ficou mais próxima.
Almoço
Nos últimos seis meses, estou lutando ainda mais com meus colegas de trabalho.
Nós saímos para o almoço na minha casa, lutamos e voltamos para reuniões. Isso acontece às terças e, por vezes, às sextas.
É bem parecido com o que você vê no começo de "Uppercut", que são lutas sem armas e sem pancadas no rosto. Afinal, temos que voltar para o trabalho (risos).
Armas
A escolha das armas tem a ver com coisas novas, ridículas. Certa vez, lutamos com ossos para cachorros, como bastões. E isso machuca! O aleatório é o que nos mantém entretidos.
Trocamos ideias por e-mails e no fim de uma noite de lutas falamos: "Da próxima vez, poderíamos usar isso ou aquilo". Algumas ideias são ruins, como quando usamos correntes.
Começamos usando bastões e facas de treino (sem corte e mais grossas). Daí pensamos: "O que aconteceria se usássemos uma cadeira?" Passamos a pegar qualquer coisa, um vaso ou um receptor de TV a cabo antigo.
E custa muito dinheiro. Se você tem uma briga de cadeiras e cada cadeira custa US$ 15, veja quanto vai gastar. Definitivamente, são lutas de mauricinhos.
Ferimentos
As pessoas quebram os dedos sempre. Os piores casos foram os de um lutador que fraturou 12 ossos da face e outro que quebrou um cotovelo.
Eu criei o clube para que você esteja a ponto de se ferir gravemente, mas que isso não ocorra. Não podemos parar toda hora, porque isso desrespeita o ferimento. Se você pensasse sobre os ferimentos, você não estaria em um clube da luta. Você não pode perguntar sempre "você se machucou?". A ideia principal é causar alguma dor.

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