Israel conta com os dois elementos chave para triunfar na tecnologia de
informação (prêmios Nobel (prova da qualidade de seu ensino superior) e
dinheiro para investimento em empreendimentos de risco. Não foi isso que
criou a força do Vale do Silício?
Falta apenas promover o encontro entre esses fatores. Essa é a função da
Yissum, uma empresa criada em 1964 pela Universidade Hebraica de
Jerusalém com o fim de "proteger e comercializar" as propriedades
intelectuais criadas por seus professores.
Vice-presidente de pesquisa do grupo durante oito anos, Hervé Bercovier
teve participação ativa em sua gestão. "Toda as criações de um professor
realizadas na universidade pertencem a ela, e sua gestão é confiada à
Yissum", ele explicou. "A empresa determina inicialmente se são
patenteáveis e, se o forem, se encarrega das vendas. Caso obtenha
sucesso, a Yissum fica com 40% do faturamento, e doa metade da quantia
arrecada ao laboratório do professor em questão". Isso permite que a
universidade mantenha os cofres cheios, mas o principal objetivo, de
acordo com Bercovier, é "colocar ideias em teste".
O resultado é visível no site da empresa: sete mil patentes e
participação na criação de 72 companhias. Os produtos comercializados
pela Yissum "geram mais de US$ 2 bilhões em vendas anuais". É causa para
reflexão.
O Estado --cujo papel tendemos frequentemente a minimizar, especialmente
no que tange ao Vale do Silício- soube criar com presteza as condições
para mobilizar grandes recursos financeiros. Implementado em 1993, o
programa mais conhecido, Yozma (iniciativa, em hebraico), funciona com
base em dois critérios: o Estado contribui com metade do capital
aplicado por investidores privados, os quais, caso o projeto tenha
sucesso, podem adquirir a participação pública no projeto a preços
favoráveis em prazo de cinco anos. Como descrevem Dan Senor e Saul
Singer em seu livro "Start-Up Nation", "o governo compartilha dos riscos
(e) oferece as recompensas aos investidores".
O procedimento atraiu investimento de grandes empresas como Intel.
Microsoft, Google, HP etc. Ao que seria preciso acrescentar o momento
chave que desperta o entusiasmo dos investidores: a venda de uma empresa
iniciante em que ninguém acreditava por um valor que parece uma
fortuna. Foi o que aconteceu em 1998 quando a AOL adquiriu por US$ 400
milhões um programa de chat que surgiu com o nome Mirabilis mas viemos a
conhecer como ICQ.
"Estou no mundo das startups desde a adolescência", disse Yossi Vardi,
pai de um dos fundadores da Mirabilis (e investidor na companhia). "Eu
não entendia porque havia centenas de milhares de pessoas baixando o
programa e decidi decifrar o mistério. Precisei de três anos para formar
uma teoria unificada sobre a experiência de usuário". Ainda que não
seja possível determinar que influência essa pesquisa exerceu sobre seus
resultados, o lucro de Vardi foi mais que bom.
O sucesso de Israel "se deve à aliança entre a multidão de pequenas
empresas locais e as grandes multinacionais em busca de inovação". Vardi
estima que a Intel tenha investido em 54 startups e a IBM em 11. "Elas
contribuem com sua capacidade de gestão", diz, "e nos conferem acesso ao
mercado mundial", o que é sempre difícil para os países pequenos.
Jeremie Berrebi, que administra o fundo Kima Ventures com Xavier Niel
(acionista do diário francês "Le Monde"), concorda, afirmando que "a
capacidade dos fundadores para aguentar o choque das propostas que
chegam é claramente um dos maiores problemas para quem investe cedo".
Mas também considera que existem transações de grande porte (da ordem
das centenas de milhões de dólares) em número suficiente para que vendas
rápidas sejam propícias.
As startups israelenses são suficientemente promissoras para atrair
investidores do mundo inteiro, mas não poderosas o bastante para se
transformarem em sucesso mundial. Contemplado a certa distância, o
paradoxo parece saudável.
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