sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

China considera discurso de Hillary contra censura virtual prejudicial para diplomacia

O discurso pronunciado nesta quinta-feira (21) pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, sobre a liberdade de expressão na internet é "prejudicial" para as relações entre China e Estados Unidos, considerou nesta sexta-feira (22) o ministério chinês das Relações Exteriores.
O discurso de Hillary também defendeu a empresa americana Google, que ameaçou sair do país por problemas com censura e segurança.


"Os Estados Unidos criticaram as políticas chinesas de administração da internet e insinuaram que a China restringe a liberdade na internet", disse o porta-voz do ministério, Ma Zhaoxu.
"Nos opomos firmemente a tais declarações e atos, que contradizem os fatos e são prejudiciais para as relações entre EUA e China", ressaltou.
Mas o porta-voz defendeu que as duas partes "manejem apropriadamente as desavenças e os assuntos delicados, protegendo o desenvolvimento saudável e firme" dos laços bilaterais.
"Desenvolvimento da web chinesa"
Ma defendeu as políticas chinesas promovendo a web, dizendo que a nação obteve mais de 380 milhões de usuários, 3,6 milhões de sites e 180 milhões de blogs.
"A internet chinesa é aberta e a China é o país que testemunha o mais ativo desenvolvimento da internet", disse ele. Ele acrescentou que o país a "regulou" de acordo com a lei e para manter suas "condições nacionais e tradições culturais".
O controle da internet é considerada uma questão crucial de segurança nacional da China, e não se espera que o país ofereça quaisquer concessões neste sentido. O país asiático promove o uso da internet para o comércio, mas censura pesadamente conteúdos relacionados a pornografia e questões social ou politicamente "subversivas".
A polícia virtual chinesa patrulha a internet buscando conteúdos delicados, e muitos sites de notícias e redes sociais estrangeiros, como Twitter, Facebook e YouTube, são permanentemente bloqueados.


Discurso de Hillary
Hillary instou na quinta-feira as empresas a recusar a censura, no momento em que a Google acusa o país asiático de estar por trás dos ataques tecnológicos lançados contra a empresa norte-americana.
Ela deixou claro que os EUA destinarão "os recursos diplomáticos, econômicos e tecnológicos necessários para expandir estas liberdades".
A chefe da diplomacia americana afirmou que houve em 2009 "um crescimento nas ameaças ao livre fluxo de informação", apontando China, Tunísia, Egito, Vietnã e Uzbequistão, entre outros países, como locais onde este problema ocorre.
"Aqueles que interrompem o livre fluxo de informação em nossa sociedade ou em qualquer outra representam uma ameaça para nossa economia, nosso governo e nossa sociedade civil", alertou a secretária de Estado.
A secretária de Estado também dissse que os piratas virtuais da China que atacaram o Google "devem enfrentar as consequências".
"Sem vínculo"
Ontem, o governo chinês havia tentado desvincular a polêmica que mantém com a empresa Google das relações diplomáticas entre Pequim e Washington.
"O caso do Google não deve ser vinculado com as relações entre dois governos e países. Se isso acontece, o tema é superestimado", assegurou em entrevista coletiva o vice-ministro de Assuntos Exteriores da China para a América do Norte e Oceania, He Yafei.
He também declarou que, nas situações em que as empresas estrangeiras encontrem dificuldades para suas operações na China, devem buscar a solução de acordo com as leis do país.
"O governo chinês está disposto a ajudá-las a resolver os problemas pertinentes", afirmou.
As declarações do diplomata chinês foram feitas horas antes do discurso de Hillary em defesa da liberdade na internet.
Saída?
Na semana passada, o Google ameaçou fechar sua versão chinesa após descobrir que várias contas de e-mail do Gmail de jornalistas, empresas e dissidentes políticos chineses tinham sido pirateadas.
A companhia decidiu rever sua estratégia na China, onde está presente há quatro anos em versão local, ao entender que os objetivos que a levaram ao país não estão sendo atingidos.
O assunto ameaça somar-se à lista de tensões que mantêm abertas os EUA e a China, que incluem temas como os direitos humanos, a situação do Tibete e Taiwan e a depreciação da moeda chinesa.

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