Após a divulgação de 91 mil documentos secretos do Exército dos Estados
Unidos sobre a guerra no Afeganistão, o fundador do site WikiLeaks,
Julian Assange, prometeu nesta segunda-feira que irá publicar mais 15
mil papeis contendo dados inéditos sobre o conflito.
O site Wikileaks, que divulgou os documentos, é uma espécie de Wikipedia
de documentos vazados. Os papeis trariam inclusive evidências de crimes
de guerra.
Em Londres, Assange disse aos jornalistas que o que já foi divulgado
sobre o vazamento é "apenas o começo", e que cerca de 15 mil documentos
ainda não foram publicados no site.
Ele disse ainda que "milhares" de ações americanas no Afeganistão
poderiam ser investigadas devido a indícios de crimes de guerra, mas que
as acusações teriam que ser comprovadas na Justiça.
Assange disse ainda que há evidências de acobertamento de mortes de
civis, e apontou para um "suspeito" número alto de mortes que as forças
dos EUA atribuem a balas perdidas.
Os documentos cobrem alguns aspectos conhecidos dos nove anos de
conflito: operações das forças especiais dos EUA contra insurgentes sem
julgamento, afegãos mortos por acidentes e a indignação de autoridades
americanas devido à suposta cooperação do serviço de inteligência
paquistanês com grupos insurgentes que atuam no Afeganistão.
Os papéis também descrevem incidentes desconhecidos anteriormente sobre
mortos de civis e operações secretas contra líderes do Taleban.
REVELAÇÕES
Entre as informações que vieram a público, os documentos afirmam que
centenas de civis foram mortos sem conhecimento público e oficial pelas
tropas de coalizão no Afeganistão, planos secretos para exterminar
líderes extremistas do Taleban e Al Qaeda e a discussão do suposto
envolvimento de Irã e Paquistão no apoio a insurgentes eram temas
recorrentes aos líderes militares.
Os documentos informam que pelo menos 195 civis foram mortos e outros
174, feridos. O número, contudo, pode ser subestimado porque, em muitas
missões, as tropas omitem esse tipo de acontecimento.
Erros que ocasionaram morte de civis também incluem o dia em que
soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças em 2008,
matando 8. Uma ronda similar feita pelas tropas norte-americanas matou
15 passageiros.
Os documentos também apontam o extermínio de uma vila durante uma festa
de casamento, incluindo uma mulher grávida, em um aparente ataque de
vingança.
Os EUA também acobertaram que o Taleban adquiriu mísseis aéreos, e que
escondeu um massacre perpetrado pelo grupo terrorista devido ao uso de
bombas, que dizimaram mais de 2.000 civis até então.
As tropas no Afeganistão mantinham ainda uma unidade de "caçadores" para "matar ou capturar" líderes do Taleban sem julgamento.
CRÍTICAS
A Casa Branca, o Reino Unido e o Paquistão condenaram o vazamento dos
documentos confidenciais, um dos maiores já registrados na história
militar.
O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones, disse que a
divulgação "coloca as vidas de americanos e seus aliados em risco".
Em um comunicado, ele ressaltou que os documentos descrevem um período
de janeiro de 2004 a dezembro de 2009, em grande parte durante o governo
de George W. Bush. Jones lembrou que tal período é anterior ao anúncio
de uma nova estratégia por Barack Obama.
O embaixador do Paquistão, Husain Haqqani, disse que os documentos "não
refletem a atual realidade do conflito", no qual os EUA "buscam derrotar
a Al Qaeda, o Taleban e seus aliados".
REAÇÃO AFEGÃ
O governo afegão disse estar "chocado" com a proporção do vazamento, mas
afirmou que grande parte das informações "não são novas".
Em entrevista coletiva em Cabul, o principal porta-voz presidencial,
Wahid Omar, disse que o presidente do país, Hamid Karzai, se mostrou
"surpreso" pelos mais de 90 mil documentos que vazaram da organização
Wikileaks, mas não por seu conteúdo, já que o governo afegão "reiterou
sua preocupação há muito tempo" pelos assuntos abordados.
O governo expressou o desejo de que o vazamento sirva para
"conscientizar ainda mais" as potências estrangeiras sobre dois
problemas sobre os quais o país vem insistindo: a morte de civis e os
refúgios de terroristas no Paquistão.
Sobre o papel desempenhado pela espionagem paquistanesa (ISI) na guerra
afegã, Omar disse que desde 2006, quando aumentaram os ataques
terroristas de grande envergadura, o governo do Afeganistão já avisou
que o êxito militar no país dependia das áreas tribais paquistanesas.
"Os documentos vazados que lemos até agora nos ajudarão, esperamos, a
entender o papel desses fenômenos na guerra do Afeganistão", concluiu o
porta-voz.
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