Eleito uma das 50 maiores invenções de 2010 pela revista "Time", o
aplicativo gratuito para iPad Flipboard está pronto para surfar em
outras pranchetas. É o que revela, em entrevista exclusiva à Folha, o criador do programa, Mike McCue.
A plataforma racionaliza e apresenta, num visual de revista, a enxurrada
de conteúdo compartilhado nas redes sociais. Basta cadastrar sua conta
de Twitter ou Facebook para que a revista comece a ser montada diante
dos seus olhos, em tempo real, conforme as páginas vão sendo viradas.
São os amigos do usuário que "curam" esse conteúdo, ou seja, tudo o que é
postado pelos contatos entra no filtro automático do Flipboard.
O que mais impressiona para quem navega pela primeira vez é a interface.
O programa dá à tela multitoque do iPad um uso bastante familiar (o de
"virar a página"). Não por acaso, foi eleito pela própria Apple o melhor
aplicativo de 2010 para iPad.
"Observamos as publicações impressas como uma inspiração", diz McCue.
Na entrevista abaixo, o executivo, que já trabalhou na equipe do lendário navegador Netscape, revela planos ambiciosos.
Sua equipe pretende tornar a localização do usuário um dos fatores para
organização do conteúdo, o que permitiria com que uma pessoa segurando
um tablet em determinada região da cidade receba informações específicas
para sua latitude.
McCue também fala sobre o lançamento do aplicativo para outras
plataformas, como iPhone, ou que usem o sistema operacional móvel
Android.
Folha - Como surgiu a ideia do Flipboard?
Mike McCue - Queríamos tornar mais fácil a busca por notícias,
informações, fotos e outras atualizações que fossem importantes dentro
das redes sociais. O problema na época era que, para se manter
atualizado, era preciso checar e-mail, Twitter, Facebook, Orkut, blogs e
sites novos. Além de ser bastante trabalhoso, isso demanda que o
indivíduo abra um monte de links.
A missão do Flipboard é melhorar como pessoas descobrem, veem e dividem
conteúdo em suas redes sociais. Já que o Flipboard processa os links e
as imagens direto na revista criada pelo usuário, não é preciso mais
fazer longas varreduras em listas de posts e clicar em um link depois do
outro.
Curiosamente, eu comecei a pensar no Flipboard antes de o iPad existir,
ou seja, no início pensávamos que tínhamos criado um produto para a web.
Quando o iPad surgiu, percebemos que era o formato perfeito.
Quais são os planos para os próximos meses?
Em termos de desenvolvimento de produto, você nos verá expandindo o
número de redes sociais que se poderá adicionar ao seu Flipboard. Ainda
neste ano também vamos ter o Flipboard em outros dispositivos.
Começamos a trabalhar com publicações para tornar o conteúdo que elas
produzem para web mais bonito. Entre os nossos parceiros já estão
títulos como "The Washington Post Magazine", ABC News, "Lonely Planet",
"San Francisco Chronicle", e acabamos de adicionar as revistas "Rolling
Stone" e "Elle".
Há planos de colocar o Flipboard em outras plataformas, com Android, por exemplo, ou para outros dispositivos, como o iPhone?
Vemos o iPad como um ponto de partida e nós definitivamente queremos levar o Flipboard para outros dispositivos e plataformas.
Por termos investido no [sistema operacional móvel da Apple] iOS,
pretendemos trabalhar mais com os dispositivos que usam iOS
primeiramente [caso do iPhone]. Mas, conforme o Android vai chegando ao
mercado de tablets e conforme vamos vendo um ou outro [tablet] emergindo
como líderes deste mercado, buscaremos uma maneira de embarcar essa
plataforma também.
Quanto ao iPhone, vamos precisar pensar em uma abordagem diferente.
Precisamos entender o que poderemos transmitir para nossos usuários em
15 segundos e ainda assim fazer disso uma experiência que lembre o
Flipboard.
Há algum plano de incluir a localização geográfica como parâmetro de apresentação das notícias no Flipboard?
Isso é algo que a tecnologia de Web Intelligence, da empresa
recém-adquirida por nós Ellerdale, pode trazer. Assim que começarmos a
implementar essa tecnologia, isso será algo que consideraremos fazer.
Conteúdo com base na localização é algo muito empolgante para todos nós
por aqui e pode fazer a leitura do Flipboard mais relevante para cada
usuário.
A maioria dos usuários parece acessar o Flipboard à noite, antes de
dormir -diferentemente do que imaginamos acontecer com jornais,
consumidos pela manhã. Como é o fluxo de audiência?
Sim, este é um comportamento típico de leitores do Flipboard. À noite
nós registramos picos de audiência. Nosso horário nobre é às 23h, o que
significa que muitas pessoas leem o Flipboard na cama, antes de dormir. É
bem parecido com o que fazem com as revistas e outras leituras de
lazer.
Como tem sido a relação de vocês com os grupos de mídia?
Bastante positiva. Centenas de publicações muito boas entraram em contato com a gente e começamos um teste com uma dúzia delas.
Alguma reclamação?
Recebemos alguns pedidos de publicações para apresentarmos seu conteúdo
de maneira diferente. Alguns querem que mostremos mais, outros menos.
Até o fim do ano passado vocês tinham ultrapassado 1 milhão de downloads, mas são todos grátis. Como o Flipboard se paga?
Ainda estamos desenvolvendo o nosso modelo de negócio, mas o Flipboard
já arrecadou US $ 10,5 milhões em capital de risco das empresas de
investimentos Kleiner Perkins Caufield & Byers e Index Ventures.
Podemos mostrar aos nossos leitores belíssimos anúncios de página
inteira, bastante apropriados para publicidade de marcas. Esses tipos de
anúncios fazem parte do teste que começamos em dezembro.
E como os usuários estão reagindo a esses testes com anúncios?
Anúncios bonitos de páginas grandes são familiares aos leitores que
costumam ler revistas -e também acabam empolgando as publicações e as
marcas anunciantes.
Você não acha questionável colocar, numa mesma página, uma notícia
sobre a revolta no mundo árabe e a atualização do status de alguém de
solteiro para enrolado?
O que você vê no Flipboard é que os seus amigos do Facebook estão
compartilhando ou o que as pessoas que você segue estão tuitando. Assim,
a maioria dos nossos leitores tem uma mistura de notícias sobre o
mundo, notícias locais e notícias pessoais.
O que difere o Flipboard é o jeito que ele mostra esse conteúdo, curado
pelas pessoas em que você confia ou segue. É claro que algumas vezes as
coisas que seus amigos estão compartilhando diferem muito, mas esperamos
que tudo isso seja relevante de alguma forma para o usuário.
Há alguma chance de o Flipboard ser comprado por uma empresa maior, sobretudo no caso de não conseguir faturar?
Trabalho com uma visão de longo prazo para o Flipboard. Estamos muito
empolgados com o fato de conseguirmos construir uma empresa independente
e não tenho plano de nos vender.
Você trabalhava no Vale do Silício durante o estouro da bolha
ponto-com, no começo da década passada. Que lição tirou daquela época?
Aprendi muito com a evolução do Vale do Silício desde aquela época.
Todos aprendemos, sobretudo a continuar pequenos, a contratar pessoas
que estejam verdadeiramente apaixonadas pela ideia de construir um ótimo
produto e a fazê-lo a longo prazo. A construção de uma pequena empresa é
tão difícil quanto a de uma grande, então sempre é preciso mirar na
melhor ideia possível.
O que achou do primeiro jornal diário lançado para o iPad, o "Daily"?
Achei uma ótima iniciativa para trazer mais conteúdo ao iPad. Eles têm
um forte time de jornalistas produzindo notícias e informações valiosas.
Mas não vejo o "Daily" como competidor -o que fazemos se complementa.
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