quinta-feira, 26 de maio de 2011

Zuckerberg, o oráculo, fala

Como pergunta o Twitter: "What°s happening?"
Saiba vendo a entrevista de Mark Zuckerberg, 27, fundador e controlador do Facebook, para Maurice Lévy, 69, CEO da Publicis, um dos maiores grupos de propaganda do mundo.
O vídeo da entrevista em sua íntegra está em www.eg8forum.com/en/videos/, o site oficial do e-G8, um fórum sobre o mundo digital que antecedeu o encontro de cúpula do G-8 na França.
A conversação opôs desde o começo, de forma brutal, o velho mundo da publicidade com o novo mundo da, do... ainda não sabemos, mas ver Zuckerberg ajuda a pensar.
A velha propaganda está tão ameaçada pelo Facebook. Basta sentir a reverência do venerável Lévy com Zuckerberg, que aos 27 anos é hoje o homem mais importante da propaganda sem nunca ter sido um homem da propaganda.
Para Zuckerberg, o oráculo, vivemos num mundo mais aberto e conectado onde as pessoas compartilharão cada vez mais coisas, opiniões, sentimentos com amigos e parentes. Compartilhar é a chave. Compartilhar com os amigos e a família é um desejo universal, diz, de todas as culturas e regiões de um mundo onde quase 10% da população estão conectados pelo Facebook. Essa conexão permite que as pessoas tenham voz e sejam ouvidas, o que forma uma apreciação melhor das coisas e ao final permite que os bons prevaleçam, tornando o mundo muito melhor.
Zuckerberg diz ainda que o Facebook já mudou a indústria de games e mudará nada menos que todas as mídias. Como o consumo de mídia é naturalmente compartilhado, ele migrará para plataformas sociais como a do Facebook: filmes, músicas, livros, notícias, tudo será consumido em plataformas de relacionamentos sociais como o Facebook.
Compartilho a seguir, por tópicos, algumas ideias do oráculo de Palo Alto, mas você precisa vê-lo disparando seus pensamentos com a velocidade de um superchip para entendê-los melhor.
*
REALIDADE
O Facebook está baseado na realidade. As pessoas no Facebook são o que elas são no seu dia a dia. Há valor em sites onde se pode assumir identidades falsas, mas o valor do Facebook vem do fato de mostrar a realidade das pessoas. A opinião dada no Facebook tem valor porque ela está atrelada a uma pessoa real, que responde por suas opiniões perante seus próximos.
PROPAGANDA
"Eu estou no ramo da propaganda, é assim que ganhamos dinheiro", diz Zuckerberg como se isso fosse um pequeno detalhe do que faz.
"O meu também", retruca Lévy.
"Lados diferentes da, lados diferentes da...", balbucia Zuckerberg.
Lévy corta: "Eu sei, eu sei, estamos agora ficando muito pequenos comparados a você."
Zuckerman conta conversa com produtor de cinema que lhe revelou em tom de queixa que agora não se pode mais fazer dinheiro com filmes ruins. Antes, com um bom marketing, você garantia uma boa estreia e duas, três semanas de exibição do seu filme ruim. Agora, no primeiro dia de exibição, ou muitas vezes antes mesmo da estreia, já há uma opinião formada sobre o filme na web. Se for ruim, não importa o marketing mais eficiente, ninguém vai, lamentou o produtor. "Mas essa é a beleza da coisa", enfatiza Zuckerman. "Bons filmes devem ser capazes de fazer mais dinheiro, filmes ruins, não". A propaganda não vai mais conseguir vender produtos se eles forem ruins. Ao menos não com a mesma facilidade.
"Um mundo onde melhores produtos e melhores ideias prevaleçam, é isso que estamos construindo", diz.
Zuckerberg numa hora faz pergunta retórica a Lévy como se ainda precisasse provar sua superioridade: o que é mais eficiente, a propaganda que você mostra às pessoas dos produtos de uma empresa ou eu dizendo aos meus amigos que aquele produto é bom? Lévy teve de concordar com ele.
PRIVACIDADE
Pessoas escolhem seus próprios limites de exposição pública: alguns compartilham muito, outros preferem ver o que os outros compartilham. Cada vez vão achar um balanço novo entre o que mostrar e não mostrar. E isso está evoluindo muito rapidamente. As pessoas estão começando a entender melhor o que é compartilhar e tendem a revelar mais de si depois desse entendimento.
O BEM PREVALECE
Graças à internet, que permite compartilhar tudo com todos, as opiniões corretas prevalecerão, os melhores produtos prevalecerão, e o Facebook é prova disso.
Zuckerberg conta que quando o site de relacionamento MySpace tinha 100 milhões de usuários e o Facebook, 10 milhões, o Yahoo ofereceu a ele U$ 1 bilhão pelo seu site. Aos 22 anos, Zuckerberg disse não a um cheque de US$ 1 bilhão, e todos acharam que ele era louco (ele é louco!). Mas ele estava seguro que tinha um produto melhor que o MySpace e, demonstrando sua tese, o Facebook prevaleceu. E vale hoje, com seus mais de 500 milhões de usuários, sei lá, US$ 50 bilhões foi o última estimativa, mas velha de meses.
TENDÊNCIAS DA WEB
A capacidade de compartilhar qualquer coisa com quem quiser é a grande tendência da web hoje e ainda por muito tempo. A indústria dos games viu como isso é transformador. As empresas que passaram a desenvolver games para redes sociais ultrapassaram rapidamente as que fazem games para consoles individuais. Os games são atividades muito sociais, assim como as mídias em geral, que serão os próximos passos da dominação do Facebook e das redes sociais.
Compartilhar o que você compra (dados do cartão de crédito) pode ser muito interessante para seus amigos. Compartilhar a sua localização já é uma tendência muito forte, as pessoas querem saber quem está por perto delas.
Essa tendência dominante de compartilhar ainda está mais perto do começo do que do fim. Ainda vai mudar e evoluir muito.
MÍDIA DOMINADA
Músicas, filmes, TV, notícias, livros, todas as coisas que gostamos de compartilhar e conversar com os amigos serão dominadas por empresas operando em plataformas de redes de relacionamento social como o Facebook. Todas essas mídias mudarão completamente em até cinco anos (fala como se isso fosse um prazo longo). O Facebook não será uma empresa de música ou das outras mídias, mas elas rodarão na plataforma do site.
DESIGN SOCIAL
Lévy faz finalmente uma pergunta elogiada por Zuckerberg: "O que é a parte mais importante do seu DNA, a da tecnologia ou a do social?"
Zuckerman diz que ambas, que as pessoas e empresas podem compreender só uma ou duas coisas muito bem. Lembra que estudou tecnologia e psicologia na universidade e que o Facebook é isso: a tecnologia e o social.
Os funcionários do Facebook usam o termo "social design" para descrever o que fazem. Criar e estruturar coisas ligadas às nossas experiências sociais é diferente de outros designs. Por exemplo, como construir sua lista de amigos no Facebook. É um design muito diferente do habitual. Dizer não a um pedido de amigo pode ser muito mais estressante do que recusar um produto, há uma outra pessoa do outro lado. Por isso o Facebook trocou o "aceito" ou "não aceito" um amigo por "aceito" ou "não aceito agora", o que é um não aceito disfarçado, mas que faz as pessoas se sentirem melhor ao rejeitar o pedido. Isso é "social design".
O PODER DAS FACES
O Facebook tem imagens dos rostos das pessoas em toda parte. "O que aprendi estudando psicologia", afirma, "é que as pessoas tem parte grande do cérebro que serve só para identificar rostos, aprende-se muito olhando os rostos das pessoas".
REVOLUÇÕES NO MUNDO ÁRABE
As revoltas árabes são sintomas de algo maior, as pessoas agora podem se comunicar e compartilhar suas opiniões, isso não e só Facebook, mas é a internet. Quando as pessoas conseguem expressar suas opiniões, coisas muito boas acontecem só porque as vozes das pessoas são mais ouvidas.
Seria muito arrogante a qualquer empresa de tecnologia reivindicar papel relevante nas revoltas árabes, diz. O Facebook não foi nem necessário nem suficiente para as revoltas, mas sim o sentimento das pessoas que queriam mudanças em seus países.
REBOBINANDO O MUNDO
"Estamos rebobinando o mundo", resume. Primeiro as pessoas começaram a compartilhar suas coisas, depois as empresas entraram na onda, depois virá a política, a relação com os governantes e os governos é a próxima fronteira nos sites de relacionamento. Páginas dos líderes políticos no Facebook interagem com as redes sociais, tornam essa troca pela primeira vez muito próxima, relevante e abrangente. Mas não é o Facebook, é a internet, lembra sempre.
Resumi aqui alguns pensamentos de Zuckerberg. Repito, veja a entrevista toda. E depois compartilhe com seus amigos. O bem prevalecerá. O oráculo falou. Amém.

Nenhum comentário: