sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Garotas gamers se unem contra o machismo

"Eu sou o Mario", diz uma garota, se referindo ao encanador italiano do videogame. "Eu sou Gordon Freeman", diz outra, sobre o protagonista da série "Half Life".
As frases acima, ditas por meninas canadenses cansadas de preconceito, estão em um vídeo postado no YouTube. Até agora, cerca de 300 mil pessoas assistiram a ele --e os comentários se dividem entre favoráveis e contrários.
"Jogadores imaturos e trapaceiros tiram a graça de jogar on-line", diz Jessica Oliver-Proulx, 28, uma das canadenses do vídeo (veja abaixo).
De acordo com dados referentes a 2010 da ESA (Associação de Software de Entretenimento, em inglês), órgão do mercado de videogames no Canadá, 38% dos jogadores do país são mulheres.
Jessica começou a jogar quando ganhou seu primeiro console da Nintendo, em 1988. De lá para cá, RPGs e games de tiro em primeira pessoa se tornaram seus preferidos --"Guild Wars 2" é o que mais joga atualmente.
A brasiliense Bruna Torres, 25, tem uma história semelhante à de Jessica: começou nos consoles, mas, hoje, dá preferência a jogos no PC.
"Antigamente existia muito preconceito", conta. "Aconteceu uma vez de o cara falar: 'Até parece que ela sabe jogar'. Foi jogar comigo e o matei várias vezes, ele ficou muito bravo."
Ao lado de quatro amigas --uma de Brasília, duas de São Paulo e uma do Rio--, Bruna escreve no blog Girls of War, cujo slogan é: "Quem disse que garotas não jogam?". Elas se encontrarão pela primeira vez no próximo dia 10, em São Paulo, quando farão uma palestra sobre a experiência na Campus Party, a principal feira de inovação e tecnologia do país.
Todos os tipos de game são tratados na página, menos um: "Não comentamos sobre futebol porque nenhuma de nós gosta", diz Bruna. "Queremos mudar isso."
Bruna Torres, do blog especializado em games Girls of War, formado por cinco amigas
"FEITO MULHERZINHA"
Professora de psicologia e de tecnologia em jogos digitais da PUC-SP, Ivelise Fortim, 30, perdeu o hábito de sentar no computador e fazer login em um RPG. "Ou você tem vida, ou você joga RPG, então parei de jogar porque é incompatível", diz, rindo.
Pesquisadora de jogos desde o mestrado, em 2002, Ivelise estudou o perfil das brasileiras fãs de games. "Se você pergunta a uma mulher se ela joga, ela diz que não, mas tem a fazenda mais maravilhosa [no 'FarmVille']."
"O estereótipo de ser 'gamer' é jogar RPG e jogos de tiro em primeira pessoa", diz a pesquisadora. Segundo ela, esse é o motivo por que muitas mulheres que são viciadas em games --principalmente os disponíveis em redes sociais-- não se identificam como "gamer".
Para Ivelise, os jogos de tiro em primeira pessoa são o principal foco de preconceito contra mulheres. "Um xingamento comum entre homens é dizer que o outro joga 'feito mulherzinha'", diz. "Mulheres são mais respeitadas em RPG do que em jogos de tiro em primeira pessoa."

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