Qual a razão para um executivo deixar o comando de uma empresa líder do
mercado e com lucro cada vez maior? Essa é a pergunta que se faz desde
quinta-feira, quando Eric Schmidt anunciou que não vai ser mais o
presidente-executivo do Google.
A resposta é a decisão da empresa de enfrentar a censura chinesa no ano passado, de acordo com a revista "The New Yorker".
Segundo a publicação, a relação entre Schmidt e os fundadores do Google,
Sergey Brin e Larry Page (que vai substitui-lo no cargo a partir de
abril), ficou estremecida depois que o site optou em março do ano
passado por encerrar suas operações na China e transferir as buscas dos
internautas para seu domínio em Hong Kong.
Para Schmidt, 55, que está no Google desde 2001, o mais sensato era permanecer na China, com o seu enorme mercado consumidor.
Vencido na decisão pelos fundadores, o executivo perdeu parte do foco e da energia, diz a revista.
Ao mesmo tempo, a empresa enfrenta a pressão de perder espaço para o
Facebook. Ainda que seja líder no mercado de buscas, o Google não
conseguiu emplacar nenhum projeto de rede social.
O Wave foi um fracasso, o Buzz (até agora ao menos) não conseguiu
emplacar, e o Orkut está praticamente restrito ao Brasil, já que nem
mais é líder na Índia.
E as pressões de entidades privadas e governos sobre invasão de
privacidade e direitos autorais têm aumentado, manchando o slogan
informal da empresa: "Don't Be Evil [não seja mau]".
Com pressões de todos os lados (mas especialmente de Page e Brin),
Schmidt já estaria sem forças para lutar. A decisão de ficar como
presidente do conselho seria algo apenas temporário: ele ficaria somente
um ano no cargo e deixaria a empresa.
Dinheiro não deve ser problema para o executivo. As ações que têm do
Google estão avaliadas em cerca de US$ 5,8 bilhões. Na quinta, quando
anunciou que vai deixar de ser presidente-executivo, ele também entrou
com documentação para vender uma fatia que vale atualmente pouco mais de
US$ 330 milhões.
DESAFIO
Para Page, 37, a decisão de substituir Schmidt nas decisões diárias será
um desafio. O ainda presidente-executivo gosta de brincar que sua
função na companhia é "supervisão de um adulto".
A comparação mais frequente é com Steve Jobs, o presidente-executivo da
Apple, de quem Page é admirador e com quem teria semelhanças, como a
obstinação.
Jobs foi capaz de reverter os rumos da Apple após voltar à empresa em 1996, após 12 anos fora.
Outros fundadores de companhias de tecnologia, porém, não tiveram o
mesmo sucesso. Jerry Yang ficou no comando do Yahoo! de 2007 a 2009, mas
a empresa só encolheu no período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário