A explosão varreu o Pavilhão A5 numa noite maio de 2011. O incêndio
vinha da área em que operários poliam milhares de invólucros de iPads ao
dia. O calor, a fuligem e a força da explosão haviam transformado o
rosto de um deles numa máscara negra e vermelha que não permitia
distinguir sua face.
Ligaram na casa de Lai Xiaodong, um jovem de 22 anos que se mudara seis
meses antes para Chengdu, sudoeste da China, para se tornar um entre
milhões na engrenagem do maior sistema de produção industrial do mundo.
"Ele sofreu um acidente", disseram ao pai de Lai. "Vá ao hospital o mais
rápido possível."
Nos últimos dez anos, a Apple se tornou uma das mais poderosas
companhias do planeta, em parte, porque aprendeu a dominar a arte da
fabricação mundial. Mas os operários que montam os iPhones, iPads e
afins, muitas vezes, trabalham em condições precárias, segundo
trabalhadores dessas fábricas, defensores dos direitos trabalhistas e
documentos divulgados pelas empresas.
Os problemas variam de ambientes de trabalho complicados a falhas de segurança graves, por vezes fatais.
Os trabalhadores podem ficar sujeitos a exigências excessivas de horas
extras, às vezes sete dias por semana, e vivem em dormitórios lotados.
Alguns dizem que ficam tanto tempo em pé que suas pernas incham a ponto
de quase não poderem andar.
Menores de idade ajudam a produzir os aparelhos da Apple. Os
fornecedores não tratam corretamente os resíduos industriais perigosos e
falsificam seus registros, de acordo com relatórios internos e de
grupos ativistas, fiscais da situação na China.
O mais perturbador, dizem os grupos, é que alguns fornecedores
desconsideram a saúde dos trabalhadores. Há dois anos, 137 operários de
uma empresa fornecedora da Apple no leste da China sofreram lesões
quando foram ordenados a utilizar um produto químico venenoso para
limpar telas de iPhones.
Em um período de sete meses, em 2011, duas explosões em fábricas do
iPad, entre as quais a ocorrida em Chengdu, mataram quatro pessoas e
causaram ferimentos a outras 77. Antes das explosões, a Apple havia sido
alertada quanto às condições arriscadas na fábrica de Chengdu, de
acordo com a organização chinesa responsável pelo alerta.
"Se a Apple foi alertada e não agiu, é um comportamento repreensível",
disse Nicholas Ashford, ex-presidente do Comitê Consultivo Nacional de
Saúde e Segurança Ocupacional norte-americano, assessor do Departamento
do Trabalho dos EUA.
A Apple não é a única a manter um sistema de suprimento perturbador.
Mas, apesar dos avanços quanto às condições da fábrica e ao código de
conduta para fornecedores (leia ao lado), continuam a existir problemas
significativos. Mais da metade dos fornecedores auditados violou pelo
menos um aspecto do código de conduta a cada ano, desde 2007.
"A Apple jamais se incomodou com outra coisa que não melhorar a
qualidade dos produtos e reduzir o custo de produção", diz Li Mingqi,
que até abril era executivo na Foxconn Technology, um dos mais
importantes parceiros industriais da Apple.
HORA EXTRA
Na tarde da explosão na fábrica da Foxconn em Chengdu, Lai Xiaodong
ligou para a namorada, combinando um encontro para aquela noite. Mas o
chefe de Lai disse que teria de fazer horas extras. A fábrica estava
operando em ritmo frenético. Fileiras de máquinas poliam os invólucros
de iPads, operadas por operários com máscaras de segurança. O ar estava
tomado por pó de alumínio.
O pó de alumínio é um risco de segurança conhecido, causador de
explosões. Duas horas depois que começou o segundo turno de trabalho de
Lai, o edifício começou a balançar. Houve uma série de explosões. Foram
quatro mortos e 18 feridos. Lai sofreu queimaduras em mais de 90% do
corpo. Para a família, resta uma questão.
"Não sabemos ao certo por que ele morreu", disse a mãe de Lai. "Não compreendemos o que aconteceu."
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