segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gestão de Howard Stringer na Sony é alvo de críticas

Se a Sony tivesse persistido com o computador portátil Airboard, que lançou em 2000, Satoru Maeda, e não Steve Jobs, da Apple, talvez estivesse sendo celebrado como o criador do tablet.
"Eu inventei o Airboard", disse Maeda entre garfadas de camarão frito e bolinhos em um restaurante chinês no centro de Tóquio.
Ele se referia a um aparelho dotado de tela plana que precedeu o iPad por uma década e oferecia vídeos, tela de toque para digitação e acesso à internet.
O preço salgado e a qualidade de imagem precária foram dois dos motivos para que o produto --que em retrospecto parecia estar adiante de sua era-- não tenha decolado com rapidez. Disputas políticas internas e uma série de reorganizações divisionais que causaram perturbações na companhia garantiram que ele jamais recebesse a atenção de que necessitava para conquistar o sucesso, segundo Maeda.
A transformação do Airboard em Location Free TV --um aparelho que permitia assistir a canais de TV locais em qualquer lugar-- não bastou para convencer a Sony ou o mercado de que a ideia funcionaria. O projeto, que chegou a ser alardeado como tão revolucionário quanto o Walkman, foi inteiramente abandonado em 2008.
Maeda disse saber um ano antes que a Sony, sob o comando de Howard Stringer --que se tornou presidente-executivo em 2005--, abandonaria sua invenção, depois de receber um e-mail de seu chefe.
Pouco depois, Maeda deixou a empresa para a qual havia trabalhado desde 1979, quando a Sony lançou o Walkman e se tornou uma das empresas mais atraentes do mercado. Foi um período de glória que Stringer prometeu retomar, mas que Maeda, hoje executivo da fabricante de equipamentos audiovisuais Kenwood JVC, não acredita que volte.
"A velha guarda da Sony gostava do Airboard e do Location Free TV porque eram produtos novos, e era isso que a Sony fazia", disse Maeda. "O pessoal que comanda a Sony atualmente não tem experiência com essas coisas, porque não introduzem produtos novos há cerca de dez anos."
Assim, Maeda e outros ex-funcionários da Sony insistem que sua antiga empregadora enfrenta sérias dificuldades e que Stringer, 69, não tem mais muito tempo para cumprir sua promessa de reinventar a empresa.

É certo que Stringer pode alardear seu papel no desenvolvimento dos filmes 3D e a vitória do padrão Blu-ray, promovido pela Sony, na guerra dos formatos de vídeo de nova geração. Mas a companhia continua defasada em relação ao restante do setor da tecnologia, e seu talento para desenvolver inovações que atraiam o público praticamente se evaporou.
Um escândalo causado por ataques de hackers em abril expôs mais de 100 milhões de contas de redes on-line da empresa a possível roubo de dados e não só prejudicou sua imagem, como representa ameaça para a estratégia on-line que tem por objetivo unificar uma corporação diversificada. Os problemas podem prejudicar o plano de sucessão cuidadosamente preparado para quando Stringer se aposentar.
E não são apenas antigos executivos do grupo que veem a magnitude de seus problemas.
Vários importantes executivos de empresas norte-americanas de tecnologia, falando no Reuters Global Technology Summit, uma semana atrás, não mediram palavras quando questionados sobre a Sony. Robert Glaser, presidente do conselho da RealNetworks, companhia de software de mídia para a internet, comparou a tarefa de Stringer na reabilitação da Sony a "introduzir o capitalismo no bloco soviético depois de 50 anos de comunismo".
A erosão da posição da Sony serve como alerta do que pode acontecer a empresas de tecnologia que perdem seus líderes inovadores. Quando a Sony, comandada por seu co-fundador Akio Morita, lançou o Walkman, a empresa serviu de inspiração aos fundadores da Apple Computers, uma empresa minúscula que acabava de ser criada nos Estados Unidos.
"A Sony tinha os produtos mais incrivelmente bem planejados do mundo. Queríamos ser como eles desde o primeiro dia", disse Steve Wozniak, co-fundador da Apple, em entrevista recente à Reuters. Na época, "nenhuma outra empresa no mundo podia servir de modelo para os bens eletrônicos de consumo".
A Sony continuou a servir como referência ao longo dos anos 80, quando Morita transferiu o comando criativo ao excêntrico Norio Ohga, que havia estudado para ser cantor de ópera e chamou a atenção do fundador ao escrever para a empresa se queixando da qualidade de suas fitas cassete.
Mas esses sucessos resultaram em complacência. "Se você tivesse a marca Sony na camisa, tudo estava bem e, por isso, eles pararam de pensar", disse Maeda.
Em 1989, a expansão da economia japonesa começou a enfrentar obstáculos, e a Sony cometeu seu primeiro grande erro, ao adquirir o estúdio cinematográfico norte-americano Columbia Pictures, junto à Coca-Cola, por US$ 3,9 bilhões.
Cinco anos mais tarde, Ohga transferiu o comando a Nobuyuki Idei, e a Sony teve de registrar prejuízo de US$ 2,7 bilhões com a aquisição, depois de uma série de fracassos de bilheteria.
Em 2000, antes do lançamento do iPod, o valor de mercado da Sony era sete vezes maior que o da Apple. Hoje, equivale a apenas 9% do da empresa norte-americana, e os preços de suas ações pouco mudaram desde 1995.
Discutindo o futuro da empresa no jantar em Tóquio, Maeda, o criador do Airboard, demonstra pessimismo. "Não creio que a Sony possa mudar", afirmou. A menos, acrescentou, "que encontre um líder como Steve Jobs".

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