Em "Epic Mickey", exclusivo para Wii, o jogador assume Mickey Mouse em uma missão especial: salvar os personagens antigos e esquecidos da Disney contra as vilanias de Mancha Negra, o chefão da "Wasteland", terra de ninguém nos cartuns. No caminho, além de personagens como a vaca Ortensia e Bafo de Onça, Mickey reencontrará seu irmão, Oswald, o Coelho Sortudo.
Leia abaixo entrevista exclusiva com Warren Spector, criador de "Epic Mickey".
FOLHA - "Epic Mickey" era conhecido como o "Projeto de Game Supersecreto de Warren Spector". Por quê?
WARREN SPECTOR - Bem, era só um desejo de criar um game que as pessoas falariam sem parar sobre ele. A Disney pediu para manter segredo sobre o jogo até que tivéssemos alguma coisa para mostrar.
Qual o enredo do jogo?
Eu sou terrível em resumir as coisas, mas vou tentar (risos). Basicamente, Mickey Mouse está preso em um mundo ao qual ele não pertence: o mundo de personagens da Disney sombrios e rejeitados há mais de 80 anos, a "Wasteland" (terra de ninguém, em inglês). Ele foi parar lá por causa de um inimigo, o Mancha Negra. Ele tem que explorar o mundo e tentar escapar de lá. Ele descobre que muitos de seus amigos antigos estão lá e, por algum motivo misterioso, ele faz alguma coisa que torna a vida de todos pior. Então, pensa: "Não posso simplesmente ir embora, tenho que resolver as coisas." Ao tentar fazer isso, descobre algo ainda mais importante, que ele tem um irmão, Oswald, o Coelho Sortudo. Ele tem que salvar esse irmão, que tem muita raiva do Mickey por ter roubado a "luz" que deveria ter sido dele. Oswald deveria ter sido o cartum mais famoso do mundo, e não Mickey. No fim da história, é claro, Mickey é o herói e salva o mundo. A pergunta é: como ele fez isso? A resposta está nas mãos de cada jogador.
É um jogo sombrio?
No design, é um pouco. Um dos objetivos principais de "Epic Mickey" era fazer de Mickey Mouse um herói dos games, no mesmo nível de, por exemplo, Mario e Sonic. Para ser um herói, você precisa ter algo desafiador e importante para lutar. Não há nada de heroico em passear com um cachorro, a não ser que seja o meu, que é louco (risos). Você precisa de um grande problema e, neste caso, é um mundo que foi esquecido, totalmente sombrio. Uma das coisas que definem o caráter do Mickey ao longo dos anos é que ele é superentusiasmado e age antes de pensar. No jogo, Mickey causa todo o problema em Wasteland, então ele tem que resolver o problema nesse mundo sombrio. Mas como teríamos luz sem a escuridão, alegria sem tristeza?
Os fãs ficarão surpresos com o Mickey que eles encontrarão no jogo?
É sempre bom que eles fiquem surpresos, pois oferece aos jogadores algo novo. Mas também espero que eles sintam uma familiaridade e se sintam confortáveis jogando. Mickey é um dos ícones mais reconhecíveis do mundo, então você tem de ser fiel ao que o manteve interessante e relevante pelos últimos 82 anos. Quero que os jogadores se reconectem ao Mickey de uma maneira nova.
Com quais personagens antigos os jogadores vão cruzar?
A ideia de um mundo de personagens esquecidos veio da própria Disney, e eu fiquei muito empolgado com isso. Eu adoro a história dos quadrinhos, minha tese de mestrado foi sobre isso. Se o primeiro objetivo é tornar Mickey um herói, o segundo é levar Oswald de volta ao mundo das estrelas dos cartuns. Disney retomou os direitos de um personagem que tinha perdido em 1928 e, para mim, reintroduzi-lo ao mundo foi uma honra. Esse é o primeiro personagem esquecido que vamos trazer de volta, mas tem muitos outros, como Horácio e Ortensia, alguns projetos descartados para personagens de "Peter Pan", e os Gremlins. Também haverá referência à "Fantasia".
O jogador pode escolher o personagem?
Não, apenas o Mickey. É um jogo "single player", quero que o foco seja em Mickey Mouse. A inovação não está nas opções de jogadores múltiplos, mas na mecânica das pinturas que permite que o jogador avance.
Os gráficos são modernos ou têm uma pegada "vintage"?
Antes de mais nada, gostaria de dizer que estou muito orgulhoso do resultado final do jogo. Muitos diretores de arte da Disney participaram desse jogo. O jogo é todo em 3D, então o desenho todo foi muito desafiador. Quando você viaja de uma parte para outra de Wasteland, há plataformas 2D também, que foram diretamente influenciadas pelos desenhos antigos do Mickey e Oswald. E uma grande parte da narrativa do jogo é contada de forma conceitual, com imagens muito claras e escuras. São quatro conceitos muito diferentes, mas, sinceramente, gostaria que parecesse um filme da Disney. É mais vintage do que moderno, mas o jogo é uma homenagem à história da Disney, então não quero deturpá-la.
Quantas pessoas trabalharam na concepção do jogo? Quanto tempo demorou para ficar pronto?
No total, cerca de 280 pessoas. Tive minha primeira conversa com a Disney em setembro de 2005. No começo, o jogo seria desenvolvido para X-Box e Playstation 3. Em 2008, decidimos que seria exclusivo para Wii.
Por que decidiram fazer o jogo apenas para Wii?
Os jogadores devem estar envolvido com um ambiente divertido, então colocamos um pincel nas mãos deles. Em 2008, a única plataforma disponível com as funções mecânicas que gostaríamos era o Wii. Outro objetivo era quebrar o estigma de fazer jogos apenas para homens entre 18 e 30 anos de idade. Eu não tenho a menor ideia de como cativar crianças sem perder os jogadores mais velhos, e Playstation 3 e X-Box têm um público-alvo muito específico. Wii é de oito a 80 anos.
Então não é um jogo apenas para crianças?
Não! Se isso acontecer, ficarei muito decepcionado. Queria fazer um jogo que tivesse um apelo tão abrangente quanto um filme da Pixar ou alguns dos melhores filmes da Disney. Ninguém diria que "Toy Story 3" é um filme apenas para crianças. E eu acredito nesse poder para os jogos também.
É verdade que "Epic Mickey" será uma trilogia?
Eu sempre penso em projetos dessa forma, mas isso não significa que faremos outro jogo. É só o jeito que minha mente funciona: histórias que não acabam.
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