Sexta-feira, dia 23, eu contei 17. 8 indo pra BBC e 9 vindo da BBC. Eu
indo, eu vindo. 17 o quê? 17 moças falando no celular na rua. 2 delas,
dirigindo carro.
Pelo meu olho de lince, eu diria que estavam todas na simpática faixa
dos 18 aos 30 anos. Sorriam todas, que a vida é bela e o papo bom.
Homens, eu dei com 2. Um no metrô falando alto e marcando encontro na
frente de um banco na Strand, aqui pertinho. O outro não deu para pegar.
Estava muito sério. Não quis me meter. Poderia eu ou ouvir uma
descompostura ou levar uma porrada na cara.
O telefone, mesmo esse celular ubíquo e escancarado, ainda constitui --e não me perguntem porquê-- aparelho dito partícula.
A verdade é que eu andava numa bruta falta de pesquisa. De repente,
talvez devido à temperatura, todos os pesquisadores ficaram ou em casa
ou foram passar as férias na Espanha.
Resolvi então, chato e abelhudo que sou, fazer minha própria pesquisa e
estudo. Que, como a rosa do poema famoso, não durou mais que o espaço de
uma manhã.
Agora, vou ser brutalmente franco. Tenho uma pronunciada antipatia por
celulares. Mesmo os velhos telefones, aqueles pretões d'outrora, não me
diziam nada nem eu nada tinha a dizer a eles ou neles.
Que eu me lembre, em mais de 5 décadas recebi no máximo uma meia dúzia
de telefonemas a que se poderia chamar de interessantes. Importantes,
outros tantos. Em geral, más notícias. Que as pessoas adoram dar más
notícias, pois somos humanos, excessivamente humanos. De resto, era um
aparelho com uma disposição dita funcional. Servia para marcar um
encontro com o corretor de imóveis, desejar os pêsames a alguém,
reclamar da vitrola do vizinho no andar de cima. Por aí.
Jogar papo fora? Absolutamente. Papo ficava para a esquina ou o bar.
De repente, em minha vida, que já era sem graça e cheia de nove horas
(mesmo às onze da noite), surgiram os celulares. Na vida do mundo
inteiro, para ser mais preciso. Todos armados de celular na mão em tudo
quanto é lugar, principalmente na rua.
Sempre com um sorriso alegre na cara. Coitadas, não sabem como parecem tolas ou loucas como na chanson gravada pela Edith Piaf.
Sim, é verdade, generalizei. Disse "elas".
Resultado da pesquisa de sexta-feira e observação feita nos últimos
anos. As mulheres "celularizam" mais que os homens. Juro que não é
misoginia de minha parte. Uma certa implicância? Ummm, talvez. Mas não
dá pra jurar com a mão em cima de uma bíblia.
O chamado texting (como é em português alfabetizado?), esse fica para outro dia.
Portanto, aí está. Pesquisa de olhada e, até onde possível, de orelhada,
que eu não sou besta de me meter na vida dos outros, ou delas, das
outras.
Um dia depois de minha pesquisa, pesquei uma para valer num jornal. A
manchete dizia tudo: "O que é mais sujo, um celular ou o assento de uma
privada?"
A resposta vinha no texto, baseada na opinião abalizada do microbiólogo
Chuck Gerba, de nacionalidade britânica, aqui radicado, e que comentava
uma pesquisa feita em Nova York pela ABC News que saiu pela rua, sem
celulares, pelo que depreendi, perguntando às pessoas o seguinte: "O que
o senhor, senhora ou senhorita acha que é mais sujo: a sola de seu
sapato, o assento de uma privada ou um telefone celular?"
Mais de 90% dos arguidos responderam que era o assento da privada.
Erraram redondamente. Segundo pesquisas americanas, agora endossadas
pelo supracitado Chuck Gerba (aliás microbiólogo que se preza deveria se
assinar Charles e não Chuck, mas deixa pra lá).
Gerba explicou que dezenas de milhares de germes, microrganismos ou
ainda micróbios, se preferirem, adoram um celular, mais mesmo que as
mocinhas, acrescento eu.
Gerba adianta que as bactérias se multiplicam em lugares mornos. O
calorzinho gerado por um celular é um cantinho ideal para a reprodução,
na opinião, se opinião tem, dos diversos micróbios.
Gerba afirma, como técnico no assunto, que a temível bactéria do
estafilococo (o sufixo diz tudo), que pode causar tudo, de infecções na
pele à meningite, pode ser encontrada mole, mole (arram...) nos
celulares menos asseados.
E que é difícil à beça dar com um celular asseado pela proa. Gerba
testou 25 marcas diferentes e encontrou a staph (como eles a chamam) em
quase metade delas.
Gerba pediu emprestado o celular do técnico de som que o entrevistou,
tacou debaixo do microscópio, e foi peremptório. Disse ser o mais imundo
celular que já encontrara, tendo nele constatado a existência de entre
10 a 50 milhões de bactérias. O cientista ainda fez uma brincadeira
(acho) afirmando que, se há uma forma nova de vida na Terra, é a que o
celular em questão abrigava.
Sem querer fazer propaganda, mas fazendo, a Motorola vem de adotar uma
tática inteligente: seus celulares possuem uma camada anti-micróbios,
que impede as bactérias de se reproduzirem.
Enquanto isso, amigas e amigos, limpai com o maior cuidado vossos
celulares. Com aqueles wipes ou lencinhos de papel umedecidos. Quanto ao
assento de privada, vamos, please, esquecer essa história ou
comparação.
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