Dezembro de 2006 foi o mês mais sangrento da Guerra do Iraque. Foram
registradas 5.183 mortes, dos quais dois terços --3.784-- eram civis. A
estimativa resulta em uma média de 103 civis mortos a cada dia. Além
disso, o número ultrapassa as contagens da ONU e da organização Iraq
Body Count, que indicavam menos de 3.000 civis mortos naquele mês.
As informações foram divulgadas por "The Bureau of Investigative
Journalism" ["Departamento de Jornalismo Investigativo", em tradução
livre], com base em arquivos confidenciais vazados pelo site WikiLeaks
nesta sexta-feira.
Foram 31 crianças mortas --uma por dia ao menos-- e 23 feridas.
O lugar mais perigoso para viver na época era Bagdá, onde 1.922 foram
assassinadas --todos registrados como civis, com exceção de 50.
Cerca de 400 mil documentos confidenciais divulgados nesta sexta-feira
pelo site WikiLeaks apontam que forças dos Estados Unidos e seus aliados
cometeram abusos, execuções sumárias e ignoraram repetidos atos de
tortura no Iraque.
Ainda de acordo com os dados secretos, cerca 109 mil pessoas morreram no
país -- 66 mil delas civis. Segundo os documentos, mais de 15 mil das
vítimas civis morreram em incidentes que não haviam sido previamente
divulgados. Autoridades americanas e britânicas insistem que não existe
um número oficial de vítimas no conflito.
Segundo os documentos, autoridades americanas não investigaram denúncias
de abusos, torturas, estupros e outros crimes que teriam sido cometidos
por policiais e soldados iraquianos, e tais oficiais tiveram permissão
para continuar atuando sem qualquer punição.
O site da TV Al Jazeera relata que soldados americanos denunciaram a
seus superiores as alegações de tortura em ao menos 1.300 ocasiões: "o
detento estava vendado"; "apanhou nos braços e pernas com um objeto
duro"; "socado no rosto e na cabeça"; "eletricidade foi usada em seus
pés e genitais"; "foi sodomizado com uma garrafa d'água".
Um dos relatos apresentados pela Al Jazeera é de uma denúncia de que "um
detento foi espancado com uma chave de fenda, golpeado com cabos e
mangueiras nos braços, costas e pernas, eletrecutado e sodomizado com
uma mangueira".
Trata-se da maior quebra de segurança desse tipo na história militar dos
Estados Unidos. Em julho, o site publicou 76 mil documentos militares
sobre a guerra do Afeganistão.
Os dados revelados pelo WikiLeaks indicam ainda que houve inúmeros casos
de abusos contra prisioneiros. Presos tiveram os olhos vendados e os
tornolezos e pulsos amarrados, e foram agredidos com chutes, socos e
choques elétricos. Ao menos seis dos relatórios vazados apontam que os
presos morreram após serem submetidos aos abusos.
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