A frase acima tem sido ouvida em Manhattan cada vez com mais frequência,
relata o "New York Times" na reportagem "O fim do esquecimento", na
capa de sua excelente revista dominical.
A tese é que a internet é um fundo infinito que guarda tudo para sempre,
incapaz de defender reputações e com mecanismos de busca cada vez mais
precisos para localizar qualquer desvio de conduta uma vez registrado.
A web tornou-se, entre muitas outras coisas, plataforma global para o
exibicionismo 3.0. Há um revelador e crescente apetite para exibir
amigos, gostos, fotos, músicas, seguidores, localização, programas,
enfim, a vida. E um eterno apetite por notícias ruins. "Bad news, good
news" sempre foi a lógica do noticiário replicada (e acentuada) na
internet.
Por isso é preciso tomar cuidado com o que você faz quando mergulha
nesta tela aqui. Atrás dela estão bilhões de olhos, ouvidos, bocas e
dedos digitadores.
Relata o artigo do "Times":
1) O Facebook já tem 500 milhões de membros, ou um em cada cinco
internautas. Todo mês eles gastam mais de 500 bilhões de minutos no Face
e compartilham 25 bilhões de conteúdos.
2) O Twitter tem mais de 100 milhões de usuários, e a Livraria do
Congresso americano anunciou que armazenará permanentemente todos os
posts públicos do Twitter desde 2006.
3) Técnicas de reconhecimento facial já permitem que se vasculhe a web
em busca da foto de uma pessoa mesmo que o nome dela não esteja
associado à imagem.
Estamos registrando tudo na web, uma exposição tão genuína quanto
voluntária. Queremos nos relacionar, e se relacionar é se exibir.
Se antes era possível exibir, relacionar e depois esquecer, hoje há uma
chance enorme, tanto maior quanto mais digitalizada a pessoa, de você
mesmo registrar para a prosperidade o que você um dia vai querer muito
esquecer.
Uma canadense de 66 anos, relata o "Times", perdeu o direito de entrar
nos EUA depois que o funcionário da imigração achou na internet texto
seu elogiando o LSD. Já uma professora americana perdeu o emprego por
ter postado uma foto sua numa festa exaltando bebidas.
Já há um aplicativo para o iPhone chamado Date Check, que oferece perfil
sobre a pessoa com quem você quer sair vasculhando fichas criminais,
histórico de endereços e informações obtidas nas redes sociais.
A enorme maioria das empresas dos EUA já usa redes sociais para checar
candidatos a empregos. As brasileiras fazem ou logo farão o mesmo.
Aquela sua foto bêbado com cigarro na boca que você ou um amigo seu
postou um dia desavisado pode aparecer no meio da sua entrevista.
Os americanos, que inventaram tudo isso, já estão dando o próximo passo.
Nasce a indústria da reputação digital: o que já é feito para empresas,
entes públicos por natureza, chegou à pessoa física, cada vez mais
pública.
Um professor de cyber legislação de Harvard já defende a "falência de
reputação", que poderia ser decretada pela pessoa que se sente incapaz
de defender sua imagem na internet. Decretada a falência, arquivos
difamatórios poderiam ser eliminados.
O Google já tem um serviço que tenta combater postagem sob influência do
álcool, que pode causar quase tanto estrago quanto dirigir bêbado.
Acionado o mecanismo, o usuário terá de resolver um simples teste de
matemática para confirmar o envio do post/mensagem.
A internet é a mudança mais transformadora da história recente. Ela
conecta todas as pessoas o tempo todo. E isso é um avanço fundamental,
seminal, que está apenas começando a se realizar.
Acho que foi o filósofo Woody Allen que disse que se um extraterrestre
analisasse a Terra, o sofrimento que os homens causam a outros homens
chamaria mais a atenção do alienígena do que nossos grandes feitos na
engenharia, nas artes, na economia.
Dada essa tendência, e a permanência da internet, talvez seja melhor mesmo você não tuitar o que está pensando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário