Tão próximos no mundo virtual, tão distantes na vida real.
A premissa, que vem sendo discutida na teoria com o filme "A Rede
Social" e em textos como "Quero ficar na geração 1.0", publicado na
edição deste mês da revista "Piauí", foi aplicada na prática pelo
designer Julio Rafael Rocha, 31, nas ruas de São Paulo.
Ele usa o site de geolocalização Foursquare (grosso modo, a página
mescla rede social e um tipo de game no qual você dá a sua localização
por intermédio de um satélite GPS) para indicar dentro do próprio
serviço o seu novo projeto de arte urbana (e crítica a um estilo de vida
bastante contemporâneo), cujo nome é Mayor.
A palavra, que significa "prefeito" em inglês, é um caráter que
determinado usuário ganha no Foursquare, a partir do momento em que
atualiza (ou dá "check-in", no jargão do site) com bastante intensidade
em uma determinada área ou local.
Na vida real, o trabalho consiste em um estêncil com uma coroa (símbolo
do Mayor no site) que é espalhada por lugares da cidade --caso do famoso
grafite da banda Ramones, na Vila Madalena (veja a foto abaixo). A vida
real se estende, então, ao mundo virtual --as atualizações de
localização, com as fotos do estêncil, são colocadas na internet.
"Enquanto todo mundo dá check-in [atualização] no Foursquare, eu dou check-in no mundo real. Desconectem e vivam a vida real", escreveu ele, em seu blog.
O trabalho foi categorizado pelo "New York Observer" como "invenção do grafite no Foursquare".
DEDO NA FERIDA 2.0
Mais que isso, trata-se de uma crítica ao excesso de check-ins,
atualizações e tuítes nos quais estamos embuídos na sociedade 2.0.
Em apenas um mês de uso do Foursquare, o próprio designer já fez mais de
cem atualizações do status de localização. O frenético hábito, então,
foi criticado por alguém próximo.
"Começou com um amigo meu, que escreveu uma crônica
inspirada em mim. Dizia, basicamente, que quanto mais conectados, mais
solitários nós somos. Quis passar isso de um jeito às pessoas", disse
Rocha à Folha.
A mensagem é direta e franca para a geração da internet, que vive e cria dependência --por vezes, desnecessária-- dela.
"Você não precisa estar conectado a toda hora. É uma crítica ao
Foursquare também, e que foi reproduzida por eles próprios. Existe essa
necessidade de fama, de ser reconhecido, de ser o Mayor, o prefeito, de
um determinado lugar", aponta ele.
"A internet ajuda, sim. Mas as pessoas têm que usá-la de uma maneira que
não interfira tanto nos relacionamentos fora dela. Às vezes, eu me
sinto assim. É uma autocrítica."
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