domingo, 3 de junho de 2012

Austrália, campeã da terceirização?

País de baixa população e fortemente isolado, a Austrália abriga muitos fãs do crowdsourcing (externalização em massa), o que permite que projetos sejam realizados com a ajuda de milhões de pessoas de todo o mundo. "Somos líderes nisso. É o nosso futuro", disse Ross Dawson, autor do livro "Getting Results from Crowds". Caso esteja certo -o futuro dirá-, o sucesso se deverá a uma curiosa combinação de acasos e adequação geográfica e cultural.
Os "acasos" são obra de alguns empresários australianos que começaram a operar nesse mercado ainda em seus primeiros dias. Matt Barrie, por exemplo, depois de estudar na Universidade Stanford, fundou duas ou três empresas de tecnologia e mais tarde descobriu uma companhia sueca promissora mas deficiente; terminou por comprá-la e, depois de reestruturar suas operações, a relançou com o nome Freelancer.com: enorme sucesso.
"Temos 3, 4 milhões de usuários", me contou, em seu escritório no porto de Sydney. "Intermediamos mais de 1,5 milhões de projetos e pagamos US$ 125 milhões aos trabalhadores independentes (freelancers) que os realizaram. A qualidade e sofisticação de seu trabalho é reconhecida por todos. Executam tarefas de biotecnologia, física quântica, no setor aerospacial etc."
Cerca de 40% dos trabalhos oferecidos têm origem nos Estados Unidos, seguidos pelo Reino Unido (10%), Índia (7%), Austrália (5%) e Canadá (4%). Os freelancers que trabalham para o site, de sua parte, são 34% provenientes da Índia, seguida por Paquistão, Bangladesh, Filipinas, China e Romênia. "Colocamos em contato os empreendedores ocidentais e os empreendedores do Terceiro Mundo", diz Barrie. O freelancer cujo site obteve maior sucesso fatura US$ 1 milhão ao ano e emprega 80 pessoas.
O DesignCrowd.com, de sua parte, oferece acesso ao talento de mais de 70 mil designers. O cliente detalha o que precisa e estabelece o preço que se dispõe a pagar; em resposta, recebe dezenas, ou às vezes centenas, de propostas, seleciona as suas preferidas e pode solicitar modificações e sugerir colaborações até que o resultado final o satisfaça. É um processo mais participativo do que o do Freelancer.com.
O terceiro concorrente australiano do setor é a Kaggle.com, especializada em concorrências para processamento de dados científicos e modelagem preditora. Instituições e empresas postam dados e problemas que matemáticos e estatísticos de todo o mundo trabalham para resolver. No final, o proponente da concorrência "paga o preço estipulado, em troca da propriedade intelectual sobre o modelo ganhador", explica o site.
As três empresas utilizam o "crowdsourcing" da mesma maneira, mas para Dawson o que sempre está em jogo é "tirar proveito de um grande número de cérebros". Ele explica em seu livro que o Freelancer.com é "mais um mercado no qual compradores e vendedores se encontram do que a soma de muitas contribuições que permitam obter resultado coletivo". Mas ainda assim se trata de uma das soluções que pode causar mais mudanças para o futuro do trabalho.
Dawson me disse estar convencido de que "quase tudo que não implique contato físico, a exemplo de serviços de massagem ou cabeleireiro, poderá ser realizado assim, não importa a distância".
E esse é o motivo para que a terceirização encontre tamanho sucesso na Austrália. "Temos mentalidade mundial, devido ao nosso grande isolamento", disse Dawson, "e sensibilidade diante das diferenças culturais", derivada das "afinidades" com a Europa e com os Estados Unidos e da presença de população asiática considerável. "Isso tem valor para o crowdsourcing. A participação de milhares de pessoas de diferentes países coloca em marcha um processo complexo de relações. Quanto mais participantes, melhor".

Nenhum comentário: