terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Gigante, Android fica mais bonito e inteligente em nova versão

A bancarrota era a realidade próxima da Motorola entre 2008 e 2009, quando a empresa foi motivo de chacota por seus smartphones ultrapassados com sistema Windows Mobile. Ela assistia de camarote à revolução iniciada pelo iPhone.
"Quando descobrimos o Android, interrompemos todos os projetos com outras plataformas. Ficamos sem lançar nada por um tempo e tivemos de começar do zero", conta Rodrigo Vidigal, diretor de marketing da empresa que lançou o primeiro celular comercial, em 1983.
De lá para cá, a fabricante conseguiu respirar. No Brasil, chegou ao quinto lugar nas vendas, com participação de 6,5% ano passado, segundo a consultoria Gartner. O último passo da salvação da Motorola aconteceu quatro meses atrás, quando foi comprada pelo Google, no valor de US$ 12 bilhões.
A aquisição tem dois motivos: a herança de patentes que pode ajudar o Android numa batalha jurídica com a Apple e, principalmente, o desenvolvimento do sistema ao lado de quem já foi líder desse mercado. Se bem que o robozinho não tem encontrado dificuldades para se multiplicar. A cada dia, são 550 mil ativações de celulares no mundo -quase o triplo do registrado em julho de 2010.
De acordo com o IDC Brasil, a participação do sistema no mundo saltou de 16%, no segundo trimestre do ano passado, para 47% do bolo, no mesmo período de 2011. Essa é também a proporção encontrada no mercado de smartphones no Brasil. O problema do Google não está nos números, e, sim, na conexão com o sentimento dos usuários -algo que a Apple, concorrente direta, sabe fazer.
SÓ NA AMIZADE
"As pessoas gostam do Android, mas não o amam." A frase, proferida por Matias Duarte, diretor-sênior da plataforma para celulares da empresa, reflete o desafio de quem já colocou o programa para rodar em 190 milhões de aparelhos desde outubro de 2008. Ele é útil, mas não provoca filas à frente das lojas no dia do lançamento de um modelo, como o iPhone.
A versão mais nova, sob o codinome de Ice Cream Sandwich, desembarca no Brasil no primeiro trimestre de 2012, no Galaxy Nexus -fruto de uma parceria entre a Samsung e o Google. O doce está cheio de novos confeitos. O principal deles: agora existe uma versão única para telefones e tablets. Mas detalhes como uma fonte mais agradável também chegam para fazer diferença.
O esforço em aprimorar o visual, no entanto, bate de frente com uma das principais virtudes da plataforma, na visão dos fabricantes: a possibilidade de personalização e abertura do sistema.
Vidigal pensa que, com o aporte do Google, a indústria pode focar outros avanços, como mais utilitários.
Mas acha que, no formato atual, o Android já é capaz de emocionar. "Se você tem um aparelho com o qual pode falar para que ele te leve a um endereço, a experiência está acima do gosto. Tanto faz se o ícone é verde ou azul."


VÍRUS E FRAGMENTAÇÃO
No escritório da gigante consultoria Gartner, alguns funcionários usam smartphones corporativos com Android. Eles podem acessar e-mails, navegar pela internet e rodar aplicativos livremente. Mas não têm autorização para entrar no Android Market. O espaço oficial do Google para download de programas é bloqueado. O motivo? Vírus.
As pragas infectaram a loja virtual de tal maneira que, segundo a empresa Lookout Security, cem aplicativos tiveram de ser removidos em 2011. Solução paliativa, já que o controle frágil do Google em relação aos programas lançados na base de dados permite que aplicações inúteis e perigosas se espalhem tranquilamente e se percam entre os 10 bilhões de downloads já realizados. A análise é de Roberta Cozza, da Gartner.
Esse não é o único problema grave para a continuidade da expansão do Android. A rápida atualização do sistema, por parte do Google, e a indisponibilidade das novas versões em boa parte dos aparelhos criaram um ecossistema fragmentado. Assim, muitos aplicativos recentes não rodam em modelos lançados um ano atrás.
"Eu ficaria surpresa se o Google tomasse as rédeas e controlasse a atualização por parte dos fabricantes", afirma Cozza. No entanto, ela acredita que o problema tende a diminuir naturalmente, já que o amadurecimento deve frear o ritmo de atualizações do sistema -e o hardware mais parrudo dos novos smartphones possivelmente estará preparado para as próximas versões.
Outra ameaça ao império Android foi a compra da Motorola, que deixou fabricantes parceiros preocupados. A indústria passou a considerar outra alternativa, o Windows Phone. "Mas não será uma coisa reativa. E sim um movimento natural à chegada de um bom concorrente e à aliança do Google com uma empresa específica", conclui Bruno Freitas, analista do IDC Brasil.

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