domingo, 28 de novembro de 2010

EUA ordenaram espionagem da ONU; WikiLeaks divulga arquivos secretos da diplomacia

Autoridades americanas foram instruídas a espionar líderes da ONU (Organização das Nações Unidas). Líderes árabes pediram um ataque aéreo ao Irã. No Paraguai, os EUA pediram até o DNA de quatro candidatos à Presidência.
Essas informações diplomáticas começaram a ser divulgadas neste domingo pela imprensa internacional, a partir de mais de 250 mil comunicados confidenciais de embaixadas americanas --a maioria dos três últimos anos-- vazados pelo site WikiLeaks.

A divulgação pode jogar os EUA em uma crise diplomática mundial, já que os documentos revelam a avaliação de Washington sobre vários assuntos internacionais extremamente delicados. Isso inclui, segundo o jornal britânico "Guardian", uma grande mudança de relações entre a China e a Coreia do Norte, o aumento da instabilidade no Paquistão e detalhes de esforços clandestinos dos EUA para combater a rede terrorista Al Qaeda no Iêmen.



Os EUA queria conhecer a rotina dos funcionários da ONU, seus cartões de crédito, emails e telefones, informa o "El País", jornal espanhol que teve acesso aos documentos vazados pelo WikiLeaks.
O Departamento de Estado americano pediu no ano passado aos funcionários de 38 embaixadas e missões diplomáticas uma relação detalhada de dados pessoais e de outra natureza sobre as Nações Unidas, inclusive sobre o secretário-geral, Ban Ki-moon, e especialmente sobre os funcionários e representantes ligados ao Sudão, Afeganistão, Somália, Irã e Coreia do Norte, segundo o jornal espanhol.
A equipe diplomática e consular credenciada na ONU e nos países afetados pelas instruções foram encarregados de realizar a "espionagem branda", segundo comunicados classificados como secretos, afirma o "El País". Os despachos pedem "inteligência humana", dados conseguidos em contatos pessoais ou em relações informais.
Também foram solicitadas informações biográficas, biométricas e financeiras sobre líderes palestinos.
O WikiLeaks revelou, em outubro, 391 mil documentos sobre a Guerra do Iraque que continham várias denúncias de torturas e abusos que os Estados Unidos nunca averiguaram, morte de civis que não foram informadas e a ajuda iraniana a milícias iraquianas. Em julho, o portal publicou 70 mil documentos da guerra do Afeganistão.
Os EUA criticam o WikiLeaks pelos vazamentos de documentos, alegando que eles colocam em risco a segurança nacional e de indivíduos.
ESPIONAGEM
Instruções para uma espionagem semelhante foi enviada a outros países, informa o jornal. A embaixada de Assunção teve que recolher dados físicos dos aspirantes à Presidência do Paraguai em 2008. Isso incluiu até scanner da íris, impressões digitasis e DNA de quatro candidatos presidenciais.
Na região dos Grandes Lagos, na África, foram pedidos detalhes sobre instalações militares e compra e venda de armas, afirma o "El País".
Algumas das informações solicitadas pelo Departamento de Estado, segundo o jornal:
  • "Planos, intenções, objetivos e atividades palestinas relacionadas com as políticas dos EUA sobre o processo de paz e o combate ao terrorismo";
  • "Informação biográfica, biométrica e financeira sobre os líderes palestinos e do Hamas, incluindo os dos movimentos jovens, dentro e fora de Gaza e Cisjordânia";
  • "Planos e atividades concretas do Reino Unido, França, Alemanha e Rússia sobre as políticas da Agência Internacional de Energia Atômica";
  • "Planos e intenções dos líderes e países mais influentes da ONU, especialmente Rússia e China, sobre direitos humanos no Irã, sanções ao Irã, fornecimento de armas iranianas ao Hamas e Hizbollah e sobre as candidaturas que o Irã apresenta para ocupar postos-chave na ONU".
LÍDER EXCÊNTRICO
Um despacho enviado pela embaixada em Trípoli dá detalhes curiosos sobre o ditador Muammar Gaddafi, sob o assunto "Uma espiada nas excentricidades do líder líbio Gaddafi".
"Ele também parece ter uma intensa rejeição ou medo de ficar em andares superiores, supostamente prefere não voar sobre água, e parece gostar de corrida de cavalos e de dança flamenca", informa o comunicado, divulgado pelo jornal "The New York Times".
"Finalmente, Gaddafi conta extremamente com sua enfermeira ucraniana de longa data, Galyna Kolotnytska, que foi descrita como uma "loira voluptuosa". (...) Gaddafi não pode viajar sem Kolotnytska, já que só ela 'conhece sua rotina'."



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