A relação com o tempo talvez seja o que mais separa o Vale do Silício
daquilo que observo à minha volta no resto do mundo. Na Califórnia, todo
o sistema repousa, por bons motivos econômicos, na velocidade de
concepção, execução e na estratégia de saída (a aquisição ou abertura de
capital da empresa). Isso está integrado até ao desenvolvimento de
aplicativos, com o conceito de "versão beta", que consiste em colocar um
produto no mercado antes que este esteja pronto, e melhorá-lo levando
em conta as reações dos usuários.
Mas do Brasil à Índia, e em todos os demais lugares que visitei
recentemente, o tom parece muito diferente. Em Recife, Sílvio Meira
--professor de informática que desempenhou papel chave no
desenvolvimento da cidade conhecida como terceiro polo tecnológico do
Brasil (atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro), me disse que "o
Vale do Silício demorou 30 anos para consolidar sua posição. A Índia
está se esforçando para desenvolver Bangalore desde os anos 70. Não é
algo que possa ser realizado com uma varinha de condão. É precisa
capacitar dezenas de milhares de engenheiros e aprender a operar
sistematicamente". E também é preciso, sempre, despertar o espírito
empresarial.
Em Jacarta, Indonésia, Mamuaya Rama --fundador do site de informações DailySocial.net
me acompanhou em uma visita à incubadora Merah Putih, explicando que as
empresas iniciantes demoram muito a sair da incubadora --18 meses ou
mais. "A maioria delas é criada por pessoas muito jovens e sem
experiência de negócios, como eu. O objetivo é nos estabelecermos como
empresas estáveis. E para consegui-lo não se pode estabelecer um limite
de prazo".
Em Mumbai, Índia, Vishal Gundal, empreendedor tornado empresário, também
estudou o processo do Vale do Silício. Não apenas "o que se faz nos
Estados Unidos em dois anos aqui demora quatro ou cinco, e o longo prazo
pode se estender a sete ou 10", como a dinâmica não ganha ímpeto até
que uma ou duas empresas iniciantes consigam sucesso suficiente para
entusiasmar os jovens e inspirá-los a realizar aventura semelhante.
É uma ideia acentuada por Poyni Baht --diretora da SINE, a incubadora do
Instituto Indiano de Tecnologia em Bombaim, criada em 1999. "Faltam-nos
exemplos", disse. "Não contamos com empresários de sucesso suficiente
para criar uma comunidade. A experiência é limitada. E fracassar
continua a ser tabu. É uma questão de ecossistema".
Mahesh Samat, ex-diretor da Disney na Índia, está convicto de que "os
mercados emergentes não crescerão de um dia para o outro. Não foi o que
aconteceu nos Estados Unidos e nem na Europa. Seguirão uma curva normal.
O crescimento vertiginoso é uma exceção".
O dinheiro não é um verdadeiro problema. Está disponível em toda parte,
mas as pessoas que o têm não estão habituadas a riscos e desconfiam da
intangível economia do conhecimento. Preferem "dar dinheiro a um filho
idiota que a um desconhecido que o mereça", disse o empresário e
investidor Mahesh Murthy, ele mesmo integrante de uma estirpe de
brâmanes. Tudo isso vai mudar, mas será preciso esperar o amadurecimento
de jovens criados na cultura digital e filhos de famílias ricas.
Há duas lições a extrair quanto à importância do tempo para o
desenvolvimento da inovação em todo o mundo. A primeira é que a vontade
de agir com rapidez pode ser uma armadilha, tanto para os investidores
locais ansiosos por imitar o Vale do Silício quanto para os estrangeiros
impacientes por aplicar um modelo que funciona em seus países a outros
mercados.
A segunda é que o mundo pode ser plano mas não é liso. Policrônico,
opera em diferentes velocidades a um só tempo. A inovação requer
dinheiro, organização, desenvolvimentos líquidos, mas seu avanço está
entremeado de comportamentos herdados da tradição... e que se movem em
câmera lenta.
Mas não nos equivoquemos. A verdadeira constante, por trás desses tempos múltiplos, é que a inovação fervilha em toda parte.
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