Às vezes é difícil distinguir se a inovação vem de fora ou é local.
Nascido em Boston e criado no Texas --onde estudou finanças-, Nandu
Madhava veio a criar uma empresa em Bangalore, a cidade natal de seus
país. A mDhil.com oferece informações médicas via SMS. De sua parte, Vir Kashyap é presidente-executivo da Babajob.com,
uma bolsa de empregos virtuais para trabalhadores. Como Madhava,
estudou finanças, mas nasceu em Dubai. Os dois são parte da vigorosa
dinâmica de filhos de imigrantes indianos que retornam para viver nos
lugares que seus pais deixaram.
Depois de passar algum tempo no Peace Corps (uma organização
assistencial norte-americana), trabalhando na República Dominicana, onde
viu o sofrimento de centenas de pessoas por falta de informações
médicas, Madhava decidiu criar uma companhia. "Queria ter impacto sobre a
vida das pessoas, recorrendo à tecnologia", ele me disse.
A mDhil envia um SMS por dia a seus 200 mil assinantes, ao preço de uma
rúpia (1,5 centavo de euro) por dia, sobre os temas escolhidos pelo
usuário --diabetes, doenças sexualmente transmissíveis, saúde da mulher
etc. O canal criado no YouTube acaba de ultrapassar um milhão de
visitas.
A contribuição da empresa tem como raiz o uso de localização para
transmissão de informações, e sua transposição para os aparelhos móveis
como eixo estratégico. "O mundo dos sites norte-americanos de informação
médica começa no Reino Unido e termina na Califórnia", diz Madhava. A
maior parte dos conselhos disponíveis na Web não serve muito à Índia,
quer se trate de programas de dieta ou de conselhos que recomendam ligar
para o telefone 911, o número de emergência dos Estados Unidos. "Nós
produzimos todo o nosso conteúdo", diz, com a liberdade de adaptar
material de sites conhecidos.
A prioridade é a comunicação via aparelhos móveis, pelo sensato motivo
de que na Índia 100 milhões de pessoas têm acesso à Internet via
computador e 900 milhões via celular. Na Índia, quatro em cada 10 vídeos
são vistos em celulares, ante um em 10 nos Estados Unidos.
A Babajob, empresa de Kashyap, parece ir ainda mais longe na importância
que confere aos aparelhos móveis para oferecer acesso ao mercado de
trabalho a jovens que ganham apenas alguns dólares ao dia. Eles não
dispõem de currículos, e a inovação está em um algoritmo que processa
informações complexas, entre as quais seu local de residência, o do
emprego em oferta, o salário, as capacitações oferecidas e requeridas, e
os idiomas que o candidato fala (mais de 20 idiomas são oficialmente
reconhecidos na Índia).
"O desafio é oferecer um serviço para pessoas não completamente
alfabetizadas, que só tem prática rudimentar de tecnologia", explica
Kashyap. "Como não passam o tempo todo conectadas à Web, lhes enviamos
um SMS ao dia, o que representa grande esforço de correlação de dados".
Kashyap e Madhava ilustram uma tendência forte: o regresso à terra de
seus antepassados pelos filhos de imigrantes em busca de suas raízes ou
de uma oportunidade. Em 2010, de acordo com o "New York Times", 100 mil
deles chegaram à Índia (é difícil dizer "retornaram" pois nasceram em
outros países). A "fuga de cérebros" se tornou "circulação de cérebros".
A crise econômica no hemisfério norte surgiu por outros motivos, mas
também pelo dinamismo de Bangalore e Mumbai. "Quando volto para casa
(nos Estados Unidos), tenho uma sensação de vazio", disse Kashyap ao
"Deccan Herald", o jornal de sua cidade na Índia. "Quando você se
acostuma à Índia, ao seu clima, povo e ruído incessante, nada apaixona
mais".
Madhava veio "pela aventura". Agora aprecia a qualidade de vida,
especialmente a possibilidade de passar mais tempo com a família do que é
comum entre seus amigos em Boston. Valoriza especialmente a
oportunidade de "criar algo para centenas de milhares e em breve milhões
de pessoas. Isso me fascina".
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