As crescentes discussões a respeito das mudanças climáticas levam à
consideração de que talvez um dia não sobre opção para o Homo Sapiens a
não ser o abandono da casa da mamãe Natureza e, na colonização de outros
planetas, recomeçar evitando os mesmos erros cometidos até agora.
Por mais romântica que soe a ideia, a conquista de territórios
desconhecidos, no fundo do oceano ou em outros planetas, é mais
complicada do que pode supor nossa vã tecnologia. Assumindo que todos os
recursos para ocupar, por exemplo, Marte, já tivessem sido inventados e
fossem acessíveis, por onde começar? Que indústrias seria preciso levar
para que a vida no Planeta Vermelho se tornasse minimamente
sustentável?
Meu palpite é que o começo deveria ser, ironicamente, por segmentos que
são os mais poluentes hoje: energia e mineração. Por mais que adoremos
odiá-los e culpá-los por boa parte da poluição e de seqüelas diversas ao
meio ambiente, sem indústria de base não há civilização. E qualquer
modelo econômico auto-suficiente (ou sustentável) precisa ser
independente do fornecimento externo de materiais e combustíveis. Não é
preciso futurologia para se perceber que, enquanto a relação entre
fornecimento de energia e controle de poluição não for resolvida,
qualquer nova conquista somente servirá para adiar o problema.
Vivemos em um mundo cada vez mais integrado. Por mais que a Internet
permeie praticamente todos os processos comerciais e industriais, ainda
são poucos os que levam em consideração o impacto que sua nova ideia
poderá ter nos outros produtos com que se relaciona. Assim boas
iniciativas de e-commerce quebram por falta de estoque, novas agências
fecham por falta de pessoal e novos projetos são descontinuados por
falta de público.
Territórios ainda inexplorados, novos produtos e serviços são hoje como
pequenos ecossistemas. À medida que a tecnologia e a logística os torna
mais complexos e interdependentes, não se pode mais imaginá-los
isolados. Cada novo elemento interfere em todos os outros, sendo
igualmente impactado por eles.
Infelizmente ainda são poucas as empresas (e empreendedores) que
imaginam seus produtos como partes de uma rede. A maioria ainda os vê
como mercadorias que, uma vez entregues, são esquecidas. Pouco importam
as reclamações de consumidores ou resenhas negativas, gerentes de bancos
continuam a receber ordens para vender planos de capitalização que
descapitalizam seus usuários sem gerar grandes benefícios em troca. Em
outras indústrias e oligopólios, capitães ainda fazem vista grossa para a
evolução dos tempos enquanto vendem os mesmos velhos produtos e
filosofias de negócio, esperando o fim dos tempos no camarote de seus
Titanics, na certeza que se aposentarão antes dele.
Quem se dispõe a conquistar novos mercados ou mesmo sobreviver em um
ambiente cada vez mais competitivo precisa criar uma rede com um mínimo
de integração e auto-suficiência, adaptando sua oferta às cadeias de
negócios existentes, mesmo que pareçam arcaicas. Não faltam iniciativas
que morrem por serem revolucionárias ou modernas demais para sua época.
Por mais bacanas que sejam os computadores Macintosh, boa parte de seus
usuários só surgiu depois que o iPhone integrou celulares, mídia e
aplicativos, misturando-se sorrateiramente ao modo de vida de seus
usuários. Da mesma forma, empresas menores como DropBox, Angry Birds e
Evernote começam pequenas, quase irrelevantes, até que, como Twitter e
Facebook, se tornam indispensáveis.
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