País de baixa população e fortemente isolado, a Austrália abriga muitos
fãs do crowdsourcing (externalização em massa), o que permite que
projetos sejam realizados com a ajuda de milhões de pessoas de todo o
mundo. "Somos líderes nisso. É o nosso futuro", disse Ross Dawson, autor
do livro "Getting Results from Crowds". Caso esteja certo -o futuro
dirá-, o sucesso se deverá a uma curiosa combinação de acasos e
adequação geográfica e cultural.
Os "acasos" são obra de alguns empresários australianos que começaram a
operar nesse mercado ainda em seus primeiros dias. Matt Barrie, por
exemplo, depois de estudar na Universidade Stanford, fundou duas ou três
empresas de tecnologia e mais tarde descobriu uma companhia sueca
promissora mas deficiente; terminou por comprá-la e, depois de
reestruturar suas operações, a relançou com o nome Freelancer.com:
enorme sucesso.
"Temos 3, 4 milhões de usuários", me contou, em seu escritório no porto
de Sydney. "Intermediamos mais de 1,5 milhões de projetos e pagamos US$
125 milhões aos trabalhadores independentes (freelancers) que os
realizaram. A qualidade e sofisticação de seu trabalho é reconhecida por
todos. Executam tarefas de biotecnologia, física quântica, no setor
aerospacial etc."
Cerca de 40% dos trabalhos oferecidos têm origem nos Estados Unidos,
seguidos pelo Reino Unido (10%), Índia (7%), Austrália (5%) e Canadá
(4%). Os freelancers que trabalham para o site, de sua parte, são 34%
provenientes da Índia, seguida por Paquistão, Bangladesh, Filipinas,
China e Romênia. "Colocamos em contato os empreendedores ocidentais e os
empreendedores do Terceiro Mundo", diz Barrie. O freelancer cujo site
obteve maior sucesso fatura US$ 1 milhão ao ano e emprega 80 pessoas.
O DesignCrowd.com,
de sua parte, oferece acesso ao talento de mais de 70 mil designers. O
cliente detalha o que precisa e estabelece o preço que se dispõe a
pagar; em resposta, recebe dezenas, ou às vezes centenas, de propostas,
seleciona as suas preferidas e pode solicitar modificações e sugerir
colaborações até que o resultado final o satisfaça. É um processo mais
participativo do que o do Freelancer.com.
O terceiro concorrente australiano do setor é a Kaggle.com,
especializada em concorrências para processamento de dados científicos e
modelagem preditora. Instituições e empresas postam dados e problemas
que matemáticos e estatísticos de todo o mundo trabalham para resolver.
No final, o proponente da concorrência "paga o preço estipulado, em
troca da propriedade intelectual sobre o modelo ganhador", explica o
site.
As três empresas utilizam o "crowdsourcing" da mesma maneira, mas para
Dawson o que sempre está em jogo é "tirar proveito de um grande número
de cérebros". Ele explica em seu livro que o Freelancer.com é "mais um
mercado no qual compradores e vendedores se encontram do que a soma de
muitas contribuições que permitam obter resultado coletivo". Mas ainda
assim se trata de uma das soluções que pode causar mais mudanças para o
futuro do trabalho.
Dawson me disse estar convencido de que "quase tudo que não implique
contato físico, a exemplo de serviços de massagem ou cabeleireiro,
poderá ser realizado assim, não importa a distância".
E esse é o motivo para que a terceirização encontre tamanho sucesso na
Austrália. "Temos mentalidade mundial, devido ao nosso grande
isolamento", disse Dawson, "e sensibilidade diante das diferenças
culturais", derivada das "afinidades" com a Europa e com os Estados
Unidos e da presença de população asiática considerável. "Isso tem valor
para o crowdsourcing. A participação de milhares de pessoas de
diferentes países coloca em marcha um processo complexo de relações.
Quanto mais participantes, melhor".
Nenhum comentário:
Postar um comentário