Todas as manhãs, milhares de mexicanos, especialmente do norte do país,
acessam as redes sociais na internet, como o Twitter e o Facebook --às
vezes de seus smartphones-- para evitar tiroteios nas ruas, uma rotina
que mostra como a violência do narcotráfico invade cada vez mais o
cotidiano do país.
"Pedestres no centro relatam troca de tiros e perseguição, alguém
mais?", pergunta BalaceraGDF, conta no serviço de microblogs Twitter que
alerta para o que acontece nas ruas de Guadalajara, segunda cidade do
México.
Centenas de relatos como este são publicados para divulgar problemas de segurança.
Algumas contas são institucionais, como as criadas por várias cidades do
estado de Tamaulipas (nordeste, na fronteira com os Estados Unidos),
entre os mais afetados pela violência do tráfico, e que no começo do ano
decidiram divulgar em tempo real informes de seus patrulheiros.
"A intenção é estabelecer mecanismos de comunicação para terminar com
boatos que saem da rede social e informar o que acontece em tempo real",
explica Juan Triana, diretor do governo municipal de Reynosa, cidade de
500 mil habitantes em Tamaulipas, vizinha a McAllen, nos Estados
Unidos.
"Antes de levar meu filho para o colégio, eu consulto o meu Blackberry
para checar o que acontece nas ruas, para não achar uma surpresa", conta
Rosario León, funcionária de uma loja em Reynosa.
Em Tamaulipas e no vizinho estado de Nuevo León, também na fronteira com
os Estados Unidos, desde fevereiro a violência associada ao
narcotráfico tem se intensificado.
Segundo um boletim do governo mexicano, o noroeste do país é alvo de uma
disputa (entre o Cartel do Golfo e Los Zetas, dois dos sete cartéis que
operam no país) que já deixou mais de 1.300 mortos.
"Exército patrulhando #sanfernando com blitzes imprevistas.... Bom dia a
todos", diz a mensagem de um usuário de San Fernando, povoado de
Tamaulipas que foi palco, no fim de agosto, de uma chacina de 72
imigrantes das Américas Central e do Sul, atribuída a Los Zetas.
Um pouco adiante, no porto de Tampico, uma conta do Twitter pergunta:
"alguém mais soube dos 4 enforcados de hoje na ponte?". Um usuário
alerta, inclusive, da Cidade do México: "mobilização policial no
Periférico, evite a região".
Com uma imprensa ameaçada --pelo menos dez jornalistas mexicanos foram
assassinados este ano--, estes relatos em tempo real "estão deslocando o
papel dos meios de comunicação; no México há mais notícias de primeira
ordem que aparecem primeiro nas redes sociais", diz Leobardo Hernández,
pesquisador da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
Hernández cita o sequestro do ex-candidato à Presidência Diego Fernández
de Cevallos, do qual "se soube mais nas redes do que na mídia", segundo
este pesquisador, coautor do livro "Seguridad y delincuencia en
internet", e que prepara um novo texto sobre o terrorismo na rede.
Mas as redes sociais não servem apenas para evitar a violência, adverte
Hernández. Os grupos criminosos também podem usá-las para ameaçar, obter
informações de vítimas ou evadir a ação das autoridades.
"Este é um entre muitos usos, ninguém pode duvidar do benefício das
redes sociais, mas também envolvem riscos, sobretudo porque expõem em um
foro público informação privada", explica.
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