terça-feira, 3 de julho de 2012

O revelador paradoxo das startups israelenses

Israel conta com os dois elementos chave para triunfar na tecnologia de informação (prêmios Nobel (prova da qualidade de seu ensino superior) e dinheiro para investimento em empreendimentos de risco. Não foi isso que criou a força do Vale do Silício?
Falta apenas promover o encontro entre esses fatores. Essa é a função da Yissum, uma empresa criada em 1964 pela Universidade Hebraica de Jerusalém com o fim de "proteger e comercializar" as propriedades intelectuais criadas por seus professores.
Vice-presidente de pesquisa do grupo durante oito anos, Hervé Bercovier teve participação ativa em sua gestão. "Toda as criações de um professor realizadas na universidade pertencem a ela, e sua gestão é confiada à Yissum", ele explicou. "A empresa determina inicialmente se são patenteáveis e, se o forem, se encarrega das vendas. Caso obtenha sucesso, a Yissum fica com 40% do faturamento, e doa metade da quantia arrecada ao laboratório do professor em questão". Isso permite que a universidade mantenha os cofres cheios, mas o principal objetivo, de acordo com Bercovier, é "colocar ideias em teste".
O resultado é visível no site da empresa: sete mil patentes e participação na criação de 72 companhias. Os produtos comercializados pela Yissum "geram mais de US$ 2 bilhões em vendas anuais". É causa para reflexão.
O Estado --cujo papel tendemos frequentemente a minimizar, especialmente no que tange ao Vale do Silício- soube criar com presteza as condições para mobilizar grandes recursos financeiros. Implementado em 1993, o programa mais conhecido, Yozma (iniciativa, em hebraico), funciona com base em dois critérios: o Estado contribui com metade do capital aplicado por investidores privados, os quais, caso o projeto tenha sucesso, podem adquirir a participação pública no projeto a preços favoráveis em prazo de cinco anos. Como descrevem Dan Senor e Saul Singer em seu livro "Start-Up Nation", "o governo compartilha dos riscos (e) oferece as recompensas aos investidores".
O procedimento atraiu investimento de grandes empresas como Intel. Microsoft, Google, HP etc. Ao que seria preciso acrescentar o momento chave que desperta o entusiasmo dos investidores: a venda de uma empresa iniciante em que ninguém acreditava por um valor que parece uma fortuna. Foi o que aconteceu em 1998 quando a AOL adquiriu por US$ 400 milhões um programa de chat que surgiu com o nome Mirabilis mas viemos a conhecer como ICQ.
"Estou no mundo das startups desde a adolescência", disse Yossi Vardi, pai de um dos fundadores da Mirabilis (e investidor na companhia). "Eu não entendia porque havia centenas de milhares de pessoas baixando o programa e decidi decifrar o mistério. Precisei de três anos para formar uma teoria unificada sobre a experiência de usuário". Ainda que não seja possível determinar que influência essa pesquisa exerceu sobre seus resultados, o lucro de Vardi foi mais que bom.
O sucesso de Israel "se deve à aliança entre a multidão de pequenas empresas locais e as grandes multinacionais em busca de inovação". Vardi estima que a Intel tenha investido em 54 startups e a IBM em 11. "Elas contribuem com sua capacidade de gestão", diz, "e nos conferem acesso ao mercado mundial", o que é sempre difícil para os países pequenos.
Jeremie Berrebi, que administra o fundo Kima Ventures com Xavier Niel (acionista do diário francês "Le Monde"), concorda, afirmando que "a capacidade dos fundadores para aguentar o choque das propostas que chegam é claramente um dos maiores problemas para quem investe cedo". Mas também considera que existem transações de grande porte (da ordem das centenas de milhões de dólares) em número suficiente para que vendas rápidas sejam propícias.
As startups israelenses são suficientemente promissoras para atrair investidores do mundo inteiro, mas não poderosas o bastante para se transformarem em sucesso mundial. Contemplado a certa distância, o paradoxo parece saudável.

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