A Casa Branca condenou duramente o ataque e apelou ao site para que não divulgue mais informações. De acordo com o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, a divulgação destas informações colocam em risco a segurança nacional e as vidas de informantes afegãos e membros do Exército dos Estados Unidos.
Entenda o caso:
O SITE
O WikiLeaks (www.wikileaks.org) é uma espécie de Wikipedia de arquivos vazados. O site se baseia na combinação de uma interface simples, muito similar à enciclopédia, com tecnologias de criptografia avançadas e uma rede de sedes que "confunde" o caminho da informação e torna quase impossível sua reconstrução até a origem.
A ideia é divulgar material o mais amplamente possível com completo anonimato das fontes, que fazem uploads anônimos e protegidos. O WikiLeaks, porém, em geral não verifica a veracidade das informações. A checagem se baseia em revisões dos próprios usuários.
Criado em julho de 2007, o WikiLeaks já abrigou mais de 1 milhão de documentos, incluindo arquivos sobre a relação entre os EUA e o Brasil. O site só ficou "famoso" em junho deste ano, ao divulgar as imagens brutais feitas por um helicóptero americano em um ataque contra civis em julho de 2007, em Bagdá, no Iraque.
O site depende de donativos, mas sabe-se pouco sobre a origem e as dimensões de seu financiamento. Recentemente, seu fundador, Julian Assange, disse que vive como nômade, carregando um computador em uma mochila e suas roupas em outra. Após manter-se discreto por vários anos, suas aparições públicas vêm se tornando mais frequentes.
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O VAZAMENTO
O WikiLeaks voltou às páginas dos jornais com a estratégica divulgação dos mais de 91 mil documentos sobre a guerra do Afeganistão, que vão de janeiro 2004 a dezembro de 2009. São páginas com nomes de informantes, transcrições de entrevistas, relatórios não divulgados de operações e incidentes.
O conteúdo foi antecipado ao jornais britânico "Guardian", americano "New York Times" e alemão "Der Spiegel" --que trouxeram as denúncias em grande destaque nas edições de domingo. Pouco depois, o conteúdo estava no próprio site do Wikileaks e sendo reproduzido em todo o mundo.
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OS DOCUMENTOS
Entre as informações que vieram a público está a existência de um destacamento militar especial para capturar ou matar insurgentes sem direito a julgamento. Os textos mostram ainda que o Taleban está mais forte do que no início do conflito, em 2001, e que centenas de mortes de civis deixaram de ser relatadas oficialmente.
Os documentos informam que pelo menos 195 civis foram mortos e outros 174, feridos. O número, contudo, pode ser subestimado porque, em muitas missões, as tropas omitem esse tipo de acontecimento.
Erros que ocasionaram morte de civis também incluem o dia em que soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças em 2008, matando 8. Uma ronda similar feita pelas tropas norte-americanas matou 15 passageiros.
Os textos trazem ainda fortes suspeitas de que o serviço secreto paquistanês mantém encontros com insurgentes afegãos para ajudá-los na luta anti-EUA.
Confirma ainda a expansão das atividades da CIA, líder em planos de emboscadas, ataques aéreos e incursões noturnas, e o uso cada vez mais frequente dos chamados drones (aviões não tripulados), embora os resultados sejam piores que o divulgado. Há casos de drones que caíram e que se chocaram.
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O SUSPEITO
O principal suspeito do vazamento é o militar americano Bradley Manning, transferido nesta sexta-feira de uma prisão militar no Kuait para a base da Marinha em Quântico, nos Estados Unidos.
Manning, de 22 anos, serviu como analista de inteligência no Iraque. Ele já havia sido detido em maio passado, suspeito de ter transmitido ao Wikileaks o vídeo do ataque do helicóptero do Exército americano no Iraque.
Segundo o Pentágono, Manning teria acessado um sistema mundial militar dos Estados Unidos, com acesso restrito via internet, Secret Internet Protocol Router Network (SIPRNET), e baixado dezenas de milhares de documentos.
Para poder ter acesso a este sistema, o pessoal autorizado precisa de senhas, além de passar por outras medidas de controle, como o acesso físico, para conectar-se a sistemas específicos que fornecem informação classificada nos mais altos níveis. Ele teria este acesso devido a seu cargo de analista de inteligência.
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A REAÇÃO
Estados Unidos e Afeganistão rapidamente responderam ao vazamento dizendo que os documentos não traziam nada que já não fosse sabido e amplamente discutido entre os países.
Eles criticaram ainda a irresponsabilidade do site em divulgar informações cruciais da guerra, como nomes de colaboradores e informantes, e alertaram que as informações colocam vidas em risco.
O fundador do site Wikileaks, por sua vez, defendeu a divulgação dos documentos que revelam, segundo ele, que a coalizão internacional pode ter cometido "crimes de guerra" no Afeganistão.
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